Quantos já disseram que seria a última vez?
A finalidade dos sentimentos não reside na
incansável tentativa em viver algo que possivelmente esteja tão morto, que
exauri de nossas esperanças a mera lembrança de um sorriso ao final de um dia
exaustivo, onde, o encontrar-se com o outro, torna-se uma tarefa extremamente
sofrida e desestimulante. Só em pensar, dá vontade de trabalhar mais uns dois
turnos de 8 horas.
A responsabilidade quanto ao que vivemos é
pessoal, intransferível e jamais poderá anular o outro, nem mesmo
submetê-lo a intermináveis questionamementos, daqueles que esperamos que o
outro fale tudo o que nossa paranóia precise para validar nossa neurose.
Não dá para sustentar, nem mesmo, carregar um
bagageiro lotado de culpas, quando a fragilidade da relação tem como peso um
enorme potencial destrutivo. É necessário que avaliemos periodicamete se
realmente estamos vivendo o que merecemos, e se também estamos permitindo que o
outro também o viva.
A relação, quando adoece, atinge a todos que
dela participam ou se aproximam, sendo então, um grande um ato tirano, covarde
e violento mantê-la apenas por tolas vaidades e outros interesses, afinal, os
sentimentos, quando fogem aos propósitos do amor, agregam outros valores que
estão muito distantes do viver bem, do tesão, da cumplicidade.
As relações transformam-se a partir daquilo que
investimos, então, se agregramos exigências não satisfeitas em nós, imporemos
ao outro a exigência em sermos gratificados, para apenas saciar intermináveis
dúvidas que, verdadeiramente, massacram.
O amor refuta quaisquer formas de
cobranças, aliás, se cobramos, já estamos próximos da pior forma de
convivência, pois, a suavidade dos melhores sentimentos não sustenta o peso de
nenhuma forma de opressão.
Por acaso, algum dia, ao término de um
determinado relacionamento, você saiu “tateando” a vida, procurando
encontrar-se a si mesmo? Encontrou-se, ou, ainda sente-se como quem perdeu
algo muito importante e, nem mesmo o mundo de fórmulas e receitas do tipo faça
isso, faça aquilo, 12 princípios para mudar uma vida, o sucesso é ser feliz, e
outras papagaiadas, por mais que o deixe animadinho por talvez 12 semanas, o
fez encontrar-se a si mesmo?
Então, o que estará faltando? Aliás, onde, e em
que parte da existência algum dia você se abandonou? Quais foram os motivos que
o levaram a distanciar-se de si? Os medos que cultiva em si, mas, os atribui
sempre ao outro?
As relações, quando mais rígidas, ao
romperem-se, partem-se em milhares de fragmentos, e como estilhaços, deixam
feridas que machucam profundamente, remetendo-nos à confusão quanto aos
sentimentos; então, confundimos nossas dores agregando ódio para que
justifiquemos responsabilidades que são pessoais e intransferíveis.
Se estruturamos nosso amor em bases flexíveis,
por mais que emborque e pareça não suportar o peso das pressões, voltará
ao estado de repouso de forma forte, mantendo a importância
dos sentimentos, mesmo em meio a milhares de trasnformações. O amor requer
flexibilidade, lembre-se disso.
O amor não é um sentimento totalitário. Ele
precisa da presença, da proximidade e do convivio com outras pessoas, afinal,
caso venhamos exigir que se torne uma ilha isolada, nos privamos do direito em
vivê-lo, tornando-o, apenas uma estada num resort de decepções e sofrimentos.
Quantas foram as vezes que você afirmou para si
mesmo que seria a última vez que amaria daquela forma? Isso, realmente, foi um
grande insigth, uma afirmação extrememente precisa, pois, caso se prontifique
amar da forma que sempre amou, obterá os mesmos resultados e fará de sua estada
nos resorts do sofrimento, um endereço fixo, onde, somente novos protagonistas
encenarão o enfadonho teatro da desgraça existencial, semeando as velhas
limitações próprias do que já perdeu a finalidade, a essência, os valores
e, pricipalmente, o respeito.
Aquele que tenta estabelecer ao que está sendo
vivido expectativas de relacionamentos anteriores comete, mais uma vez, um
grande desrespeito a si e ao outro, pois, se analisarmos bem, a pessoa torna-se
apenas a representação de um corpo no qual é projetado e transferido paixões e
amores mal resolvidos, arrastando-as por várias camas, vários tribunais, vários
velórios e vales de profunda de angustia.
Quantos são os que se enterram sem que jamais
tenham conseguido sepultar vários sentimentos que deixaram para trás? Quantos
foram sepultados pelo mal que mantiveram dentro de si, sendo então, eles, a
sordidez em pessoa, afinal, se nem para si mantiveram respeito e lealdade,
pois, jamais, consiguiram acender o brilho de uma chama que incandece o olhar
todas as manhãs.
Vou, novamente, refazer a mesma pergunta que fiz
ateriormente. Quantas foram as vezes que você afirmou para si mesmo que
seria a última vez que amaria daquela forma?
A afirmativa está corretíssima, afinal, só se é
possivel desfrutar o amor caso consigamos transformar nosso olhar em relação ao
mesmo, afinal, cada relacionamento que nos permitimos viver, requer uma
identidade própria, construída a partir das expectativas de cada uma das partes
que formam o relacionamento. Essas duas pessoas que, por serem tão diferentes,
tornam-se tão imprescindíveis um ao outro.
É necessário que nos depojemos, não levando aos
novos relacionamentos as pessaoas com quem nos relacionamos no passado. Quais
são as circusntâncias onde transformamos novos relacionamentos nas angústias
que não pudemos atender nas experiências passadas?
Quantos são os que transferem para os que com
eles vivem um conjunto de leviandades do passado; culpas, cobranças,
desconfianças e tantos outros traumas mal tratados? Um verdadeiro depósito de
lixo emocional, cujo, fétido odor, contamina um enorme grupo de pessoas,
destituindo o caráter da singularidade das relações, pertinentes ao amor.
Assim mesmo, quantas tentativas em amar
produzimos e forjamos antes que nos desfizessemos dos relacionamentos que
encerram-se? Não dá para viver a crença que amar é uma coragem, um ato
necessário num mundo que refuta a solidão, mas, a vive, muitas vezes, a dois.
Isso é fuga e o prenúncio dos fracassos afetivos.
Diante de nossos fracassos, quais são então, os
nossos recursos? Acusar uma infinita lista de pessoas, responsabilizando-as por
aquilo que é individual?
Um ato de coragem é caminhar por diante da
própria vida, buscando conhecê-la na intimidade sem que cobremos dos outros as
responsabilidades que são pessoais. Então, é necessario que nos conheçamos e
aprendamos que no campo do amor vivemos o que estruturamos.
Não dá para entrar sangrando na casa de quem
quer que seja. O lugar certo não é o coração do outro para ser para ser feliz,
mas, o seu próprio, para viver a intensa felicidade, assumindo-se como
potencial autor a reescrever sua história e a de mais ninguém. Quem acredita
que irá mudar a vida de outrem, nada mais fará, senão, destruí-la e destruir a
sua própria.
Marcus Antonio Britto de Fleury
Junior, Psicólogo e um dos coordenadores do Ateliê de Inteligência
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