O
amor não é exigência para a felicidade
A hipocrisia das
conceituações do sentimento de amor faz da possibilidade em vivê-lo, muitas vezes,
o contrário daquilo que as pessoas tanto procuram, levando-as ao mais intenso
desespero, tal como, inocentes que estão lançados ao fundo das mais inóspitas
prisões. Assim, a escuridão, nada mais é,
senão, a ausência que impomos a nós mesmos; o auto-abandono que estruturamos às
nossas vidas por um dia acreditarmos que alguém seja o responsável em trazer o
que somente nós podemos buscar.
Quantos são os que
esperam que o padrão religioso do amor, ou mesmo, comercial, ou então, as meras
convenções sociais, venham lhes trazer algo que é de plena responsabilidade
pessoal. O amor é pessoal e intransferível. Não pode ser atribuído, a quem quer
que seja, como uma responsabilidade a ser desempenhada pelo outro, como nas
inúmeras sensações em nossos corpos. Isso não é amor, mas tesão e outras formas
de estimulações, que logo mais, se não houver auto-estima e um Eu sempre pronto
a reformular os capítulos de nossas histórias de vida, passarão, deixando para
trás, apenas as lembranças que nos cobram, não apenas de nossas mentes, mas, de
inúmeras pessoas. Lembranças daquilo que não mais existe, ou mesmo, do que está
esquecido e fôra investido numa única vez, como se a existência fosse assim,
tão limitada e terrivelmente miserável.
O que chamam de “amor”,
nessa sociedade que nada é de moderna, ao contrário, um grande atraso, cheia de
objetos que levam essas coisinhas de duas pernas, intitulados de seres humanos,
a serem tão desumanos, é justamente as conceituações estabelecidas ao tesão mal
elaborado, que mais cedo ou mais tarde, chamarão de “amor”. Por isso, os finais
dessas histórias que começam elevadamente celebradas, e poucas vezes bem
elaboradas, terminam em célebres enredos de tragédias e destruições.
Quantas são as pessoas que, pela ausência de
si mesmas, ao permitirem-se anular em nome das exigências que satisfazem as
expectativas de alguém, estão hoje lançadas aos estigmas, justamente, por terem
frustrado aqueles que nunca encontraram-se?
O amor não é exigência
para a felicidade, ao contrário, existem pessoas que, em seus momentos de
solidão, contemplam o regozijar-se do estar só, expondo o contentamento com o
que são e com o que vivem, e assim, sabem muito bem que podem sempre ir muito
mais além em suas vidas, sem a sujeição ao egoísmo, ou, ao adoecer coletivo dos
que buscam sentimentos nos outros sem
que ao menos saibam o papel que os mesmos representam em suas próprias vidas.
Há casais que se
destroem uns aos outros responsabilizando uma das partes pelas frustrações
quanto às expectativas que transferem.
Há amizades que já
nascem adoecidas por acreditar que uns completam os outros.
Estamos numa sociedade
que está a séculos na “UTI”, padecendo pela inobservância quanto a
grandiosidade da vida e, não pela limitação da mesma a uma bula repleta de
contra-indicações que muitos fazem de conta desconhecer.
Aos poucos,
compreendemos que não podemos corresponder às expectativas de quem quer que seja, por mais que
tenhamos profundos níveis de
convivência. Isso, não limita a felicidade que podemos viver, nem tampouco, a
completitude que nos faz sentir prazer, mas, amplia nossa condição quanto à
compreensão ao papel do amor em cada um de nós, desde que saibamos da
importância desse sentimento que cultivamos.
Sou conhecedor da
beleza existente nas mais belas flores, mas, não exercitarei o egoísmo próprio
dos que adornam seus altares arrancando-as dos jardins, pois assim, meus olhos
vêem e meus sentimentos se renovam, aprendendo que o amor não é o que tomamos
como posse, mas o que consolidamos em nós mesmos, como um doce remanso para que
compreendamos o grande valor e intenso prazer que há em existir.
Marcus Antonio Britto
de Fleury Junior é psicólogo é coordenador do Ateliê de Inteligência.
ateliedeinteligencia@gmail.com
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