A importância da psicologia no campo do urbanismo
Muitas
vezes fui interpelado quanto à
finalidade da psicologia em
relação ao planejamento e urbanismo. Algumas vezes, quando considerava a
possibilidade de enriquecer o diálogo, ofereci as respostas de volta, caso
contrário, sem nenhum constrangimento, devolvia a pergunta com um: Essa é uma
boa pergunta, tente responde-la para mim.
Não
vejo, em momento algum, necessidade em satisfazer expectativas de ninguém, as
minhas já me bastam. Aprendi, ao longo dos anos, em meio as mais variadas
experiências, como lidar com adversidades, considerando a importância de todas
as pessoas, porém, não desconhecendo o valor que tenho que dar a mim mesmo,
relembrando que agradar é exaustivo, e que a vida, por si só, pode ser um
grande engano, caso seus donos esperem resultados sem se disporem a construir
algo, mediando satisfações e frustrações, reconhecendo que, em ambas situações,
há a consolidação de projetos, afinal, esses sentimentos desencadeiam processos
que nos fazem um pouco mais prontos para novos desafios. Volto, hoje, a repetir
uma das citações de Michel Foucault: “Não pergunte quem eu sou e não me peça
para não mudar.”
Via,
na expressão viva de alguns “rostos mortos”, ressuscitados pela perversidade, o
prazer das perguntas, como canal de embaraço, bem como, desprazer e ódio
intensificados na ausência de respostas. Porém, em outros momentos, quando
aderia ao debate sobre a importância da psicologia no campo do urbanismo,
observava que isso fazia surgir um novo olhar quanto à função psicossocial do
uso e ocupação do solo, do ordenamento físico territorial devido à relevância
existente na inter-relação entre o espaço físico construído ou não, o indivíduo e as temáticas
desencadeadas pela extensa relação, onde estão intrínsecos identidade, cultura
e subjetividade.
Nesse
contexto, onde os aspectos físico-sociais desencadeiam fenômenos complexos,
requer-se a interdisciplinaridade, ampliando, dessa forma, as discussões em relação ao espaço físico que se move numa
dinâmica desencadeada pelas múltiplas relações presentes, estando nessas
questões, desde a dimensão temporal (o ontem, o hoje e o amanhã); o
desenvolvimento de uma cultura pro-ambiental,
minimizando assim, catástrofes como as ocorridas em Santa Catarina, e as
severas conseqüências que, aos poucos, se revelam aos indivíduos, causando
infortúnios de grande impacto psicológico e social em relação às
descaracterizações impostas aos bairros pelos grandes conglomerados econômicos
que, visando unicamente o lucro, sempre em meio aos antigos discursos de
progresso, prosperidade, tecnologia e tantas outras “baboseiras”, edificam suas
fortalezas sobre as nossas histórias promovendo processos de perda de
referências quanto a identidade e cultura.
Estabelecer
critérios, definir leis e planejar requer desfazer-se da vaidade dos saberes,
compreendendo que cada situação irá determinar a metodologia e não o contrário.
Pode-se ter muitas informações quanto a um determinado espaço físico urbano, entretanto, a dinâmica desse local é
estabelecida pelas redes sociais que, frente a qualquer alteração, irá
manifestar-se expondo a linguagem do desconforto a partir da agressão a
identidade, promovendo, desde as mais simples pixações, com suas linguagens de
complexa interpretação, até mesmo os graves e severos conflitos urbanos,
proporcionando a elevação dos fenômenos sociais, sendo os mesmos, as respostas
que desconstroem as expectativas dos teóricos em suas quase deliroides
tentativas em transformarem-se em super-heróis. A civilização não os quer,
afinal, vem aprendendo que para existir um “super” em algo, muitos serão
diminuídos e relegados a mais profunda exclusão.
A
psicologia ambiental vem surgindo silenciosamente, trazendo a proposta
multidisciplinar, onde, cada elemento urbano deve ser visto com um olhar
específico, aliando a antropologia e sociologia, a história, a arquitetura,
filosofia, a biologia, a geografia, o paisagismo, a medicina e outras áreas no intuito em
articular expressões do patrimônio imaterial para a compreensão não somente da
construção, mas a identidade cultural de uma dada comunidade.
Marcus Antonio Britto de Fleury Junior.
Psicólogo e coordenador do Ateliê de
Inteligência.
ateliedeinteligencia@gmail.com
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