Em relação à anorexia e bulimia, temos nos corpos a tentativa de purificação. O tema sentimento de culpa volta sempre à tona; então, nesses casos, as pessoas anoréxicas, na tentativa inconsciente de livrarem-se daquilo que não conseguem lidar, impõem a si um ritual muito próximo dos “jejuns religiosos”, esses que colocam o indivíduo em contato com o “sagrado”, sendo esse, ele mesmo, estabelecendo , dessa forma, a aproximação com a purificação.
Nos transtornos alimentares, temos uma multidiversidade de aspectos que jamais devem ser analisados separadamente, afinal, a tentativa em dicotomizar a existência e o Ser como seu representante têm produzido especificidade sobre a universalidade. Então, devemos considerar os aspectos biológicos, psicológicos e socio-culturais, não menosprezando nenhuma das vivências trazidas pelo indivíduo.
Os aspectos pulsionais (inconscientes), em contraposição ao simbólico (mundo externo constituído por normas, valores e tantos outros conceitos), desencadearão formas quanto a interpretação da imagem que se depara em frente ao espelho, assim, altera-se a imagem que se vê, pela qual necessita enxergar, estabelecendo assim, os sintomas manifestos, entre eles, o desejo de autodestruição física e emocional.
Mas então, seria a vontade de autodestruição física e emocional dos indivíduos anoréxicos o grande objetivo incauto?
Vemos, na ocidentalização, a acentuação da apologia ao belo, como a “magreza” anoréxica, apresentada por modelos famosas endinheiradas, mas, desconhecemos o lado mórbido que esconde corpos com quase 1:80mt, pesando 35 kilos e, se necessário for, continuam a busca do contato consigo mesma através do impulso de morte, afinal, morrer não é a dificuldade, mas, existir sim, tornando-se uma tarefa extremamente desagradável para essas pessoas pela impossibilidade de resignificação daquilo que foi massacrado em seus impulsos primários, implícito por conteúdos fragmentados que, como elas deixam a interpretação, como se estivessem muito bem organizados, “na mais plena forma”.
Daí há o evidenciamento do transtorno disfórmico. A forma nunca corresponde às expectativas requeridas conscientemente, mas aproxima-se da dor e da tentativa de oferta de si mesmo como holocausto para livrarem-se daquilo que não suportam. Nos espelhos, vêem seus horrores e não seus corpos, portanto, jamais se satisfazem com a imagem que têm de si.
Na atualidade, tais quadros, onde os transtornos alimentares e dismórficos tornam-se cada dia mais comuns, porém, para os padrões das organizações de saúde pública, ainda não satisfazem os requisitos para serem considerados epidemias. Sabemos muitíssimo bem que, somente depois que os números foram de grande alarde, com elevado impacto sobre as relações de poder sobre a produção e consumo, e que estado irá entrar no contexto na tentativa em reverter tais quadros. Assim o foi com tantos outros transtornos, principalmente, a depressão, que vinte anos atrás era vista como com um olhar de dúvida e desprezo e, hoje está entre as principais causas mortis do planeta. Porém, somente depois que começou a proporcionar perdas laborais significativas, interferindo nos meios de produção, promovendo perdas consideráveis economicamente e, por outro lado, promovendo um mercado gerador de impostos e riquezas: o que produz medicações. Deixo aqui bem claro que as mesmas são de grande valor, desde que prescritas por psiquiatras, principalmente, quando aliadas as psicoterapias com psicólogos. Entretanto se as políticas de saúde pública tivessem um caráter preventivo, estaríamos num outro patamar e incontestavelmente teríamos recursos que hoje são destinados a saúde curativa, destinados a pesquisa, ao desenvolvimento e aprimoramento dos hospitais e postos de saúde, entretanto, me parece que alguns grupos nesse país fazem do adoecer uma fonte de renda e, prevenção só se torna importante depois que não há mais o que prevenir.
A taxa de prevalência de indivíduos com Anorexia é de 1% e desses, cerca de 90% dos casos de Anorexia Nervosa são em mulheres. Os casos acontecem com mais freqüência em classes sociais mais elevadas. Em 45% dos casos, a Anorexia acontece após uma dieta de emagrecimento. Em 40% acontece por competição, como por exemplo, pessoas que sua profissão exige magreza, como modelos e bailarinas.
Nas últimas décadas, tem crescido o número de relatos em meninas pré- púberes e em homens. As idades mais comuns, de início, ocorrem na adolescência, mas até 5% dos pacientes com Anorexia Nervosa tem início logo após os 20 anos. O aparecimento da Anorexia Nervosa ocorre entre os 10 e 30 anos de idade. Os pacientes fora desta faixa etária não representam casos típicos e, portanto, seus diagnósticos devem ser questionados. Após os 13 anos de idade, a freqüência do aparecimento da condição aumenta rapidamente, sendo máxima aos 17 ou 18 anos de idade. Em cerca de 85% de todos os pacientes com Anorexia Nervosa, o surgimento da doença dá- se entre os 13 e 20 anos, alguns, antes dos 10 anos, eram para comer ou tinham freqüentes problemas digestivos.
Os critérios de diagnóstico do DSM-IV para Anorexia Nervosa são estes:
- Recusas a manter o peso corporal em um nível igual ou acima do mínimo normal adequado a idade e a altura (por exemplo, perda de peso e levando a manutenção do peso corporal abaixo de 85% do esperado; o fracasso é inteiro ganho de peso esperado durante o período de crescimento, levando a um peso corporal menor que 85% do esperado).
- Medo intenso de ganhar peso ou de se tornar gordo, mesmo estando com peso abaixo do normal.
- Perturbação no modo de vivenciar o peso ou a forma do corpo; influencia indevida do peso ou da forma do corpo sobre a auto-avaliação, ou negação do baixo peso corporal atual.
Nas mulheres pós-menarca, amenorréia, isto é, ausência de pelo menos 3 ciclos menstruais consecutivos. (Considera-se que uma mulher tenha amenorréia se seus períodos ocorrem apenas após a administração de hormônio, por exemplo, estrógeno).
Características Físicas e Psicológicas:
Físicas: - Os pacientes geralmente chegam ao médico quando a perda de peso se torna aparente, o peso cai assustadoramente. Anoréxicas com 42 kg são consideradas de peso bom. Freqüentemente o peso chega a 36, 32, 28 kg ou menos.
- À medida que a perda ponderal se aprofunda aparecem sinais físicos como hipotermia (temperatura abaixo de 35 C), edema (inchaço), bradicardia (coração bate mais lentamente), hipotensão (pressão arterial abaixo do normal), lanugo (pelos finos que recobrem a pele do rosto e outras partes do corpo), pele seca, intolerância ao frio, queda de cabelo, olhos fundos, envelhecimento precoce e outras alterações metabólicas.
- Algumas pacientes chegam à atenção médica por causa da amenorréia que freqüentemente aparece antes de sua perda de peso ser perceptível.
Surgimento da doença dá-se entre os 13 e 20 anos.
Psicológicas: - Meninas inteligentes, bonitas, perfeccionistas e espertas.
- Existe uma preocupação em comer em público;
- Enquanto fazem uma refeição tentam livrar-se do alimento colocando-o no guardanapo ou escondendo-o nos bolsos;
- Cortam a carne em pedaços muito pequenos e levam muito tempo mexendo com a comida no prato;
- Sentimento de inutilidade;
- Pensamento inflexível;
- Isolamento social (até mesmo namoro);
- Expressão emocional demasiadamente refreada;
- Sua auto-estima está associada ao grau de sua forma e peso corporais;
- A perda de peso é vista como uma conquista, é um sinal de auto-disciplina
- E o ganho de peso é visto como um fracasso;
- Os indivíduos com estes transtornos até reconhecem que estão magros, mas negam as implicações de seu estado de desnutrição, ou até mesmo, a morte.
- A indução de vômitos, onde uma simples escova de dentes ou cabo de uma colher se tornam ótimos instrumentos para induzir o vômito (se não vomitarem se sentem sujas);
- Abuso de laxantes e diuréticos que conduzem ao mórbido emagrecimento desejado;
- Irritabilidade (pouco conversam);
- Agressividade;
- Choro;
- Fazem exercícios físicos exageradamente;
- Acham que o tratamento é totalmente desnecessário.
Tipos de Anorexia
Os seguintes subtipos podem ser usados para a especificação da presença ou ausência de compulsões periódicas ou purgações regulares durante o episódio atual de Anorexia Nervosa:
Anorexia Nervosa do tipo restritivo:
Neste tipo, a perda de peso é conseguida pelo fato da pessoa limitar suas opções alimentares através de dietas, jejuns ou exercícios excessivos, consumindo o mínimo possível de calorias. Durante o episódio atual, esses pacientes não desenvolveram compulsões periódicas ou purgações.
- Anorexia Nervosa do tipo compulsão periódica/purgativo:
O tipo compulsão periódica/purgativo se desenvolve em até 50% das pessoas com Anorexia Nervosa. Os indivíduos tendem a ter famílias nas quais alguns membros são obesos, e elas próprias tem histórias de maior peso corporal antes do transtorno que as pessoas restritas, é quando o paciente se envolve regularmente em compulsões de comer seguidas de purgações durante o episódio atual de Anorexia. A maioria dos pacientes com Anorexia Nervosa que comem compulsivamente também fazem purgações mediante vômitos auto- induzidos ou uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas. Algumas pessoas com Anorexia Nervosa são do tipo purgativo, porém sem compulsão periódica, ou seja, fazem purgações regularmente mesmo após o consumo de pequenas quantidades de alimentos. Aparentemente, a maior parte desses pacientes dedica-se a esses comportamentos pelo menos uma vez por semana.
Cada um dos dois tipos parece ter características históricas e clínicas distintas. Compartilha muitas das características dos que tem bulimia nervosa, mas não Anorexia Nervosa. Comparados os dois grupos, os pacientes com Anorexia Nervosa tipo restrito são menos graves e tem melhor prognóstico que aqueles com o tipo compulsão periódica/purgativo. Ambos os tipos podem ter sintomas de transtorno depressivo e interesse sexual diminuído, mas, os indivíduos que tem Anorexia Nervosa com o tipo compulsão periódica /purgativo estão mais propensos a ter outros problemas como o de controle dos impulsos, abuso de álcool ou outras drogas, e exibirem maior instabilidade do humor.
Em caso de dúvidas um tratamento com uma equipe multidisciplinar compostas por nutricionistas, médicos, psicólogos, fisioterapeutas e outros é de extrema relevância.
Marcus Antônio Britto de Fleury Junior
Psicólogo e coordenador do Atelie de Inteligência.
ateliedeinteligencia@gmail.com