O que está acontecendo com nossas crianças e nossos adolescentes?
Diante do entusiasmo de
um país onde, o consumismo é a referência de crescimento econômico,
deparamo-nos com as mais severas incongruências, entre elas, figura o fato em
termos hoje, crianças e adolescentes que colocam fim às suas vidas de maneira
trágica, deixando, não apenas um rastro de dor, mas, principalmente, um grande
recado a todos, digo todos, sem culpar, ou mesmo, isentar a quem quer que seja
quanto a necessidade de políticas que visem avaliar com seriedade, sem
demagogias, a condição de saúde mental de nossas crianças e adolescentes.
Nossas crianças e
adolescentes estão morrendo por suas dores internas, suas angústias não
atendidas, suas depressões negligenciadas, e nós, o que temos feito? Nada!
Não me venham com esses
discursos repletos de tolices para tentar encobertar a tragicidade que se abate
sobre o encerrar de vidas tão preciosas precocemente, nem mesmo me venham falar
em programas de enfrentamento a isso, ou aquilo. Muitos dos senhores e senhoras
verborrágicos (as), não passam de grandes malandros oficiais, cuja
irresponsabilidade com as vidas, encerra-se diante dos interesses de outros
tantos malandros privados que os saciam de dinheiro com grandes esquemas, nos
quais, o ser humano, para eles, é apenas um caminho para que possam se tornar
muito mais ricos em uma sociedade cada dia mais adoecida, empobrecida e com
crescentes números de suicídio na infância e adolescência.
Estou, há vários anos,
alertando sobre a necessidade de programas preventivos e resignificativos em
saúde mental nas escolas, objetivando, não apenas, preparar nossas crianças e
adolescentes quanto ao conhecimento do mundo em que vivem, mas, principalmente,
em relação ao mundo que são. Assim, poderiam repensar suas vidas, não as
encerrando precocemente.
Quantos são os sonhos
enterrados que poderiam mudar a historia de um povo, de uma pátria, do mundo em
que vivemos, ou mesmo, de suas próprias existências, tornando-as um oásis que,
em pleno deserto de dores e angústias, constroem um refrigério de fontes vivas
que alegram e fazem florescer. Entretanto, quantas vezes fui a várias escolas e
órgãos públicos, e pasmem, ouvi de proprietários e gestores que esse foco não
era prioridade, ou então, para piorar, que “cabe a família tal responsabilidade”. Não! Cabe a cada um de nós a responsabilidade
em criar condições favoráveis à perpetuação da vida, principalmente, em relação
as nossas crianças e adolescentes, cujo processo de desenvolvimento encontra-se
em construção.
Tenho, a partir do
trabalho que desempenho quase que solitariamente, por meio de meus artigos publicados
pelo Diário da Manhã, do Jornal O Rebate (Macaé – RJ), pelo livro recém–lançado
“Que educação estamos construindo, que possibilidades estamos produzindo?”,
pelo apoio da Escola Internacional de Goiânia, na pessoa de seu Diretor, Dr.
Fernando Rassi, semeado idéias quanto a necessidade da implantação de programas
preventivos e resignificativos em saúde mental no ensino fundamental. Programas
fundamentados em técnicas que nos levem a conhecer os alunos em suas
complexidades, tanto pedagógicas, quanto psicológicas, trabalhando os processos
psicoafetivos de nossas crianças e adolescentes, para que, assim, possamos
assegurá-las o direito a uma existência plena, conhecendo suas lágrimas, suas
feridas, seus medos, o impacto de suas perdas e também o regozijo de suas
conquistas.
Assim, vou semeando um
pouco de esperança e amor nessa trajetória, até mesmo, dos que me tem por
inimigo, afinal, até em seus jardins posso ver florescer o investimento de
minhas lutas.
Mas há um vasto caminho
a ser percorrido, afinal, os relatos são gravíssimos. Na Bahia, no mês de
agosto, um jovem, após discutir com sua namorada durante uma festa em um sítio,
disse que atiraria o carro em uma carreta. Pronto, o fez, e ainda causou a
morte de mais cinco adolescentes que estavam de carona. Em setembro, um aluno
morre ao cair do quinto andar de uma escola no Rio de Janeiro. Em Goiânia, uma
adolescente de 12 anos, salta do décimo andar de um prédio em uma clínica em
Goiânia. Em 2011, um jovem com histórico de Bulling, adentra uma escola em
Realengo e mata 12 alunos. Em setembro de 2011, um aluno de 10 anos, após abrir
fogo contra sua professora, suicida-se em frente a seus colegas, em São Paulo.
No Brasil, em 20 anos,
o número de mortes por suicídio cresceu 1900% entre adolescentes entre 15 a 24
anos. Por ano, temos mais de um milhão de suicídios, sendo que, esse numero,
segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde, crescerá a tal ponto em
2020, que teremos um milhão e 500 mil suicídios. E aí, o que será feito para
que possamos minimizar tais expectativas? Quais são as escolas que adotam
programas preventivos em saúde mental no ensino fundamental?
O suicídio não é uma
atitude súbita, mas, sutilmente anunciada por diversas mudanças de
comportamento, até mesmo, muitas vezes, verbalizada. Portanto, aquele que anuncia que irá cometer
tal ato, poderá fazê-lo se não houver intervenção dos pais, escolas, Governos e
profissionais em saúde mental.
No livro, “Que educação
estamos construindo, que possibilidades estamos produzindo?”, faço uma crítica
ao modelo educacional, mas, contudo, apresento um programa constituído de três
etapas, sendo elas, a avaliaçâo de cada aluno da instituição com devolutiva aos pais, orientando-os a lidar
com seus filhos, bem como, os cuidados necessários. Também oriento as escolas
visando, não apenas, os processos de aprendizagem, mas, estabelecendo o
respeito a cada criança e adolescente quanto aos processos, tanto cognitivos e,
principalmente, o desenvolvimento psicoafetivo. Sugiro também, a implantação de
oficinas de criatividade, onde, serão trabalhadas, dentro das escolas, aspectos
relacionados a percepção social, familiar, adolescência, identidade,
inteligência, vida afetiva, sexualidade, identidade, violência e outros.
Portanto, quanto ao que
está acontecendo, deveríamos nos perguntar o que tem sido feito, afinal, se não
mudarmos nosso conceito sobre educação e nossa postura em relação aos processos
de desenvolvimento, seremos sim, cúmplices de cada dor que ceifa precocemente
as vidas de nossas crianças e adolescentes.
Marcus
Antonio Britto de Fleury Junior, Psicólogo e um dos coordenadores do Ateliê de
Inteligência e do Programa preventivo e resignificativo, dirigido a crianças e
adolescentes no cotidiano escolar e familiar.
ateliedeinteligencia@gmail.com
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