David, o anjo que queria voar

Ser quieto, tirar boas notas e ser educado. O que pode estar por traz de tais características? Isso, o pequeno David, de 10 anos de idade, poderia ter nos ajudado muito a compreender, caso a escola em que estudava, na cidade de São Caetano do Sul, tivesse um programa que acompanha os alunos em seus desenvolvimentos e conflitos psicoafetivos.
Tais projetos aos serem implantados nas escolas, trazem a oportunidade em conhecer todos os alunos, suas famílias e suas realidades biopsicosociais promovendo, se necessário, intervenções terapêuticas individuais e no grupo, sendo nesse último, através das oficinas de criatividade. O propósito é trabalhar as fragilidades e demandas encontradas nas relações entre os alunos, professores e pais, estabelecendo um novo significado, um novo olhar, proporcionando, dessa maneira, a resiliência: processo onde o terapeutizando ou o grupo torna-se apto a lidar com as adversidades inerentes ao conjunto de circunstâncias desencadeadas por elevados níveis de estresse e ansiedade, e, ao final, consiga estruturar-se, através de novos significados em relação ao que o incomodava.
David, o garoto de São Caetano do Sul, era apenas um anjo que desejava voar. Queria estar acima do inferno social criado pelos homens, cujos modelos padronizados de comportamentos, refutam a diversidade, como se a mesma fosse uma grave doença. Era uma criança quieta, calada. E que mal há nisso, quando tais comportamentos apresentam-se como características de personalidade? Nenhum!
Mas, a sociedade “big brother”, movida por seus giga-bites, requer estigmatizar, adoecer e transformar o diferente naquilo que deve ser execrado e lançado a margem do contexto social, para que um grupo de pessoas possa transferir suas perversidades, e então, utilizam-se dos mecanismos, hoje justificados como Bullying, e assim, não estarão sozinhos no teatro social dos horrores.
As escolas, como espaço social, necessitam de um novo olhar, pois, agregam uma diversidade muito grande de atores sociais, sendo que, esses estabelecem processos de identificação uns em relação aos outros, desenvolvendo aí, a formação de grupos; porém, muitas crianças, em virtude de determinadas características, isolam-se, “não por serem isso ou aquilo, assim, ou assado”. Então, faz-se necessário que as instituições de ensino promovam trabalhos cuja multidisciplinaridade faça-se envolvida, desenvolvendo projetos que visem garantir segurança física e psicológica aos estudantes.
Estamos, a um bom tempo, falando do “programa de prevenção a depressão e outros transtornos’. Entretanto, tais programas, não dão a visibilidade do asfalto, das praças, nem tampouco, mostra-se como um “negócio da China”. Motivo esse para que não sejam implantados. Então, enquanto os senhores políticos enchem-se de vaidades, nossas crianças cometem suicídio na frente dos coleguinhas.
É necessário que as crianças não sejam um número nas escolas, mas, sim, que sejam conhecidas, que tenham histórias e que seus perfis psicológicos possam ser avaliados com o objetivo em acompanhá-las nos processos de desenvolvimento psicoafetivos, para que, ao primeiro sinal de alerta, ou, primeiro pedido de apoio, possam ser amparadas em suas fragilidades, em suas estruturas de risco, bem como, serem estimuladas em suas estruturas potenciais. Isso redundará em auto-estima, respeito às diferenças, a solidariedade e a proximidade, para que juntos possam promover uma grande diferença, não ao futuro que é incerto, mas, ao presente em que vivem.
Marcus Antonio Britto de Fleury Junior é psicólogo e um dos coordenadores do Ateliê de Inteligência.
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