Cuidemos de nossos jardins
Na caminhada existencial, nada poderia ser maior que as referências de uma mulher, afinal, são elas que desde o processo da fecundação garantem os níveis de sustentação interna, para que, diante das vicissitudes da vida, saibamos as escolhas que fazemos e os caminhos que decidimos percorrer. Noto que os grandes líderes espirituais, de Moisés a Jesus, absorveram desde a mais tenra infância a grandiosidade dos sentimentos, afinal, ambos foram desejados diante as mais duras inseguranças.
Um, teve de ser lançado à sorte nas águas do Nilo, porém, imerso em um oceano de emoções. O Outro, Jesus, teve desde a vida embrionária que conviver com os mais diversos sentimentos de sua mãe (medo, angústia, solidão, renúncias, fugas geográficas, preconceitos); entretanto, a dedicação, o investimento afetivo e o acolhimento, foram capazes de gerar pessoas que modificaram a ordem das estruturas, pois, as mesmas, rompem-se sempre diante das próprias fragilidades.
Não sou religioso, aliás, acredito que as religiões foram motrizes de grandes guerras, mortes e desculpas para os fracassos do ser humano diante de suas vaidades e da infeliz humildade anunciada por tantos, em alto e bom tom, porém, nada é mais arrogante que, quando pronunciamos: “Sou humilde, eu sei que sou”! Esse é um projeto humano, “demasiadamente humano”, próprio de uma espécie que exclui suas imperfeições, sendo essas, grandes características de nossa história existencial.
Concebo que caráter se forma com doçura, ressaltando assim, mais uma vez a importância do afeto, mesmo quando somos cerceados pelas agruras que fazem o insensato perder-se na histeria de suas auto-flagelações, sendo tais comportamentos, nada mais que confissões dos sentimentos de culpa diante da incapacidade em lidar com os próprios medos em tornar-se alguém, sendo sempre necessário, diante de suas inseguranças e complexos, anunciar suas auto-condenações, dessa forma, o mal que eles próprios criaram.
Um tempo mais tarde, passamos a compreender, não que o mundo conspire a favor, mas, que, imersos na poesia de Mário Quintana, saibamos que “o segredo não é correr atrás das borboletas, mas cuidar dos jardins para que elas venham até você”.
Ah, isso é a maravilhoso e completamente elevado! Estando sempre aberto ao que se dispuser modificar, não utilizando dos espinhos como pretexto para anular-se, ou mesmo, sentenciar-se em meio as carcaças do ódio, local esse, onde são visíveis apenas os famintos urubus.
Continuando com Mario Quintana, passamos com o tempo e a sabedoria dos que a tem, “compreender “que para ser feliz com outra pessoa, você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela”; dessa forma, acredito que nos tornamos um pouco, não digo melhores, entretanto, libertos, pois, passamos a admirar até mesmo os que nos odeiam, compreendo que eles têm um profundo e refinado bom gosto.
Dessa forma, continuamos a cuidar de nossos jardins, pois, suas roseiras e borboletas tornam-se a resposta aos que investem na existência e, a mesma, nos ensina que obtemos apenas aquilo que fazemos.
Marcus Antônio Brito de Fleury Junior é psicólogo e coordenador do Programa de Prevenção a Depressão e do Grupo de Estudos Michel Foucault do Ateliê de Inteligência.
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