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sábado, 29 de janeiro de 2011

A busca pela visibilidade.






Nenhuma forma de estigmatização irá estabelecer parâmetros a uma sociedade que “geme” ao parir os filhos de sua própria insensatez. Olhe para os lados e os verão correndo como “lobos uivantes” nas madrugadas, buscando nas possibilidades de mais uma pedra, entorpecer a dor que o viver transformou-se para eles. Um desses jovens “lobos uivantes” me disse, às duas horas da manhã, ser a sua vida uma verdadeira frustração, pois, como ele mesmo disse: “nascer foi o primeiro castigo”, sendo os outros, uma sucessão de desgraças; ainda completou: “Sou invisível”!

Isso pode não causar nenhuma reflexão social, afinal, parte da sociedade está imersa e completamente comprometida em comprar um pouquinho de “púrpura”, com seus milagrosos dinheirinhos de plástico, para que quebre a invisibilidade e revele-se, numa performance de “big brother”, sendo essa também uma forma de dependência, pois, assim como as substâncias psicoativas (“drogas”), o consumismo e o rito obsessivo compulsivo à estética, fazem grandes sofredores e causam enormes prejuízos, sendo esses, desencadeadores de novas formas de sofrimento nessa pós-contemporaneidade de tão infelizes novidades, que traz, na ambivalência das propostas do liberalismo, uma das mais cruéis formas em tornar-se refém das regras e valores desse rito sado-masoquista.

Estamos na fase do “dane-se como quiser, mas o faça com estilo e seja politicamente, ecologicamente, religiosamente e eticamente perfeito”. Pague com suas vidas e com suas histórias aos senhores titulares dessa grande farsa contemporânea que é o discurso da ética, e sejam seus mais novos clientes em busca das pílulas da felicidade, das cápsulas do prazer, ou, de outras coisas que os façam menos invisíveis.

Assim como a reconhecida invisibilidade do jovem que tive o privilégio em conversar numa dessas madrugas, quando me abordou para pedir um sanduiche, podemos observar que muitos estão numa mesma estrada, apenas percorrendo diferentes caminhos, entretanto, ao final, irão se deparar com o horror daquilo em que permitiram transformar suas emoções, negligenciando seus sentimentos e renunciando suas histórias diante da inútil tentativa em aplacar os mais diversos conteúdos e conflitos que, como bons vizinhos, muitas vezes, batem à nossa porta pedindo-nos uma xícara de açúcar, apenas para nos anunciar, inconscientemente, o amargo de sua existência, gritar por socorro e pedir atenção, tornando-se assim, por um pequeno instante, visível em seu flagelo emocional, anunciando-nos seu auto-abandono e solicitando apenas nossa audição, pois, muitos já não cabem em si por tantas palavras, tantas promessas e tantas esperanças não realizadas.

Quantos são os que, num instante insuportável de suas dores mais intensas, deparam- se com o visível horror em que se transformaram e dão cabo as suas vidas?

Estamos num momento onde, somente depois das grandes perdas, que fazemo-nos de estarrecidos, assumindo nossa “grande comoção”, a dor que reservamos diante da projeção daquilo que somos e que está impresso no outro, diante daquilo que negamos e não aceitamos falar, daquilo que, se fosse revisto e desconstruído, traria de volta a possibilidade em reconstruirmos o que passamos a definir como felicidade, não nos importando com as definições, conceitos e valores que são convencionalmente estabelecidos, rompendo a necessidade em ser visto, por quem quer que seja, mas, tendo o prazer em ser notado e vivido em si sem ter que abandonar-se ou aliar-se às práticas que não conseguem sublimar as demandas internas.

Superar aflições não consiste em afastar-se das mesmas, mas sim, fazer um grande mergulho no oceano psíquico, conhecendo cada detalhe, cada componente que o formou. É desconstruir o mito de um mundo perfeito, compreendendo que, perfeição, nada mais é que, um recurso criado mediante as expectativas em construir um “dique” entre o oceano revolto de nossas angústias e os áridos territórios de nossa solidão, entre o reconhecimento da intencionalidade da fala e os mecanismos que adotamos para nos defender.

Chega um tempo em que, depois de tantos anos de invisibilidade, resignificamos as incertezas, transformando-as nas conquistas do hoje, compreendendo que o futuro se define pela força de nossas escolhas, superando assim, o medo das nossas dúvidas frente às intempéries, pois, compreendemos que a existência não renasce do nada, mas, apenas de cada um de nós.

Marcus Antonio Britto de Fleury Junior.
Psicólogo e coordenador do programa de prevenção a depressão e do grupo de estudos Michel Foucault.
ateliedeinteligencia@gmai.com

1 Comentários:

  • Meu amigo!!

    O importante na vida é nos conhecermos, aceitar nossos defeitos, nos perdoar por isso e seguir adiante nos ligando mais as nossas qualidades!!

    Com o tempo aprendemos a nos afastar daquilo que nos faz mal. A não nos aborrecermos com os outros e até compreender que não somos perfeitos também e não podemos exigir o que não temos! Sabemos que continua lá, mas jogamos na lata do lixo, simplesmente porque não vale a pena! É preciso antes de tudo, nos aceitar como somos e nos amar por isso!

    As pessoas não se amam, buscam a perfeição que ainda estamos longe de ter e transferem isso para outras pessoas..Ora! se eu não me amo, não me aceito, como vou querer que alguém me ame? o que terei a dar a não ser coisas ruins??

    Foi preciso muito sofrimento para que eu aprendesse que não posso mudar a vida de ninguém! Que devo aceitar e compreender que cada pessoa é como é! e se ela não está feliz com ela mesma, é preciso procurar ajuda! Eu até posso sugerir, mas não obrigar!

    Visibilidade pra quê?? Ninguém é realmente invisível, jamais estamos sós! Querer aparecer mais, ser o mais em tudo, não suportar que alguém saiba mais que você, na minha opinião, é carência e complexo de algo mal resolvido dentro de si mesmo!

    Na internet é cheio de pessoas solitárias, que não admitem a si mesmas; criam personagens, inventam histórias, vivem na ilusão, porém estão à busca de carinho, ou visibilidade...A solidão é necessária muitas e muitas vezes, é quando nos encontramos com nós mesmos e podemos reconhecer em nós que somos humanos!

    Nunca saberemos tudo! Na vida há pessoas analfabetas que possuem mais sabedoria que muitos pós,pós-graduados! O Saber nos ajuda a crescer, mas a sabedoria é a vida que nos trás!

    Há pessoas que brilharão sempre, pois o brilho vem de dentro delas e acabam gerando inveja, quando ao contrário, os invejosos deveriam procurar também a luz interior que possuem, pois todos nós a possuímos!

    Como dizia meu amado Mário Quintana: É preciso cuidar do jardim (nós), assim as borboletas virão até você!

    Sejamos crianças também, pois há sempre uma criança dentro de nós!! Brinquemos, sorrimos..Encaremos os problemas não com angústia, mas sabendo que nada é por acaso e que para tudo há solução!

    Que cada um de nós, dê sempre o melhor de si em qualquer lugar! às vezes basta um sorriso, uma palavra carinhosa par alegrar o dia de alguém..É tão bom saber que você faz alguém feliz dando atenção a ela, apenas com uma música que manda, uma palavra carinhosa que diz!

    Quando começamos a nos conhecer aí aprendemos a máxima de fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizessem!

    Enfim! Não há necessidade de que todos te vejam e te achem o máximo, nunca poderemos agradar a todos! a visibilidade acontece quando primeiramente você vê a si mesmo e aprende a se respeitar e amar! Cuidar do jardim!

    Bom! se falei alguma besteira, manda block...hahahhahahhah

    Beijocas querido!
    Carla

    Por Blogger Carla Pola, às 29 de janeiro de 2011 às 08:09  

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