As máscaras que escondem as temerárias medusas
Os que fazem das
predileções à determinadas pessoas em detrimento a outras, geralmente no âmbito
familiar, nada mais fazem, senão, assumir o ódio que trazem em suas histórias e
na constituição de sua personalidade. No dia-a-dia, para conviver socialmente, constroem
uma imagem perante a opinião pública como alguém, cuja bondade e semblante de
profunda misericórdia, investidas na performance de uma criatura sofrida e
desamparada, venha merecer de todos a devida
atenção a qual justamente se negam a oferecer.
Tais pessoas mantêm um
elevado egoísmo e uma neurose não assumida que se manifestam justamente nas
predileções, pois, um dia, em suas infâncias, sentiram-se rejeitadas e, para
deslocar suas angústias e promover o sofrimento a outras como forma compensatória
de toda dor que sentem, deslocam sobre alguém, a quem sentem bem próximo, todo mecanismo
de ódio e frustração, tentando criar no outro, o qual rejeita, um espelho para
que possa contemplar a si mesmo e ver seu teatro de horrores encenados no corpo
de outra pessoa, manifesto em tristeza e frustração, sendo isso, o alimento de
seu interminável ódio não tratado.
A psicanálise nos
permite ir muito mais além, considerando, claro, a importância de todos os outros
vieses, afinal, a cada um é designada uma importância. No contexto da
interpretação e análise, Freud, nos lançou num vasto oceano: o inconsciente. Nele
somente, nos resta fazer um grande mergulho em busca do que somos, ou, então,
do que não somos quando apresentamos ser algo, sem que jamais passássemos sequer
tão próximos das fantasias que vestimos e das máscaras que escondem a face temerária
de Medusa, com suas assustadoras serpentes no lugar dos cabelos e na representação
do ódio implícita no olhar, muitas vezes, escondido, pela aparência angelical,
pois, se empenhará em ir até o fim, destinando às pessoas a quem deseja vingar-se
toda sua desgraça e horror interno.
A psicanalista austríaca
de origem judaica, Melaine Klein, dizia que “a imagem se origina do olhar da
mãe”. Então, a criança, capta através do olhar materno tanto o afeto, como a
rejeição, pois, para ela, a mensuração não se baseia em pouco ou muito, mas sim,
em existente ou inexistente.
Assim, nos é possível
compreender a personalidade daqueles que ensaiam nas palavras a beleza negada
pelo olhar, dentro de uma estrutura que reside uma grande ambivalência, e que, para
livrar-se de sua própria angústia, desloca toda sua pulsão de ódio, visando atingir
a alguém, para assim, vingar-se no corpo de outrem, cujo sofrimento, será seu
alimento e a renovação do veneno que corre nas jugulares da medusa que traz
dentro de si.
Tais pessoas, desde que
queiramos, tornam-se facilmente identificáveis, estando as mesmas, sempre às
voltas de alguma situação que possa reviver seu ódio e implantar a vingança;
claro, nunca assumindo suas reais intenções, mas, sempre usando de um jogo de
palavras e comportamentos, para que possam enganar a muitos, pois, a arte do
engano e da dissimulação é a fonte de um gozo ao qual se sentem vingadas, afinal,
o prazer para quem é assim, não passa de um contexto de perversões, onde tudo
vale, até que a dor seja manifesta em outrem, principalmente, os que estão próximos,
pois assim, imaginam perpetuar em outros corpos a mesma desgraça que são suas
vidas, para que possam contemplar com seus próprios olhos o grande mal que
sempre buscam fazer.
Marcus
Antonio Britto de Fleury Junior, Psicólogo e um dos coordenadores do Ateliê de
Inteligência e do Programa preventivo e resignificativo, dirigido a crianças e
adolescentes no cotidiano escolar e familiar.
ateliedeinteligencia@gmail.com
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