Agradar é exaustivo.
Quantas normas, padrões e
tantos outros mecanismos que, se analisados e desconstruídos, apresentam apenas
o interesse em estabelecer o controle social, sexual, econômico, cultural e
político, proporcionando assim, limitação quanto à produção do pensamento,
descaracterizando o ser pensante em relação ao ainda tão mal definido ser
humano. Como defini-lo, se, possivelmente, não tenhamos sequer nos aproximado
de nós mesmos, e, continuemos acreditando nas definições que estabelecem critérios
limitantes sem sequer questioná-los, desconhecendo como quem e, por que foram
formulados?
Há no grito desesperador de uma pós-contemporaneidade sem identidade, acalentadoras sublimações, onde, o corpo torna-se a vingança daquilo que a mente não consegue elaborar, daquilo que não se pode sustentar em virtude das mais variadas formas de medo, entre elas, de assumir aquilo que se é, aquilo que fala alto, pedindo espaço para mover-se diante da inaceitação de si mesmo e, na necessidade de fazer a si mesmo aquilo que mais necessita ser vivido.
Michel Foucault, nasceu em
1926, na França. Filho, neto e bisneto de médicos, travou, desde muito jovem,
os mais intensos conflitos, e, mesmo diante daquilo que seu pai considerava
inapropriado ao comportamento, lá estava ele, fazendo suas críticas àquilo
que não acreditava, porém, perseguido
por si mesmo e mergulhado em sentimentos muito mais complexos que qualquer
definição possa estabelecer ou dizer ter domínio. Quando demonstro 19bb7680u interesse pela filosofia e pela história desencadeou a
fúria em Paul Foucault (seu pai), que, tiranicamente, exagerava na forma em
punir o filho. Michel Foucault, pouco antes de morrer, confidenciou que o pai
o obrigou a ir a um centro cirúrgico,
objetivando puni-lo, para que, segundo suas próprias palavras, “se fizesse
homem”. A partir daí, a vida do jovem Michel Foucault tornou-se um suplício,
sendo as condenações contínuas, um ato mais profundo que o vigiar e muito mais doloroso que o punir. Em
1948, tentou o auto-extermínio, como ele próprio define 29 anos depois em
Vigiar e punir (1977): “Uma pena, para ser um suplício, deve obedecer a três
critérios principais: em primeiro lugar, produzir uma certa quantidade de
sofrimento que se possa, se não medir exatamente, ao menos apreciar, comparar e
hierarquizar; a morte é um suplício na medida em que ela não é simplesmente
privação do direito de viver, mas a ocasião e o termo final de uma graduação
calculada de sofrimentos... o suplício faz parte de um ritual. É um elemento na
liturgia punitiva, e que obedece a duas exigências. Em relação à vítima, ele
deve ser marcante: destina-se a ou pela cicatriz que deixa no corpo, ou pela
ostentação de que se acompanha, tornar infame aquele que é a vítima... E pelo
lado da justiça que o impõe, o suplício deve ser ostentoso, deve ser constatado
por todos, um pouco como seu triunfo”. (Vigiar e Punir,1977)
Assim, Foucault não mais se
sujeitou à penosa tarefa em agradar, assumindo o que buscava viver em sua
história e em seu corpo, renunciando os maestros da exclusão que, nas “suas
regências”, estabelecem “os concertos” mais desconcertantes, cujas “notas”
segregam a liberdade da criação, sufocando a subjetividade e furtando dos
excluídos, seja por detrás dos muros, das celas ou então nos cárceres da emoção.
Foucault, passou a ser ele
mesmo, interpretando sua própria história, fazendo de sua existência, não mais
uma certeza, aliás, ele trabalhava na incerteza, fazendo da mesma, sempre os próximos passos a adentrar no campo onde muitos não se
dispõem a ir, desconstruindo sempre a fragilidade estabelecida no discurso da
tão razão.
Portanto, agradar é tão exaustivo quanto às críticas
que recebemos por sermos nós mesmos. Quem seria Foucault caso houvesse se
tornado aquilo que seu pai idealizou? Possivelmente, nem saberíamos que houvesse existido . Entretanto, não se deteve
em agradar e, ao morrer, em 1984, aos 57 anos, ele, o filósofo, era a expressão
de maior notoriedade do pensamento, tendo sua obra, ocupado um lugar central
nos movimentos que buscavam na história da exclusão, desconstruir os paradigmas
quanto à loucura, a sexualidade, o sistema penal e as relações de poder.
Psicólogo e Coordenador do
Ateliê de Inteligência
0 Comentários:
Postar um comentário
<< Home