.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Frente de Ressocialização e Erradicação das Drogas (F.R.E.D)





Diante da pandemia que tornou-se um grave problema biopsicossocial, todos nos tornamos responsáveis pela questão relacionada ao consumo de substâncias psicoativas (drogas). Então, restam-nos a tentativa, num esforço conjunto, em buscarmos formas em ressocializarmos os dependentes químicos oferecendo aos mesmos, propostas que venham promover a aplicação de técnicas e métodos buscando erradicar a dependência química valorizando os usuários, ao invés de execra-los e condena-los à invisibilidade social

A dependência química tem se tornado um fenômeno cada vez mais precoce , sendo as idades relacionadas ao consumo cada dia mais recentes. Na década de 1950 e 1960 ,  os primeiros contatos ocorriam aos 18 anos, sendo que hoje, em 2014, temos relatos de usuários de crianças de 06 anos já usuárias de Crack.

É imprescindível salientar que conforme pesquisas desenvolvidas no Brasil entre estudantes do ensino fundamental II, 65,2 %  disseram terem feito consumo de álcool em algum  momento de suas vidas, sendo que 44,3% fazem uso mensal, 11,7% uso frequente ( uso de seis ou mais vezes no último mês) e 6,7% fazem uso “pesado” (acima de 20 vezes no último mês) . Não resta dúvida, o álcool ainda aponta uma prevalência como porta de entrada para o consumo de outras substâncias.

Fica então bem evidente a necessidade dos governos promoverem um contínuo e atualizado programa que vise monitorar tal questão, bem como, criar estratégias de prevenção avaliando a propensão de cada adolescente quanto ao uso de tal droga. O álcool, em termos de prevalência, ainda é a porta de entrada para o consumo de tantas outras substâncias.

O abuso de álcool e outras drogas é o responsável por 50% dos suicídios , e em relação aos acidentes automobilísticos  80 a 90 % envolvem adolescentes e jovens na faixa dos 16 a 20 anos.

Há ainda grande prevalência entre populações de baixa renda do uso de solventes em virtude dos baixos preços e da facilidade de acesso a tais substâncias, sendo as mesmas, facilmente encontradas até nas próprias residências.

A escala em termos de prevalência entre estudantes no Brasil que tiveram qualquer contato com substâncias psicoativas ainda é a seguinte: Álcool, 65,2%; Tabaco 24,9%; Solventes, 15,5%; Maconha. 5,9% ;  Ansiolíticos , 4,1%; Anfetamínicos , 3,7% ; Cocaína,  2%; Alucinógenos, 0,6% ; outras drogas ilícitas 19,4% .

Tais dados fazem referências a adolescentes jovens estudantes, no entanto, quantos de nossos jovens abandonam as escolas em decorrência de diversos fatores, entre eles, o contato com a mais devastadora de todas as drogas em evidencia nos dias atuais?

O crack surgiu entre 1984 e 1985, nos bairros pobres de Los Angeles, Nova York e Miami, habitados por populações de baixa renda e elevados níveis de desemprego. Sua obtenção de modo simples e passível de fabricação caseira e utilizado em grupo, dentro de espaços urbanos e locais com variados graus de abandono (crack houses). O nome advém dos estalos que emitem quando expostos às chamas nos cachimbos .

No Brasil, sua primeira apreensão se deu em 1990, na zona leste de, SP, pelo DISE (Divisão de Investigação Sobre Entorpecentes. A partir daí tomou o centro de São Paulo, espalhando-se por vários pontos, as formando cracolândias. Espaços públicos aos quais reúnem grupos de usuários que buscam agregarem-se em comunidades com diversas finalidades entre elas, duas são as mais importantes: Segurança e acesso fácil e rápido à substância.    

O crack estabeleceu uma nova dinâmica econômica em relação ao tráfico, estando a maior parte dos consumidores responsáveis pela própria distribuição da substância, quebrando assim o paradigma entre vendedores e consumidores. Surgem grupos de consumo hierarquizados que fazem o crack chegar facilmente ao destino final.

Os resultados dessa forma de distribuição elevaram assustadoramente os índices de violência em decorrência da elevada competitividade entre grupos, promovendo o controle dos bairros a quem possui maior capacidade em disponibilizar cada vez mais um maior número de quantidade relacionada ao Crack, abastecendo a intrínseca rede de distribuição, onde usuários são não apenas a ponta na escala de consumo, mas, os próprios fornecedores ao grupo desencadeando disputas cada vez mais intensas e, lamentavelmente, cada dia mais violentas.  

Em Goiânia, nota-se que os índices de homicídios elevam-se cada dia mais, e a cada esforço das estruturas de repressão do Estado, há cada vez um maior número de usuários de crack, apontando o fracasso das “políticas de enfrentamento”, e a necessidade emergencial de um novo programa que consiga lidar com tal questão dentro de uma estrutura que busque ressocializar o dependente , e consequentemente, erradicar a dependência química.

Os novos esforços devem estar centrados no resgate dos dependentes químicos, não priorizando o caráter repressivo, mas sim, que gere relações de confiança entre profissionais envolvidos e o grupo de usuários, através de uma ampla rede de apoio que possibilite reinseri-los socialmente, e para tal, diversos aspectos devem ser trabalhados:




A elaboração do FRED requer diversas ações, mas que todas vislumbrem reinserir, e não afugentar dentro do viés higienista, espalhando os dependentes químicos, principalmente, os usuários de Crack para lugares mais ermos e desprovidos de higiene , cuidados essenciais e segurança.

É necessário ter veículos com a devida estrutura para percorrer os mais diversos pontos de consumo de crack espalhados nas mais diversas regiões em Goiânia, estabelecendo um monitoramento , ações dinâmicas e multidisciplinares  levando os atendimentos às ruas e aos milhares de jovens que hoje estão espalhados, relegados a mais profunda miséria psicossocial decorrente da inoperância dos programas que se encontram em prática.

Torna-se imprescindível criar albergues onde os usuários possam dormir, tomar banho e ter acesso a cuidados básicos em higiene e saúde.

Programas relacionados a artes e esporte são componentes ressocializadores imprescindíveis ao programa.
Núcleo de desintoxicação 24 horas por dia, com devidas estruturas em emergências clínicas, para posterior encaminhamento aos CAPS.

Projetos de reinserção ao trabalho através de promoção de cursos técnicos.

Criar residências terapêuticas visando o apoio aos que são destituídos de família , ou mesmo , que estejam afastados a anos do núcleo familiar. 


Por que o nome Frente de Ressocialização e Erradicação à dependência (FRED)?  

É necessária uma ação conjunta formando assim uma Frente que busque agregar usuários e ressocializa-los, inserindo-os não apenas em programas de trabalho e geração de renda, mas, fornecendo aos mesmos toda estrutura necessária para que possam reconquistar a visibilidade social, resgatando a alto- estima e abandonando a dependência química, mas, jamais o dependente químico que deve ser continuamente acompanhado através de  técnicas de prevenção a recaídas.

É necessário ressaltar que dependência química é uma “doença” com severas alterações psicossociais. Então, mesmo que haja a remissão dos sintomas, um deles sempre estará presente, que é a probabilidade a recaídas.

As iniciais do Programa formam a palavra FRED, jovem dependente químico assassinado pelo tráfico em agosto de 2013, nos arredores de Goiânia. 

Frederico, era um jovem empresário de classe média alta, desde a adolescência envolveu-se com o consumo de diversas substâncias, entretanto, o crack o levou a diversas internações, diversas tentativas em livrar-se da dependência , porém , sempre acompanhadas de recaídas em relação a droga acima citada.

Frederico (FRED) , quebra o paradigma relacionado ao consumo de crack, expondo que a droga em questãoatinge não apenas grupos economicamente favorecidos, mas , está em toda estrutura social impondo os mesmos riscos , desafios  e um conjunto de prioridades advindos do poder público em conjunto com toda sociedade.

A finalidade jamais será recolher, mas sim agregar, afinal, vidas não são mercadorias para serem recolhidas e colocadas sob a égide da exclusão, mas , ao contrário, devem ser sempre agregadas ao convívio social , desfrutado dos mesmos benefícios e condições para que alcancem objetivos humanizados e resultados dignos.


Marcus Fleury Junior é psicólogo CRP-09/ 4575   

sábado, 4 de outubro de 2014

Não sou louco senhor Paulo Rassi, sou loucaço.



                                                                             




Quando fui convidado a participar do grupo que elaboraria o programa de governo de Iris Rezende, me senti muito honrado, no entanto, decidido a não retroceder um milímetro quanto à construção de uma proposta avançada de políticas de saúde mental e dependência química. Os que me acompanham há anos, sabem muito bem que defendo um programa de redução de danos e de maior controle quanto a prática de internações, por considerá-las um sistema de encarceramento e não tratamento.

Tivemos duas reuniões, sendo as mesmas, elevadamente improdutivas, pois, como sempre, a questão dependência química, ficou relegada a último plano. Insisti, pedi, sugeri mais reuniões e nada. Porém, ontem, dia 03/10/2014,  questionei os coordenadores do grupo,com a seguinte argumentação : 

Parabéns, senhores coordenadores... As eleições estão ai e nada avançou em relação a discussões relacionadas à dependência química. Vale internar na OS, né mesmo, Paulo Rassi?

Bastou isso, para que o senhor Paulo Rassi, transformasse meus questionamentos numa questão pessoal dele com meu saudoso pai, tentando constranger-me, claro , sem sucesso, afinal, sei muito bem minhas origens, e jamais tive motivos para me envergonhar de quem sempre cumpriu suas missões com a cabeça erguida, sem dinheiro público no bolso ou uma lista de amantes empregadas no serviço público , como muitos o fazem.

Após suas sucessivas tentativas mal sucedidas em ofender-me, ao observar que não retrocedo quanto ao que defendo, e que em questão, não debatíamos nada no contexto familiar, porém, um assunto técnico-científico, o Sr Paulo Rassi, disse que várias pessoas encaminharam whatsapp, chamando-me de" louco e  descompensado" .

Bom, se diante do contraditório somos considerados loucos ou descompensados, na tentativa em fazer-nos calar, imaginem o que esses elementos são capazes em fazer com quem sequer tem condições em responder quando estão contidos quimicamente em manicômios ou em comunidades terapêuticas.

Cabe ressaltar, Sr Paulo Rassi, que se ser louco ou descompensado é lutar por um sistema de saúde humanizado que trate com respeito e dignidade os que são excluídos por desenvolverem transtornos mentais , ou mesmo, níveis de dependência química comprometedores, sou mais que louco sim!

Na minha trajetória, Sr.Paulo Rassi, já orientei pais e mães a retirarem das masmorras das unidades manicomiais e dos infernos das comunidades terapêuticas em torno de 300 pessoas , e isso, claro, para quem defende interesses de empresários da industria da loucura, dissimulando com o termo "tratamento", e assentado no conforto de seus gabinetes, rodeado com o alento das bajulações e inebriado em  parafilias, afinal , o poder é orgasmo dos fracassados , sem dúvida, incomodo hoje e incomodarei sempre, pois , construí um campo de luta onde, muitas vezes, nos parecemos ser frágeis, no entanto, a fragilidade está nos que nos vêem, sendo desmascarados pelas próprias  práticas e pelos péssimos resultados.   

Sua conduta, Sr Paulo Rassi, não me surpreende em nada. Recordo-me , em um dos aniversários de Campinas, nossa Campininha das Flores, bairro secular, anexado a Goiânia, o vi gritar e ser ríspido com uma senhora de quase 90 anos, que buscava informar-se sobre os serviços oferecidos naquela data, no colégio Santa Clara. Então , daí , podemos imaginar o que pode sair de uma personalidade como a de vossa senhoria.

Quanto a sua postura arbitrária direcionando a mim, seus complexos e conflitos mal resignificados ao senhor ser questionado no grupo de trabalhos relativos à saúde do programa de Governo de Iris Rezende, posso garantir, com todas as letras, que não passará de mais um fracasso, mais um ajuntamento de letrinhas de academicistas viciados nas entranhas do poder , afinal , o construíram com discussões restritas a interesses de uma meia-duzia, e não abrangendo as realidades biopsicosociais que revelam o fracasso dos programas que aí estão , ou que foram elaborados por mentes conservadoras e confusas.

Diante de tais fatos, saio do grupo de trabalho, afastando-me, definitivamente, de uma coligação composta por alguns elementos que são a grande razão do insucesso da empreitada de Iris Rezende, a quem nutro profundo respeito, porém, não me sujeito , nem mesmo , me permito conviver com determinadas pessoas que tornam as diferenças a razão para suas arbitrariedades.

Há coisas que ouvimos desde a mais tenra infância, e sou muito dado a cultura e sabedoria popular , então , fico com essa que descreve muito bem todo o enredo:

" Quem com porcos se mistura farelo come”...  assim, que cada um fique em seus espaços, claro, alguns deveriam ocupar pocilgas.   
                     


                              Marcus Fleury é psicólogo e coordenador do Ateliê de Inteligência