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sexta-feira, 12 de abril de 2013

A ausência do Estado, esse sim, é o grande grupo de extermínio



 

   
 
Todas as hipóteses em relação ao assassinato do pré- adolescente de 13 anos, morador de rua (vulnerabilidade social) em Goiânia, devem ser avaliadas, entretanto, considerar que há um grupo de extermínio por trás desses absurdos é algo extremamente precipitado, equivocado, ou, mesmo, mal intencionado, observando a relação das vítimas com o consumo de crack e, intrinsecamente, ligada à questão do tráfico.
O crack tem uma dinâmica de “distribuição” completamente diferente de outras substâncias psicoativas, sendo, em grande parte das vezes, realizada numa escala de consumo (tráfico de consumo), comprometendo os usuários em suas seguranças em virtude do acúmulo de dívidas e, quando não quitadas, são cobradas de forma violenta e fatídica. 
Execuções, geralmente são feitas com planejamento cruel, afinal, quadrilhas organizadas, sejam lá em que segmento for, detalham seus modos operandi, equacionando uma série de detalhes, minimizando assim, falhas em suas ações. Observam tempo, rota de fuga e uma série de características que destoam dos crimes que vem acontecendo em Goiânia, principalmente, em relação aos que acometeram duas preciosas vidas na madrugada de sábado, onde foram usados paus, ao invés de armas de fogo. É muito pueril acreditar que grupos de extermínio iriam usar pauladas ao invés de outros instrumentos.
Sabemos que a linguística, quando usada pelo Estado e reforçada pela repetição, gera, na maior parte das vezes, os argumentos necessários para que a responsabilidade social seja ofuscada, blindando, dessa maneira, a fragilidade das políticas públicas e confundindo o opinião pública.
Para que a responsabilidade seja eximida, cria-se uma versão sobre grupos de extermínio, justamente para mascarar as verdadeiras responsabilidades, sendo a principal, a ausência de políticas sociais sérias e fundamentadas em pesquisas.  

Os crimes que vitimaram moradores em situação de rua, estão intimamente relacionados ao tráfico, só não veem os pessimamente mal intencionados, que colam suas bundas em cadeiras em seus gabinetes, e de lá, como num jogo, movem as peças que necessitam.
A realidade das ruas, só quem pode falar são os que estão num árduo trabalho, muitas vezes sequer remunerado, em busca de informações, colhendo-as através do contato direto com usuários, vítimas da ausência de políticas preventivas em saúde mental, de estratégias de acolhimento e formação de vínculos de confiança entre quem oferece oportunidade, mesmo que seja em verbalizar o desespero de quem se sente completamente vulnerável e excluído. Não me lembro em ter visto nas madrugadas, nos locais onde ando, no trabalho voluntário que faço como psicólogo, nada nesse sentido. Aliás, quando os perguntamos por apoio, só constatamos revolta e repúdio em relação ao descaso.
É evidente a intenção em transformarem a fragilidade social, cujos responsáveis são o governo federal, estadual e municipal numa jogada política para que possam se eximir das responsabilidades, e ao mesmo tempo, pesar ao estado de Goiás, o jogo sorrateiro para que justifiquem os interesses de intervenções federais em segurança pública. 

A questão da dependência química tem como nascedouro, diversos aspectos, mas, tratando-se especificamente do crack, a responsabilidade do Estado como um todo, diante da ausência das políticas públicas em saúde mental e da omissão diante dos diversos avisos de estudiosos, desde a primeira apreensão da droga em 1991, na capital do estado de São Paulo, quanto às consequências desastrosas que acarretariam a toda sociedade. 

Hoje, está mais que comprovado que o aspecto social quando não levado a sério, pode fazer toda a sociedade sucumbir, furtando-nos a alegria em ver crianças, não com cachimbos para consumo de crack nas mãos, nem tampouco, armas, mas, o lápis de cor e tintas, para que possam, na expressão das manifestações de suas vivências, tanto externas, quanto internas, no universo de seus inconscientes, colorir a existência retratando a esperança que há em cada etapa de desenvolvimento infantil.  Portanto, senhores que tentam escrever seus interesses com pincéis, quase que atômicos, em nossos rostos, tenham um pouco mais de respeito ao nosso direito em sermos humanos e, não nos venham tentar moldar em seres humanos limitados, pelos direitos que vossas excelências acreditam ou, são pagos para tentar criar em nossas mentes, moldando-nos e limitando-nos àquilo que possa garantir a vós o jogo sujo e inescrupuloso que há nos bastidores das relações de poder.

“Quem desconhece a história é apenas um ignorante, mas, quem a conhece e diz que é mentira, este sim, é um criminoso.” (Berthold Brecht)

Marcus Fleury é psicólogo e coordenador do Ateliê de inteligência.

 

 

 

 




 

 

 

 

 

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