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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

“Creche Criança Feliz”:repertório de um projeto sádico



As criancinhas sujeitas às mais variadas formas de violência,anunciam em suas dores e feridas que se não forem tratadas,tornar-se-ão os adultos perversos de amanhã,deslocando contextos que quando associados a realidade vivida, promoverão através dos comportamentos violentos, uma forma em vingarem-se dos traumas que carregam em suas vidas.
Podemos constatar tal afirmação em várias situações, entre elas,na história recente da empresária que dilacerava uma adolescente em Goiânia,movida por um rito sádico de vingança à sua infância como forma em eximir-se da criança infeliz marcada por episódios de abusos, abandono e passagens por orfanatos.
A mente perversa, movida por uma complexa teia de associações e fatos vividos, fomentada pelo inconsciente, promove diante de determinadas circunstâncias a prática de atos que leva a pessoa vitimizada na infância à possibilidade em reviver o momento em que era espancada,torturada e abusada projetando sobre outro corpo infantil a dor que a atormenta,buscando sentir-se no ato do rito sádico, expectadora das sua própria dor projetando-a e deslocando-a com toda fúria, ódio e pulsões de morte ao corpo da criança a qual passa a vitimizar, sentindo-se momentaneamente “aliviada”.
Posteriormente aos surtos, tal pessoa modifica por completo seus comportamentos aparentando calma, paciência e tolerância, entretanto, tal momento nada mais é, senão uma etapa para que adentre em níveis profundos e em seguida, num ciclo, retoma novamente a fúria para aliviar-se de traumas vividos e não tratados que tornam-se continuamente recorrentes,levando-a novamente novos comportamentos violentos e sádicos.
Tivemos, lamentavelmente, pela segunda vez a nível nacional o nome de nossa cidade associada às práticas de espancamento, humilhação e abusos, só que desta vez, tais crimes foram cometidos dentro de uma unidade destinada a proteção, acompanhamento e estimulação do desenvolvimento infantil,dentro de uma creche particular, cujo nome, “Criança Feliz”, fazia parte do repertório de sadismo de sua proprietária.
As crianças marcadas pelos traumas necessitarão de acompanhamento psicológico por bom tempo, bem como, suas famílias, afinal, diante de tais traumas todos ficam adoecidos e completamente vulneráveis a mudanças profundas que, por muitas vezes, alterará a dinâmica familiar impondo perdas e se não houver capacidade de análise e superação dos fatos, determinados comportamentos poderão fragilizar ainda mais a criança vitimizada e conseqüentemente toda família.
O lamentável fato ocorrido na creche “criança feliz” reascende vários questionamentos, entre eles, o da inobservância da família em relação aos seus filhos,pois, creditar confiança a uma instituição, seja ela qual for,não consiste em delegar a responsabilidade pela vida dos filhos a quem quer que seja.
A família é a responsável em estabelecer os níveis de sustentação interna, sendo esses, mecanismos os quais possibilitarão à criança, ao futuro adolescente e ao adulto de amanhã condições favoráveis para superação de dificuldades impostas por conflitos emocionais ou outras intempéries.
Assim, mesmo diante das necessidades que existem hoje, onde pai e mãe trabalham, as creches jamais poderão substituir o papel dos pais, da família e tal compreensão é um convite para que todos nós possamos repensar nossos papéis como a base psicoafetiva, cujos componentes agregam valores, normas e limites não os tornando instrumentos de coerção e manipulação sobre nossos filhos,mas,mecanismos que os leve a compreender parâmetros de convivência social,tornando a sociedade não um elemento aversivo ou um campo de disputas,porém um local onde seja possível consolidar sonhos e viabilizar expectativas.
O papel das instituições, tratando-se das creches, não deve ser de um depósito de crianças, mas de instituição educacional que compreenda a infância, utilizando um amplo repertório de técnicas em consonância a um corpo de educadores e cuidadores preparados para interagir com as crianças através de princípios bem definidos, estimulando-as e observando o desenvolvimento que as preparará para o enfrentamento etapas posteriores.
É necessário compreender que a família faz parte do processo da aprendizagem, sendo papel das escolas aproximá-las cada dia em nome de um grande projeto que liberta,transforma e aprimora chamado educação.
Portanto,pais e mães, quando forem escolher uma creche para seus filhos,conheça-a detalhadamente,solicitando os alvarás de funcionamento expedido pelo conselho municipal de educação,pela vigilância sanitária, pelo corpo de bombeiros e todos os órgãos garantidores de legitimidade. Caso não tenham, estarão na ilegalidade e esse é um forte indicador de prováveis aborrecimentos.
Em segundo lugar, informe-se sobre os proprietários, suas formações acadêmicas , as propostas que a instituição tem para o desenvolvimento de seus filhos, do corpo de educadores e do suporte de psicólogos, pedagogos, nutricionistas e serviços emergenciais.
Em terceiro lugar, observe se as instalações físicas da escola são adequadas e adaptadas para crianças(Os brinquedos, janelas para ventilação e as acomodações)
Ao ver as cenas da “perversa vovó”, no mesmo instante, assentei-me ao computador não apenas para descrever o que compreendo que se passa numa personalidade psicopática, mas para afirmar a necessidade dessas crianças submetidas ao rito sádico recorrerem a psicólogos,bem como,abordar o papel da família, das instituições educacionais e deixar dicas que considero importantes para minimizar possibilidade de fatos traumáticos que violem a integridade psicológica e física de nossas crianças.
Semana que vem abordarei as conseqüências da violência física e psicológica sofridas por crianças.
Marcus Antonio Britto de Fleury Junior é psicólogo e Coordenador do Programa de Prevenção a Depressão e do Grupo de Estudos Michel Foucault

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