Diante da pandemia que tornou-se um grave problema
biopsicossocial, todos nos tornamos responsáveis pela questão relacionada ao
consumo de substâncias psicoativas (drogas). Então, restam-nos a tentativa, num
esforço conjunto, em buscarmos formas em ressocializarmos os dependentes químicos
oferecendo aos mesmos, propostas que venham promover a aplicação de técnicas e
métodos buscando erradicar a dependência química valorizando os usuários, ao
invés de execra-los e condena-los à invisibilidade social
A dependência química tem se tornado um fenômeno cada vez
mais precoce , sendo as idades relacionadas ao consumo cada dia mais recentes.
Na década de 1950 e 1960 , os primeiros
contatos ocorriam aos 18 anos, sendo que hoje, em 2014, temos relatos de usuários
de crianças de 06 anos já usuárias de Crack.
É imprescindível salientar que conforme pesquisas
desenvolvidas no Brasil entre estudantes do ensino fundamental II, 65,2 % disseram terem feito consumo de álcool em
algum momento de suas vidas, sendo que
44,3% fazem uso mensal, 11,7% uso frequente ( uso de seis ou mais vezes no
último mês) e 6,7% fazem uso “pesado” (acima de 20 vezes no último mês) . Não
resta dúvida, o álcool ainda aponta uma prevalência como porta de entrada para
o consumo de outras substâncias.
Fica então bem evidente a necessidade dos governos promoverem
um contínuo e atualizado programa que vise monitorar tal questão, bem como,
criar estratégias de prevenção avaliando a propensão de cada adolescente quanto
ao uso de tal droga. O álcool, em termos de prevalência, ainda é a porta de
entrada para o consumo de tantas outras substâncias.
O abuso de álcool e outras drogas é o responsável por 50% dos
suicídios , e em relação aos acidentes automobilísticos 80 a 90 % envolvem adolescentes e jovens na
faixa dos 16 a 20 anos.
Há ainda grande prevalência entre populações de baixa renda
do uso de solventes em virtude dos baixos preços e da facilidade de acesso a
tais substâncias, sendo as mesmas, facilmente encontradas até nas próprias
residências.
A escala em termos de
prevalência entre estudantes no Brasil que tiveram qualquer contato com
substâncias psicoativas ainda é a seguinte: Álcool, 65,2%; Tabaco 24,9%;
Solventes, 15,5%; Maconha. 5,9% ;
Ansiolíticos , 4,1%; Anfetamínicos , 3,7% ; Cocaína, 2%; Alucinógenos, 0,6% ; outras drogas
ilícitas 19,4% .
Tais dados fazem referências a adolescentes jovens
estudantes, no entanto, quantos de nossos jovens abandonam as escolas em
decorrência de diversos fatores, entre eles, o contato com a mais devastadora
de todas as drogas em evidencia nos dias atuais?
O crack surgiu entre 1984 e 1985, nos bairros pobres de Los
Angeles, Nova York e Miami, habitados por populações de baixa renda e elevados
níveis de desemprego. Sua obtenção de modo simples e passível de fabricação
caseira e utilizado em grupo, dentro de espaços urbanos e locais com variados
graus de abandono (crack houses). O nome advém dos estalos que emitem quando
expostos às chamas nos cachimbos .
No Brasil, sua primeira apreensão se deu em 1990, na zona
leste de, SP, pelo DISE (Divisão de Investigação Sobre Entorpecentes. A partir
daí tomou o centro de São Paulo, espalhando-se por vários pontos, as formando
cracolândias. Espaços públicos aos quais reúnem grupos de usuários que buscam
agregarem-se em comunidades com diversas finalidades entre elas, duas são as
mais importantes: Segurança e acesso fácil e rápido à substância.
O crack estabeleceu uma nova dinâmica econômica em relação ao
tráfico, estando a maior parte dos consumidores responsáveis pela própria
distribuição da substância, quebrando assim o paradigma entre vendedores e
consumidores. Surgem grupos de consumo hierarquizados que fazem o crack chegar
facilmente ao destino final.
Os resultados dessa forma de distribuição elevaram
assustadoramente os índices de violência em decorrência da elevada
competitividade entre grupos, promovendo o controle dos bairros a quem possui
maior capacidade em disponibilizar cada vez mais um maior número de quantidade
relacionada ao Crack, abastecendo a intrínseca rede de distribuição, onde
usuários são não apenas a ponta na escala de consumo, mas, os próprios
fornecedores ao grupo desencadeando disputas cada vez mais intensas e,
lamentavelmente, cada dia mais violentas.
Em Goiânia, nota-se que os índices de homicídios elevam-se
cada dia mais, e a cada esforço das estruturas de repressão do Estado, há cada
vez um maior número de usuários de crack, apontando o fracasso das “políticas de
enfrentamento”, e a necessidade emergencial de um novo programa que consiga
lidar com tal questão dentro de uma estrutura que busque ressocializar o dependente , e consequentemente, erradicar a dependência
química.
Os novos esforços devem estar centrados no resgate dos
dependentes químicos, não priorizando o caráter repressivo, mas sim, que gere
relações de confiança entre profissionais envolvidos e o grupo de usuários,
através de uma ampla rede de apoio que possibilite reinseri-los socialmente, e
para tal, diversos aspectos devem ser trabalhados:
A elaboração do FRED requer diversas ações, mas que todas
vislumbrem reinserir, e não afugentar dentro do viés higienista, espalhando os
dependentes químicos, principalmente, os usuários de Crack para lugares mais
ermos e desprovidos de higiene , cuidados essenciais e segurança.
É necessário ter veículos com a devida estrutura para
percorrer os mais diversos pontos de consumo de crack espalhados nas mais
diversas regiões em Goiânia, estabelecendo um monitoramento ,
ações dinâmicas e multidisciplinares
levando os atendimentos às ruas e aos milhares de jovens que hoje estão
espalhados, relegados a mais profunda miséria psicossocial decorrente da
inoperância dos programas que se encontram em prática.
Torna-se imprescindível criar albergues onde os usuários
possam dormir, tomar banho e ter acesso a cuidados básicos em higiene e saúde.
Programas relacionados a artes e esporte são componentes ressocializadores imprescindíveis ao programa.
Núcleo de desintoxicação 24 horas por dia, com devidas
estruturas em emergências clínicas, para posterior encaminhamento aos CAPS.
Projetos de reinserção ao trabalho através de promoção de
cursos técnicos.
Criar residências terapêuticas visando o apoio aos que são
destituídos de família , ou mesmo , que estejam afastados a anos do núcleo
familiar.
Por que o nome Frente de Ressocialização e Erradicação à
dependência (FRED)?
É necessária uma ação conjunta formando assim uma Frente que busque
agregar usuários e ressocializa-los, inserindo-os não apenas em
programas de trabalho e geração de renda, mas, fornecendo aos mesmos toda
estrutura necessária para que possam reconquistar a visibilidade social,
resgatando a alto- estima e abandonando a dependência química, mas, jamais o dependente
químico que deve ser continuamente acompanhado através de técnicas de prevenção a recaídas.
É necessário ressaltar
que dependência química é uma “doença” com severas alterações psicossociais.
Então, mesmo que haja a remissão dos sintomas, um deles sempre estará presente,
que é a probabilidade a recaídas.
As iniciais do Programa formam a palavra FRED, jovem
dependente químico assassinado pelo tráfico em agosto de 2013, nos arredores de
Goiânia.
Frederico, era um jovem empresário de classe média alta, desde
a adolescência envolveu-se com o consumo de diversas substâncias, entretanto, o
crack o levou a diversas internações, diversas tentativas em livrar-se da
dependência , porém , sempre acompanhadas de recaídas em relação a droga acima
citada.
Frederico (FRED) , quebra o paradigma relacionado ao consumo
de crack, expondo que a droga em questão, atinge não apenas
grupos economicamente favorecidos, mas , está em toda estrutura social impondo
os mesmos riscos , desafios e um
conjunto de prioridades advindos do poder público em conjunto com toda
sociedade.
A finalidade jamais será recolher, mas sim agregar, afinal,
vidas não são mercadorias para serem recolhidas e colocadas sob a égide da
exclusão, mas , ao contrário, devem ser sempre agregadas ao convívio social ,
desfrutado dos mesmos benefícios e condições para que alcancem objetivos
humanizados e resultados dignos.
Marcus Fleury Junior é psicólogo CRP-09/ 4575