.

sábado, 29 de janeiro de 2011

A busca pela visibilidade.






Nenhuma forma de estigmatização irá estabelecer parâmetros a uma sociedade que “geme” ao parir os filhos de sua própria insensatez. Olhe para os lados e os verão correndo como “lobos uivantes” nas madrugadas, buscando nas possibilidades de mais uma pedra, entorpecer a dor que o viver transformou-se para eles. Um desses jovens “lobos uivantes” me disse, às duas horas da manhã, ser a sua vida uma verdadeira frustração, pois, como ele mesmo disse: “nascer foi o primeiro castigo”, sendo os outros, uma sucessão de desgraças; ainda completou: “Sou invisível”!

Isso pode não causar nenhuma reflexão social, afinal, parte da sociedade está imersa e completamente comprometida em comprar um pouquinho de “púrpura”, com seus milagrosos dinheirinhos de plástico, para que quebre a invisibilidade e revele-se, numa performance de “big brother”, sendo essa também uma forma de dependência, pois, assim como as substâncias psicoativas (“drogas”), o consumismo e o rito obsessivo compulsivo à estética, fazem grandes sofredores e causam enormes prejuízos, sendo esses, desencadeadores de novas formas de sofrimento nessa pós-contemporaneidade de tão infelizes novidades, que traz, na ambivalência das propostas do liberalismo, uma das mais cruéis formas em tornar-se refém das regras e valores desse rito sado-masoquista.

Estamos na fase do “dane-se como quiser, mas o faça com estilo e seja politicamente, ecologicamente, religiosamente e eticamente perfeito”. Pague com suas vidas e com suas histórias aos senhores titulares dessa grande farsa contemporânea que é o discurso da ética, e sejam seus mais novos clientes em busca das pílulas da felicidade, das cápsulas do prazer, ou, de outras coisas que os façam menos invisíveis.

Assim como a reconhecida invisibilidade do jovem que tive o privilégio em conversar numa dessas madrugas, quando me abordou para pedir um sanduiche, podemos observar que muitos estão numa mesma estrada, apenas percorrendo diferentes caminhos, entretanto, ao final, irão se deparar com o horror daquilo em que permitiram transformar suas emoções, negligenciando seus sentimentos e renunciando suas histórias diante da inútil tentativa em aplacar os mais diversos conteúdos e conflitos que, como bons vizinhos, muitas vezes, batem à nossa porta pedindo-nos uma xícara de açúcar, apenas para nos anunciar, inconscientemente, o amargo de sua existência, gritar por socorro e pedir atenção, tornando-se assim, por um pequeno instante, visível em seu flagelo emocional, anunciando-nos seu auto-abandono e solicitando apenas nossa audição, pois, muitos já não cabem em si por tantas palavras, tantas promessas e tantas esperanças não realizadas.

Quantos são os que, num instante insuportável de suas dores mais intensas, deparam- se com o visível horror em que se transformaram e dão cabo as suas vidas?

Estamos num momento onde, somente depois das grandes perdas, que fazemo-nos de estarrecidos, assumindo nossa “grande comoção”, a dor que reservamos diante da projeção daquilo que somos e que está impresso no outro, diante daquilo que negamos e não aceitamos falar, daquilo que, se fosse revisto e desconstruído, traria de volta a possibilidade em reconstruirmos o que passamos a definir como felicidade, não nos importando com as definições, conceitos e valores que são convencionalmente estabelecidos, rompendo a necessidade em ser visto, por quem quer que seja, mas, tendo o prazer em ser notado e vivido em si sem ter que abandonar-se ou aliar-se às práticas que não conseguem sublimar as demandas internas.

Superar aflições não consiste em afastar-se das mesmas, mas sim, fazer um grande mergulho no oceano psíquico, conhecendo cada detalhe, cada componente que o formou. É desconstruir o mito de um mundo perfeito, compreendendo que, perfeição, nada mais é que, um recurso criado mediante as expectativas em construir um “dique” entre o oceano revolto de nossas angústias e os áridos territórios de nossa solidão, entre o reconhecimento da intencionalidade da fala e os mecanismos que adotamos para nos defender.

Chega um tempo em que, depois de tantos anos de invisibilidade, resignificamos as incertezas, transformando-as nas conquistas do hoje, compreendendo que o futuro se define pela força de nossas escolhas, superando assim, o medo das nossas dúvidas frente às intempéries, pois, compreendemos que a existência não renasce do nada, mas, apenas de cada um de nós.

Marcus Antonio Britto de Fleury Junior.
Psicólogo e coordenador do programa de prevenção a depressão e do grupo de estudos Michel Foucault.
ateliedeinteligencia@gmai.com

sábado, 22 de janeiro de 2011

Atentado contra a cultura e história judaica





Quando a história passa a ser modificada conforme o interesse das instituições, compreendemos que a mesma nada mais é, senão, um grande e hipócrita acordo que visa efetivar as mais medíocres intenções, sendo tais, dotadas de resoluções secretas, cujos interesses amparam-se nos objetivos que desejam, de forma sutil e completamente dissimulada, porém, elevadamente tirana, enfraquecer as identidades das culturas, para que, num golpe, após tantos outros, possam tentar justificar o injustificável, sendo esse, o argumento daqueles que engendram sob a superfície das sutis aparências as mais cruéis intenções.

Assim, buscando descaracterizar a cultura Judaica, numa baixa e medíocre interpretação, a Unesco, que deveria ser responsável pelo Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, pretende conceder ao Islamismo, que surgiu 600 anos D.C, o domínio sobre o Túmulo de Rachel, jogando sobre 5771 anos de história Hebraica, todo o ódio e intolerância anti-semita que hoje traz a ascensão de uma nova política de perseguição a cultura, bem como, a história do Judaísmo, colocando os interesses, todos eles, em consonância aos objetivos revisionistas propostos por Ahmadinejad, cuja fala, vocifera o hálito fétido, próprio dos canalhas, ao negar o abominável holocausto implantado por seu companheiro de psicopatia Adolf Hitler, que vitimou 6 milhões de Judeus.

A história desse patrimônio pertencente à cultura Judaica teve início diante do confronto entre a dor e da alegria, quando Rachel, ainda muito jovem, durante o trabalho de parto, em plena caminhada em direção a Hevron, fora recolhida pelo Eterno, deixando recém-nascido Benjamim e Yossef (José), com sete anos de idade, além dos outros 10 filhos de seu marido. Tal fato se deu no ano de 1553 A.E.C.(antes da era cristã), em uma estrada deserta, nas proximidades de Bethlehem(Belém), sendo erigido nessa data, em meio as lágrimas de Yaacov(Jacó) e seus filhos que se compadeciam diante da grande tristeza em ver o pai, ali, naquele momento, enterrar aquela que era sua idealização de amor.

Nesse instante, cada um de seus filhos, com exceção de Benjamim, que havia acabado de nascer, colocou sobre o túmulo uma pedra sobre a outra, sendo a última, colocado pelo Patriarca Yaacov(Jacó).

Yacoov, ali enterrara a terceira motivado por uma revelação que tivera, sendo que, após mais de mil anos, precisamente em 423 AED (antes da era cristã), pelo mesmo caminho passariam judeus e seus descendentes na mais profunda angústia, levados cativos para serem escravos em Babilônia.

A caminho do exílio, justamente pela estrada onde estava enterrada a matriarca, (segundo o profeta Jeremias, que viveu essa dolorosa travessia rumo a Babilônia), D-US escutou o choro e viu as lágrimas de Rachel, que pranteava pelos filhos de Israel que caminhavam em direção a uma das etapas de maior angústia para o povo Judeu. Então, segundo o profeta, D-US disse: “Refreia a tua voz de chorar, afasta teus olhos das lágrimas, pois, tua obra tem sua recompensa e teus filhos retornarão a sua terra”. Anos mais tarde, voltaram todos os filhos de Israel do cativeiro (Jr,31:14).
A primeira pessoa a fazer orações no túmulo da matriarca Rachel foi justamente seu filho Yoosef(José), aos 16 anos de idade, quando foi vendido por seus irmãos mais velhos para ser escravo no Egito. Quando estava sendo levado pelos que o compraram, ele conseguiu desvencilhar-se de seus captores até o túmulo da mãe e gritou por ela: “Mãe, minha mãe, que me deu à luz, acorde, levante e veja meu sofrimento.” “Não temas,” ele ouviu a mãe responder. “Vá com eles, e D’us estará com você”.
Até 1840, o túmulo da matriarca Rachel era apoiado por quatro vigas e dispunha de uma pequena cúpula, até que em 1841, Sir. Moses Montefiore e sua esposa acrescentaram paredes à cúpula, e uma ampla sala que pudesse abrigar ali os visitantes.

Em 1948, os judeus foram proibidos pelos jordanianos que assumiram o controle da área, em não mais visitar o túmulo da matriarca, e através de uma estratégia em cercear por definitivo o direito dos Judeus quanto a viver e compartilhar com seus descendentes sua história e seus tradições, foi construído pelos árabes ao redor do túmulo um cemitério, e Bethlehem(Belém) se expandiu tanto, que o patrimônio ficou na parte central da cidade.

Em 1967, após a vitória israelense, na guerra dos Seis Dias, em 1967, o túmulo foi reaberto aos filhos de Rachel e por mais de trinta anos, até a primeira intifada, os Judeus puderam, livre e tranquilamente, freqüentar o Patrimônio Histórico Judaíco. Entretanto, em 1996, após a primeira intifada, cuja insegurança impôs a todos, pela violência ali praticada, que Israel construísse duas grandes muralhas, com duas torres em volta do túmulo, com duas torres com guaritas, objetivando proteger os que ali fazem suas visitas e orações dos tiros que outrora eram disparados em direção aos que buscavam, não apenas a visitação histórica, mas a inspiração na grande e abnegada mulher aguerrida nos propósitos do amor, da família, da transformação e do milagre, afinal, era estéril e no exercício da fé conseguiu engravidar, gerando Yoosef e Benjamim (O filho da felicidade).

Hoje, depois de 5771 anos, mais uma vez estamos presenciando a Unesco, num golpe baixo contra a Cultura Judaica, negociar o que não pertence a instituições, mas sim, às famílias e a todos os judeus, incitando o ódio e acirrando a difícil relação entre judeus e árabes, entretanto, é necessário lembrar que a Mesquita de Al- Aqsa, está na cidade de Jerusalém, onde nenhum Islâmico é privado em fazer suas orações, nem tampouco, é reivindicada como patrimônio Judaico.

A Unesco e suas conclusões tendenciosas poderão gerar um grave conflito, além disso, toda tentativa em desconstruir a identidade Judaica sempre fracassou, pois, seja onde for, judeus e Bnei Anussins sempre estarão prontos para manter os aspectos Culturais e Históricos de um povo, cuja marca é a resistência, a fé e a felicidade.
Marcus Antonio Britto de Fleury Junior é psicólogo, Bnei Anussin, Coordenador do Programa de prevenção a depressão e do Grupo de estudos Michel Foucault, do Ateliê de Inteligência. (ateliedeinteligencia@gmail.com)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Eterno, apenas enquanto dure.




Não há dor, por mais intensa, que não se modifique frente a novas possibilidades a partir do momento que alguém se estabelece como autor de sua história e seu próprio objeto de amor, destituindo de quem quer que seja, a responsabilidade quanto ao encontro das referências que são pessoais, afinal, ninguém tem tanta importância assim, que o faça anular-se em sua própria trajetória.
A tragédia apresenta-se como cumprimento aos que se anulam nas engendradas crenças vazias de um mundo perfeito e absoluto, e, o “amor”, nada mais é que, uma relação de vaidades, onde o sentimento deslocado, apenas sustenta “castelos de areia” dos que ficaram reféns de si mesmos nas torres com vista para a imensidão atormentadora da solidão, ou então, retidos nas próprias renúncias, nos calabouços da existência, acorrentados em si mesmos, por considerar o outro como caminho ou direção que os aproxime de algo que é pessoal, das conquistas próprias a cada um, entretanto, transferidas tiranamente, por necessitar de responsáveis por algo que nada mais é, senão, próprio às escolhas elaboradas, porém renunciadas em si.
Sustentar necessidades emocionais não satisfeitas, sejam elas quais forem, é um papel próprio a cada um, não sendo ninguém responsável em suprir expectativas do outro, afinal, sentimento algum revela-se com propostas messiânicas, nem tampouco, como agente transformador de quem quer que seja, afinal, ninguém é tão perfeito assim que consiga transformar as pessoas através do “amor” e, se assim o desejar, nada mais fará senão dissecar as intencionalidades daquilo que é elaborado revelando o objetivo em escravizar, prender, oprimir e exigir de alguém aquilo que não possui em si mesmo, pois, o afastamento daquilo que somos revela a personalidade castradora que se estrutura diante do que não consegue ter.
A dependência emocional revela-se então como uma das mais perversas formas de profundo desamor, desconstituindo a salutar possibilidade em fazer da história pessoal um palco repleto de transformações, onde, as perdas, nada mais são que, aspectos extremamente necessários para que possamos compreender os ganhos quanto a recuperação daquilo abandonamos quando anulamos parte de nossa identidade, designando ao outro responsabilidades pessoais, em nos reelaborarmos como autores da nossa história, independente da mesma haver num dado momento assumido o desencanto quanto ao que cada um faz a si mesmo nas trajetórias das escolhas que nos permitimos viver.
Ninguém, além de você, poderá dar aquilo que mais deseja, entretanto, relacionar-se é assumir riscos, reconhecendo que não existe nada tão instável quanto os sentimentos, afinal, cada qual estabelece aspectos próprios, objetivando cumprir determinadas expectativas dentro do contexto em que se vive. O outro, onde investimos os nossos sentimentos, revela que o amor é transitório, e isso o poeta compreendeu ensinando-nos que seja eterno apenas enquanto dure, pois, passando disso, desencadeia o inverso do que se propõe os sentimentos, intensificando a dor que trazemos de outras condições ou etapas anteriores, sempre nos renunciando como nossas próprias e reais necessidades pessoais.

Marcus Antonio Britto de Fleury Junior
Psicólogo e Coordenador do Programa de Prevenção a Depressão do Ateliê de Inteligência e do Grupo de estudos Michel Foucault

Anorexia e Bulimia



Em relação à anorexia e bulimia, temos nos corpos a tentativa de purificação. O tema sentimento de culpa volta sempre à tona; então, nesses casos, as pessoas anoréxicas, na tentativa inconsciente de livrarem-se daquilo que não conseguem lidar, impõem a si um ritual muito próximo dos “jejuns religiosos”, esses que colocam o indivíduo em contato com o “sagrado”, sendo esse, ele mesmo, estabelecendo , dessa forma, a aproximação com a purificação.
Nos transtornos alimentares, temos uma multidiversidade de aspectos que jamais devem ser analisados separadamente, afinal, a tentativa em dicotomizar a existência e o Ser como seu representante têm produzido especificidade sobre a universalidade. Então, devemos considerar os aspectos biológicos, psicológicos e socio-culturais, não menosprezando nenhuma das vivências trazidas pelo indivíduo.
Os aspectos pulsionais (inconscientes), em contraposição ao simbólico (mundo externo constituído por normas, valores e tantos outros conceitos), desencadearão formas quanto a interpretação da imagem que se depara em frente ao espelho, assim, altera-se a imagem que se vê, pela qual necessita enxergar, estabelecendo assim, os sintomas manifestos, entre eles, o desejo de autodestruição física e emocional.
Mas então, seria a vontade de autodestruição física e emocional dos indivíduos anoréxicos o grande objetivo incauto?
Vemos, na ocidentalização, a acentuação da apologia ao belo, como a “magreza” anoréxica, apresentada por modelos famosas endinheiradas, mas, desconhecemos o lado mórbido que esconde corpos com quase 1:80mt, pesando 35 kilos e, se necessário for, continuam a busca do contato consigo mesma através do impulso de morte, afinal, morrer não é a dificuldade, mas, existir sim, tornando-se uma tarefa extremamente desagradável para essas pessoas pela impossibilidade de resignificação daquilo que foi massacrado em seus impulsos primários, implícito por conteúdos fragmentados que, como elas deixam a interpretação, como se estivessem muito bem organizados, “na mais plena forma”.
Daí há o evidenciamento do transtorno disfórmico. A forma nunca corresponde às expectativas requeridas conscientemente, mas aproxima-se da dor e da tentativa de oferta de si mesmo como holocausto para livrarem-se daquilo que não suportam. Nos espelhos, vêem seus horrores e não seus corpos, portanto, jamais se satisfazem com a imagem que têm de si.
Na atualidade, tais quadros, onde os transtornos alimentares e dismórficos tornam-se cada dia mais comuns, porém, para os padrões das organizações de saúde pública, ainda não satisfazem os requisitos para serem considerados epidemias. Sabemos muitíssimo bem que, somente depois que os números foram de grande alarde, com elevado impacto sobre as relações de poder sobre a produção e consumo, e que estado irá entrar no contexto na tentativa em reverter tais quadros. Assim o foi com tantos outros transtornos, principalmente, a depressão, que vinte anos atrás era vista como com um olhar de dúvida e desprezo e, hoje está entre as principais causas mortis do planeta. Porém, somente depois que começou a proporcionar perdas laborais significativas, interferindo nos meios de produção, promovendo perdas consideráveis economicamente e, por outro lado, promovendo um mercado gerador de impostos e riquezas: o que produz medicações. Deixo aqui bem claro que as mesmas são de grande valor, desde que prescritas por psiquiatras, principalmente, quando aliadas as psicoterapias com psicólogos. Entretanto se as políticas de saúde pública tivessem um caráter preventivo, estaríamos num outro patamar e incontestavelmente teríamos recursos que hoje são destinados a saúde curativa, destinados a pesquisa, ao desenvolvimento e aprimoramento dos hospitais e postos de saúde, entretanto, me parece que alguns grupos nesse país fazem do adoecer uma fonte de renda e, prevenção só se torna importante depois que não há mais o que prevenir.
A taxa de prevalência de indivíduos com Anorexia é de 1% e desses, cerca de 90% dos casos de Anorexia Nervosa são em mulheres. Os casos acontecem com mais freqüência em classes sociais mais elevadas. Em 45% dos casos, a Anorexia acontece após uma dieta de emagrecimento. Em 40% acontece por competição, como por exemplo, pessoas que sua profissão exige magreza, como modelos e bailarinas.
Nas últimas décadas, tem crescido o número de relatos em meninas pré- púberes e em homens. As idades mais comuns, de início, ocorrem na adolescência, mas até 5% dos pacientes com Anorexia Nervosa tem início logo após os 20 anos. O aparecimento da Anorexia Nervosa ocorre entre os 10 e 30 anos de idade. Os pacientes fora desta faixa etária não representam casos típicos e, portanto, seus diagnósticos devem ser questionados. Após os 13 anos de idade, a freqüência do aparecimento da condição aumenta rapidamente, sendo máxima aos 17 ou 18 anos de idade. Em cerca de 85% de todos os pacientes com Anorexia Nervosa, o surgimento da doença dá- se entre os 13 e 20 anos, alguns, antes dos 10 anos, eram para comer ou tinham freqüentes problemas digestivos.
Os critérios de diagnóstico do DSM-IV para Anorexia Nervosa são estes:
- Recusas a manter o peso corporal em um nível igual ou acima do mínimo normal adequado a idade e a altura (por exemplo, perda de peso e levando a manutenção do peso corporal abaixo de 85% do esperado; o fracasso é inteiro ganho de peso esperado durante o período de crescimento, levando a um peso corporal menor que 85% do esperado).
- Medo intenso de ganhar peso ou de se tornar gordo, mesmo estando com peso abaixo do normal.
- Perturbação no modo de vivenciar o peso ou a forma do corpo; influencia indevida do peso ou da forma do corpo sobre a auto-avaliação, ou negação do baixo peso corporal atual.
Nas mulheres pós-menarca, amenorréia, isto é, ausência de pelo menos 3 ciclos menstruais consecutivos. (Considera-se que uma mulher tenha amenorréia se seus períodos ocorrem apenas após a administração de hormônio, por exemplo, estrógeno).
Características Físicas e Psicológicas:
Físicas: - Os pacientes geralmente chegam ao médico quando a perda de peso se torna aparente, o peso cai assustadoramente. Anoréxicas com 42 kg são consideradas de peso bom. Freqüentemente o peso chega a 36, 32, 28 kg ou menos.
- À medida que a perda ponderal se aprofunda aparecem sinais físicos como hipotermia (temperatura abaixo de 35 C), edema (inchaço), bradicardia (coração bate mais lentamente), hipotensão (pressão arterial abaixo do normal), lanugo (pelos finos que recobrem a pele do rosto e outras partes do corpo), pele seca, intolerância ao frio, queda de cabelo, olhos fundos, envelhecimento precoce e outras alterações metabólicas.
- Algumas pacientes chegam à atenção médica por causa da amenorréia que freqüentemente aparece antes de sua perda de peso ser perceptível.
Surgimento da doença dá-se entre os 13 e 20 anos.
Psicológicas: - Meninas inteligentes, bonitas, perfeccionistas e espertas.
- Existe uma preocupação em comer em público;
- Enquanto fazem uma refeição tentam livrar-se do alimento colocando-o no guardanapo ou escondendo-o nos bolsos;
- Cortam a carne em pedaços muito pequenos e levam muito tempo mexendo com a comida no prato;
- Sentimento de inutilidade;
- Pensamento inflexível;
- Isolamento social (até mesmo namoro);
- Expressão emocional demasiadamente refreada;
- Sua auto-estima está associada ao grau de sua forma e peso corporais;
- A perda de peso é vista como uma conquista, é um sinal de auto-disciplina
- E o ganho de peso é visto como um fracasso;
- Os indivíduos com estes transtornos até reconhecem que estão magros, mas negam as implicações de seu estado de desnutrição, ou até mesmo, a morte.
- A indução de vômitos, onde uma simples escova de dentes ou cabo de uma colher se tornam ótimos instrumentos para induzir o vômito (se não vomitarem se sentem sujas);
- Abuso de laxantes e diuréticos que conduzem ao mórbido emagrecimento desejado;
- Irritabilidade (pouco conversam);
- Agressividade;
- Choro;
- Fazem exercícios físicos exageradamente;
- Acham que o tratamento é totalmente desnecessário.

Tipos de Anorexia
Os seguintes subtipos podem ser usados para a especificação da presença ou ausência de compulsões periódicas ou purgações regulares durante o episódio atual de Anorexia Nervosa:

Anorexia Nervosa do tipo restritivo:
Neste tipo, a perda de peso é conseguida pelo fato da pessoa limitar suas opções alimentares através de dietas, jejuns ou exercícios excessivos, consumindo o mínimo possível de calorias. Durante o episódio atual, esses pacientes não desenvolveram compulsões periódicas ou purgações.

- Anorexia Nervosa do tipo compulsão periódica/purgativo:
O tipo compulsão periódica/purgativo se desenvolve em até 50% das pessoas com Anorexia Nervosa. Os indivíduos tendem a ter famílias nas quais alguns membros são obesos, e elas próprias tem histórias de maior peso corporal antes do transtorno que as pessoas restritas, é quando o paciente se envolve regularmente em compulsões de comer seguidas de purgações durante o episódio atual de Anorexia. A maioria dos pacientes com Anorexia Nervosa que comem compulsivamente também fazem purgações mediante vômitos auto- induzidos ou uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas. Algumas pessoas com Anorexia Nervosa são do tipo purgativo, porém sem compulsão periódica, ou seja, fazem purgações regularmente mesmo após o consumo de pequenas quantidades de alimentos. Aparentemente, a maior parte desses pacientes dedica-se a esses comportamentos pelo menos uma vez por semana.

Cada um dos dois tipos parece ter características históricas e clínicas distintas. Compartilha muitas das características dos que tem bulimia nervosa, mas não Anorexia Nervosa. Comparados os dois grupos, os pacientes com Anorexia Nervosa tipo restrito são menos graves e tem melhor prognóstico que aqueles com o tipo compulsão periódica/purgativo. Ambos os tipos podem ter sintomas de transtorno depressivo e interesse sexual diminuído, mas, os indivíduos que tem Anorexia Nervosa com o tipo compulsão periódica /purgativo estão mais propensos a ter outros problemas como o de controle dos impulsos, abuso de álcool ou outras drogas, e exibirem maior instabilidade do humor.

Em caso de dúvidas um tratamento com uma equipe multidisciplinar compostas por nutricionistas, médicos, psicólogos, fisioterapeutas e outros é de extrema relevância.

Marcus Antônio Britto de Fleury Junior
Psicólogo e coordenador do Atelie de Inteligência.
ateliedeinteligencia@gmail.com

sábado, 15 de janeiro de 2011

A Dor da Descoberta





Poucas coisas doem tanto a uma criança quanto descobrir e ter que acreditar que seus dias terão fim. É assustador quando o fatídico e o falível apresentam-se trazendo o contexto da morte como algo inegociável, principalmente, pelo fato de, anteriormente a essas descobertas, no exercício da liberdade, as crianças brincavam deliberadamente que morriam e, em seguida, já se levantavam com intensa vitalidade, saindo correndo em busca da vida, deixando para trás, somente para nós, por alguns segundos, a impressão que nossos medos de adultos seriam grandes bobagens.

A elaboração da representação da morte, em meio à dificuldade em articular emoções, sentimentos, pensamentos e fala, quando não observados com devida atenção, gera modificações na forma de como a criança interage com a família, com o grupo de pares e com a escola.

Elas sentem-se solitárias em um mundo onde algumas descobertas serão tão somente suas, que diante da dor sentida, não conseguem expressar aquilo que as fazem perder aquelas carinhas de quem desafiavam, não apenas a vida, mas também, as regras e valores criados por infelizes manipuladores, bem como a própria finitude.

Assim, é notavelmente importante que os pais, independente de serem casados ou não, estejam próximos, acompanhando a elaboração que seus filhos fazem desse tema, desconstruindo mitos e tabus, falando francamente, sem colocar “papai do céu” ou outras estórias que enganam somente quem as contam, como forma em solucionar uma “situação”. Assim, caso façam, irão proporcionar uma intensa vulnerabilidade a tantos outros transtornos ao longo das etapas de desenvolvimento e dos conflitos inerentes às mesmas, bem como, frente às intempéries da existência.

Criar possibilidades em relação ao que não é possível, como forma em amenizar ou encerrar um determinado assunto que jamais terá fim, a não ser o seu próprio desfecho, é algo extremamente egoísta em relação a quem se abre em meio às descobertas em busca de elaborações que a façam não sofrer menos, mas, saber o que fazer com a intensidade daquilo que sente. Assim, se soubermos ouvir mais as nossas crianças, permitindo que as mesmas falem, reclamem, chorem ou se revoltem, estaremos as presenteando, pois, nada mais significativo a elas, quando compreendem que terão quem as ouça e saibam respeitar suas duvidas, sem impor certezas tolas e verdades duvidosas. Compreenderão também que, após suas falas, no momento propício, irão obter o que buscam, não para aplacar seus conflitos, mas, para que possam, mesmo em meio ao caos, reorganizar o que necessitam. Elas sentem-se valorizadas, respeitadas e isso é fundamental para que possam resgatar e elaborar as posturas necessárias frente às descobertas.

Marcus Antonio Britto de Fleury Junior
Psicólogo e Coordenador do Ateliê de Inteligência.
ateliedeinteligencia@gmail.com

domingo, 9 de janeiro de 2011

JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA: O VALENTE



A morte, diante do valente José Alencar, ficou tão tímida que perdeu o sentido em seu próprio fim, afinal, a sabedoria a colocou em seu devido lugar, o derradeiro, em relação à grandiosidade da existência que se faz estampada no brilhante e contagiante olhar de um homem que não se destitui do direito em fazer-se presente em sua história, sempre por mais um dia, pronto para experimentar os desafios como uma criança em relação aos próprios limites.

Ao mesmo tempo em que sente a finitude como algo que mora, não ao lado, mas dentro de si, considera-a apenas um rito de passagem e manifesta o prazer em viver, mesmo reconhecendo sua realidade, não negando o que tem, mas amplamente envolvido com o que pode fazer de melhor, afinal, desponta em cada uma de suas atitudes a resignada aliança com a sua história, levando-nos a compreender, frente aos desafios e agruras, a necessidade quanto a revermos e sempre nos dispormos às mudanças, afinal, as mesmas são desencadeadoras da renovação necessária. Assim, o Mestre José Alencar, ensina-nos como vencer a exaustão da intolerância, motivando-nos quanto à compreensão das nossas fragilidades, do ódio e dos monstros que são construídos pelas mágoas e culpas que colecionamos como justificativas decorrentes das nossas próprias escolhas.

A morte está em nós, entretanto, manifesta-se quando a convidamos para assumir o controle daquilo que já não consideramos necessário: A vida. Isso me fez lembrar Roland Barthes, filósofo francês, que após perder sua mãe, envolto numa grande depressão, ao sair da casa de François Mitterand, foi atropelado na Rua de Écoles por uma camioneta de lavanderia, sofrendo um leve traumatismo craniano, entretanto, deixa-se morrer, segundo testemunho de todos que foram visitá-lo no hospital Pité-Salpêtrìere, em 26 de março de 1980. Bathes deixou-se, diante da escolha que fizera, ser tomado pela morte, fazendo de seu corpo um campo de batalha destituído de quaisquer resistências.

A capacidade em sabiamente falar sobre a morte, mas, optar pela vida, faz com que compreendamos a importância, não da humildade, mas, da convicção, entretanto, sem perder o vínculo com a serenidade. Então assim, José Alencar Gomes da Silva, envolto em suas dúvidas, transforma cada um de seus desafios nas maiores vitórias, constituindo, dessa maneira, as suas maiores certezas, levando a ciência a render-se, desafiando-a e mostrando que sempre devemos ir mais além, compreendendo que a grandiosidade não encontra-se apenas nas primaveras, entretanto, a mesma também está evidente nos invernos existenciais.

Marcus Antonio Britto de Fleury Junior
Psicólogo e Coordenador do Ateliê de Inteligência,

sábado, 8 de janeiro de 2011

A Família Idealizada.





Ao idealizarmos um modelo de família que desejamos devemos compreender que a mesma deve ter características próprias, porém, respeitando o universo que cada um traz dentro de si, compreendendo que temos uma família de origem, mas, não devemos reproduzir os mesmos padrões de relacionamento ou comportamento, pois se assim o fizermos, implantaremos um grave conflito, afinal, são pessoas que vem de culturas e hábitos completamente diferentes.

É necessário interpretar que os padrões que aí estão implantados, nessa saga pós-contemporânea, nada mais são, senão, os maiores adoecedores das famílias, afinal, uma estrutura que não estabelece características próprias, torna-se elevadamente vulnerável às tendências e, lamentavelmente, quanto mais adoecidas as estruturas familiares, mais fortalecidos ficam determinados segmentos de mercados, fomentados pela ilusão da riqueza que faz com que milhões de pessoas desçam ladeira abaixo, sempre sujeitando-se aos falsos critérios da beleza esteticamente perfeita, da posse de objetos de consumo caros, cujo intuito é encobrir as misérias emocionais e afetivas ao abrir as carteiras repletas de cartões de crédito que, nada mais são, senão, objetos sublimatórios dos próprios descréditos que muitos tem de si mesmos, entretanto, com hora marcada para um encontro no transcorrer do dia, afinal, quando as luzes se apagam e ficamos somente sós, no palco da nossa existência, frente a frente com o mais ensurdecedor silêncio.

As pessoas deixaram o espaço da convivência, substituindo-o pelo das conveniências, estabelecendo como parâmetros equivocados “padrões de êxito e sucesso”, cuja fragilidade fica exposta diante da tirania das relações, da “fúria” investida contra pais e contra filhos, fazendo-os não apenas homicidas ou suicidas, mas, apresentando uma sociedade, cuja projeção, revela-se por rituais, onde, o sacrifício gera um legado de dor e sofrimento aos que ficarão inebriados pelos mais difusos sentimentos em meio aos vales, nos abismos da existência, como lobos uivantes que, num acordar, não mais encontrão suas matilhas.

As lacunas existentes em relação às atribuições da família não podem ser resumidas a apenas um de seus membros, todos podem estabelecer e aprofundar um novo olhar fazendo do grupo familiar, não mais um ambiente de segregação ou exclusão, mas, de integração, trazendo assim, novos significados dotados de definições claras.

A família, como espaço de convivência, campo esse, onde as virtudes, as diferenças, os conflitos e as singularidades são ingredientes indispensáveis para que a afetividade mova-se no âmbito da dinâmica familiar, gerará uma identidade própria, com base no respeito às diferenças entre cada um dos seus membros, valorizando suas virtudes e fortalecendo as relações de segurança, afeto, proteção e bem-estar que possibilitarão integração e congraçamento.

.

Marcus Antonio Britto de Fleury Junior, Psicólogo e Coordenador do Programa de Prevenção a depressão e do Grupo de estudos Michel Foucault, do Ateliê de Inteligência.
ateliedeinteligencia@gmail.com