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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Das algemas retiradas por Pinel , aos muros derrubados por Franco baságlia









Se infeliz ou não, cabe à interpretação de quem lê minhas ponderações feitas em relação à audiência pública realizada no auditório da Câmara Municipal de Goiânia, como intuito em debater o atendimento a saúde mental na nossa capital.

Em momento algum desferi criticas a psiquiatria, mas sim, a um modelo antigo e extremamente cruel que necessita ser lembrado para que na atualidade não venhamos incorrer na incoerência de práticas cerceiam e dilaceram o ser humano.

Quanto ao Instituto de Psiquiatria da USP, não resta dúvidas da qualidade científica que o mesmo, desde sua fundação na década de 1950,vem proporcionar a toda sociedade o direito a desfrutar de políticas avançadas e bem fundamentadas por parâmetros científicos. Essa instituição de ensino e pesquisa faz grande diferença entre o que é um hospital psiquiátrico e um manicômio. Isso é evidente e claro. No entanto, Goiás, não dispõem de uma estrutura como a USP, nem mesmo às universidades estaduais de nosso estado são feitos os mesmos repasses. Ao mesmo tempo, vale ressaltar que nossos médicos são sujeitos a honorários baixíssimos, agregados a uma elevada carga laboral desprovidos de condições adequadas de trabalho.

É, realmente, não estamos em São Paulo, e mesmo que estivéssemos, não é o Estado que faz a diferença, mas a seriedade do caráter científico e da eficiência das políticas públicas implantadas em conjunto a equipes multidisciplinares.
Sorocaba, que eu saiba, ainda está no estado de São Paulo, e em tal cidade, em menos de 3 anos , morreram 459 pessoas dentro dos manicômios; isso, nos anos de 2006 a 2009, registrando um índice de óbitos elevadíssimo, totalizando 16,5 para cada 100 leitos. Tais índices, estão muito acima dos existentes em São Paulo, que são de 6,5 para o mesmo número de leitos. Portanto, isso não é uma batalha ideológica, nem muito menos um revanchismo corporativista, porém, um grave fato. “Contra fatos, argumentos não contam”.

Felizmente, a reforma psiquiátrica, lei 10.216, vem estruturando redes substitutivas, sendo essas, amparadas pelos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), atualmente, mais de 1600 unidades; estruturação de leitos em hospitais gerais; os programas de volta para casa(que visam reintegrar socialmente pessoas acometidas de transtornos mentais, “egressas de longas internações, segundo critérios definidos pela lei 10.718, de 31 de julho de 2003”); das residências terapêuticas (locais de moradia destinadas a pessoas com transtornos mentais que permaneceram em longas internações e são impossibilitadas em retornar às suas famílias de origem).

Em relação ao envelhecimento da população brasileira, o mesmo se dá em decorrência da elevação da expectativa de vida do brasileiro, cujos motivos vão desde o desenvolvimento de técnicas médicas, recursos farmacológicos, das técnicas de outras ciências como a fisioterapia, psicologia, nutrição, educação física, agregados a pesquisas onde entram a sociologia e a filosofia.

A interdisciplinaridade constitui o campo que redefine uma nova postura em relação à compreensão do ser humano, ressaltando que as hierarquias são inerentes não da ordem de um saber, mas, posicionam-se de acordo com vicissitudes próprias a cada momento a ser analisado. Portanto, a terceira idade, não é objeto de uma disciplina, mas uma responsabilidade de todas.

Portanto, penso que pessoas acometidas por processos neuro-degenerativos, devem , ser tratadas em leitos dos hospitais gerais, ou de especialidades neurológicas, inseridas aos PSF (programas de saúde da família), atendendo o Estatuto do Idoso.
Em relação às pessoas em estado de vulnerabilidade social, ainda expostas de forma preconceituosa como “mendigos portadores de transtornos mentais”, devem receber todo suporte e tratamentos propostos pelas atuais políticas de saúde mental, não sendo a lei 10.216, responsável pela elevação dos mesmos, estarem “andando pelas ruas”. A todos é garantido o direito ao convívio social e todas prerrogativas constitucionais.

É notório, que a cádetra do um PhD , deva ser respeitada; entretanto, a sabedoria de quem se destaca por seus títulos, em momento algum, deve desmerecer os estudos interdisciplinares para a execução de políticas públicas que evidenciam-se em grandes avanços biopsicosociais; negá-las, seria um ato de incoerência , desconhecimento e , acima de tudo, uma má fé.

Generalizar posicionamentos empíricos a condutas políticas é um discurso construído com intuito em agregar apoio da opinião pública, sendo uma jogada bastante conhecida, porém , quando desconstruímos a fala e revelamos a o que pode estar por detrás da intencionalidade dos ataques a quem quer que seja, evidenciam-se os verdadeiros motivos de que a faz.

Não desejo ser ouvido e sequer reconhecido, aliás, tenho minha conduta pautada não nas bajulações, nem mesmo a revanchismos ideológicos, por isso não me disponho a apresentar pesquisas científicas em relação a eletro-convulso-terapia. Minha área de atuação e pesquisa vai muito mais além, sendo ela a psicologia e educação.
Então, é meu direito acreditar e defender o que acredito e , agora , se algumas convicções são tão frágeis, nada posso fazer a não ser sugerir um divã. O meu, faço bom uso como analisando.

Ao término, esclareço que nada tenho contra quem quer que seja, aliás, essa não é minha formação. Acredito no debate de idéias, no respeito às diferenças e na interdisciplinaridade como forma em constituirmos uma sociedade que não se esqueça das algemas retiradas por Pinel, nem mesmo derrubados pelo Psiquiatra Franco Basaglia.
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Marcus Fleury Junior - Psicólogo

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