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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

“Não ousar é perder-se”.


Quantos de nós, diante do receio em relação à opinião dos outros quanto àquilo que consideramos necessário, nos desfazemos das possibilidades em estruturar às nossas vidas algo que, por mais distante e incompatível aos juízos de valores, seria a grande possibilidade em romper com o cárcere da angústia, renunciando assim, ao legado dos que buscam nas mágicas soluções, seja nas prateleiras das farmácias, nos bancos das igrejas, no consumo compulsivo, na ditadura da estética, ou outros mecanismos quaisquer, formas em esconderem suas renúncias?

Quando se perde a intensidade, torna-se possível vislumbrar que algo, por aproximar-se tanto daquilo que se é, diante da possibilidade em descobrir-se e frente à grandiosidade que está tão próxima, remete as pessoas a anularem-se, rendendo-se a ilusão de um “mundo seguro” que as abriga. Entretanto, mais tarde, descobrem que o mesmo, nada mais é, senão, o conluio dos infelizes, onde podem-se ver uns nos outros, mensurando, numa sensação de alivio e conforto, o sentimento de culpa que nutrem quanto aquilo que escolheram viver, afinal, o que destinamos a nós mesmos, nos eleva a condição em ser ou não aquilo que desejamos ou temos a fazer por nós mesmos.

O mundo está cada vez mais imerso à síndrome de Jonas, desvencilhando-se daquilo que é necessário ser feito, unicamente pelo fato em temer destituir antigos valores, sendo esses, os mesmos que fazem com que essa coisa redonda que gira em torno de si mesma imponha resultados cada vez mais catastróficos e limitantes, elevando acentuadamente a legião de infelizes prontinhos dentro de suas roupinhas e, inebriados em seus perfumezinhos, tentam esconder por detrás de suas armaduras o horror que as assola e o fétido odor que as aproxima do cheiro da morte, estando esse, manifesto nos corpos diante a fobia que ensaia no teatro do corpo, revelando as renúncias sufocadas, porém cada vez mais vivas, sempre prontas a vingar-se do algoz que tenta de maneira ineficaz colocá-la nos porões da existência.

Assim, ao ousarmos, não sei se perdemos momentaneamente o equilíbrio, como definia Kierkegaard, afinal, os conceitos que sustentam interesses cerceiam, emudecem e robotizam as pessoas, entretanto, é possível compreender que, “não ousar é perder-se”, refutando, dessa forma, a excelência em podermos fazer de nós mesmos, diante dos grandes desafios, algo muito melhor em relação ao pior que aí está estabelecido com cara de paraíso, com preço e data de validade para ser vivido.

Nada, em tempo algum, será maior ao que podemos descobrir quando ousamos em meio ao caos existencial. É nele que nos reorganizamos e que nos reconstruímos; entretanto, é preferível a desordem, pois, a ordem extrema está nos olhos dos infelizes.

Marcus Antonio Britto de Fleury Junior.
Psicólogo, Coordenador do Ateliê de Inteligência e do Núcleo de estudos Michel Foucault e do programa de prevenção a depressão, pânico e outros transtornos.

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