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sexta-feira, 9 de agosto de 2013

A quem interessa transformar um adolescente em assassino?


   

É, lamentavelmente, no tempo  que estamos, ao invés de pensarmos na dor da família, amigos, professores, vizinhos, o que mais se discute é uma hipótese,  quase que definindo-a como sentença acusatória a um adolescente. Os sentimentos, esses, me parecem não ter tanto valor em tempos onde necessitam de culpados, mesmo que, para tal, tenham que criar um que sequer tem como se defender.

Diante das circunstâncias inerentes ao trágico episódio na família Pesseghini, a meu ver, tudo não passa de especulações, portanto, há de se ter muito cuidado com os apostadores de plantão, afinal, estamos diante de um caso extremamente complexo, que até sabe-se lá, quanto tempo requer para que seja completamente elucidado.

Prematuramente, transformam um pré-adolescente numa criatura perversa, mas, no entanto, ficam dezenas de circunstâncias que, até o presente, não foram esclarecidas. Entre elas, se há ou não uma denúncia da mãe, que era cabo da ROTÃ, quanto ao desvio de conduta de colegas de farda, principalmente, depois do “disse não disse” do Coronel Comandante do 18 BPM , e seu súbito mal estar, justamente na manhã do dia 08 de agosto, quando iria fal ar com a imprensa sobre a veracidade do que havia dito no dia anterior.  

Na verdade, me parecem estar atônitos e diante de cobranças sociais, talvez não pudessem suportar a responsabilidade quanto a prováveis linhas investigatórias. Sim, não podemos descartar de forma tão breve nada, muito menos, essa hipótese.   

Outra dúvida se dá em relação aos disparos tão certeiros, desferidos na cabeça, onde, apenas foram encontrados um projétil, todos eles no crânio, numa pontaria extremamente precisa para uma pessoa de 13 anos. Sem falar na complexidade de um cenário meio cinematográfico.  

Mesmo que agora sejam criadas versões que o pai tenha ensinado o filho a atirar, a dirigir, ou, a qualquer outra coisa, não cabe a quem quer que seja, o papel em apontar um provável autor desse homicídio de forma assim tão leviana e prematura.  

Basta de leviandades, sim, basta! É possível que um crime como esses exista? Sim, é óbvio, afinal, estamos falando de um ser humano, e quantos outras atrocidades com elevados requintes de crueldade e  cujos autores eram bastante jovens não foram comprovados em vários países ? Dezenas!

Mesmo que o Papa Francisco tenha dito que Deus é brasileiro, estaremos sempre sujeitos a grandes tragédias sociais, familiares, políticas, ambientais e muitas outras. Sabemos que não é fácil, e diante das muitas especulações, nos tornamos, em muitos momentos, presas dóceis, aceitando com muita facilidade determinadas “verdades” que podem estar contaminadas por uma contingência de interesses.

Estabelecer hipóteses quanto a diagnósticos diferenciais em saúde mental é perfeitamente aceitável, porém, em relação a tal caso, é necessário um pouco mais de prudência, principalmente, de “celebridades” da psiquiatria e da psicologia quanto a afirmações que criem sobre pré-adolescente, uma figura sociopata.  

 Quando algumas pessoas me pediram para que eu estabelecesse um perfil do adolescente apontado por uma das linhas de investigação, me neguei, entretanto, quem o desejar que o faça prematuramente, eu não. Estou anotando, e o que ouço o faço com muito interesse e respeito, sem desprezar um detalhe sequer, entretanto, sem deixar-me contaminar, afinal, não é prudente que de maneira tão superficial acreditemos que da noite para o dia, uma super- polícia “nissin miojo”, surge em São Paulo, elucidando tudo instantaneamente.

Caso eu esteja enganado, não me importarei em redimir-me, e aí sim, retomar ao fato, mas, no momento, seria criar um assassino para justificar o fracasso em série de um Estado adoecido e perverso.

 

Marcus Fleury é psicólogo, coordenador do Atelie de inteligência .  ateliedeinteligencia@gmail.com

 

 

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