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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

NÃO AO BULLYING

Bullying é uma palavra inglesa que significa usar o poder ou força para intimidar, excluir, implicar, humilhar, não dar atenção, fazer pouco caso, perseguir. Representa formas intencionais repetidas que causam angústia ou humilhação à outra pessoa. O Bullying abrange todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas que ocorrem, sem “motivações” evidentes adotadas, causando angústia e são executadas dentro de uma relação desigual de poder. Encontram-se presentes, possivelmente, em variadas situações, tais como, colocar apelidos, ofender, gozar, envergonhar, humilhar, discriminar, excluir, isolar, intimidar, perseguir, assediar, aterrorizar, amedrontar, tiranizar, dominar, agredir, bater, chutar, empurrar, ferir, roubar, quebrar pertences.
O Bullying é um conceito específico e muito bem definido. Não se deixa confundir com outras formas de violência. Isso se justifica pelo fato de apresentar características próprias, dentre elas, a propriedade de causar “traumas” ao psiquismo de suas vítimas e envolvidos. Possui ainda a propriedade de ser reconhecido em vários outros contextos além do escolar: nas famílias, nos locais de trabalho (denominado de assédio moral), nos asilos de idosos, nas prisões, nos condomínios residenciais, enfim, onde existem relações interpessoais. Estudiosos do comportamento Bullying postulam que os próprios escolares identificam e classificam os tipos de papéis sociais desempenhados pelos seus protagonistas: Vítima típica: Aquele que serve de “bode expiatório” para um grupo;
Vítima provocadora: Aquele que provoca determinadas reações contra as quais não possui habilidades para lidar;

Vitima Agressora: aquele que reproduz os maus-tratos;
Agressor: Aquele que vitimiza;
Espectador: Aquele que presencia os maus-tratos, porém, não sofre diretamente e nem o pratica, mas que expõe e reage inconscientemente a sua estimulação psicosocial. Trata-se de um grave fenômeno que vem se disseminando cada dia mais, segundo pesquisas da Abrapia, 2005(Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Criança e à Adolescência), provocando maiores danos à saúde psicológica e, conseqüentemente, produzindo transtornos de humor, de ansiedade e personalidade.
Quantos de nós escutamos, desde a nossa adolescência, o caso de bullying sofrido por Albert Einstein? Segundo o site www.fortunecity.com/tatooine/servalan/272/einstein.htm, o grande físico judeu, foi aos sete anos de idade, transferido para uma escola católica, tendo, nessa instituição de ensino, sido submetido por um professor de ensino religioso, ao grosseiro crime do Bullying. Estava Einstein sentado, quando o professor retirou do bolso um prego e indagou “que objeto era aquele que estava em suas mãos”.
Os colegas disseram ser um prego. Foi então que, o professor, olhando em seus olhos disse aos alunos: “Foi com um prego desses que Jesus Cristo foi morto pelos Judeus”. A reação dos colegas foi imediata; aos gritos e sob o olhar do professor diziam:
_ Matador de Cristo! Judeu assassino! Reconheceu o prego hein? Reconheceu o prego, seu assassino?!
Quantos de nós nos calamos diante das mesmas práticas, que ainda hoje, tem em alguns ambientes educacionais, o respaldo velado de coordenadores, supervisores e professores? Direcionar tais comportamentos apenas aos alunos tem sido uma prática que, parece ser muito confortável e cômoda, sendo que, na realidade, há uma questão de fuga àquilo que é cometido pelo corpo pedagógico de algumas instituições de ensino, afinal, quantas pessoas tem chegado até nós com relatos de professores, coordenadores e “bedéis” que fazem de suas frustrações as projeção de suas crueldades, tiranias e perversões contra crianças e adolescentes.

Tal fato está intrínseco em algumas escolas particulares, sendo que, as mesmas, geram a ilusória confiança que os pais depositam sobre o que podem comprar com seus dinheiros e, lamentavelmente, abdicam da observação de seus filhos, delegando tais responsabilidades, muitas vezes, a quem não merece nenhuma credibilidade, pois, diante dos contratantes, tornam-se altamente dissimulados, fazendo-se de profundos conhecedores da educação, e, por incrível que pareça, altamente afetuosos, carinhosos e caridosos com os alunos. Quantos são os pais que saem e ainda dizem: “Que coisa, quase fui injusto com fulano ou fulana?”. Injusto não, mas dotado de uma ingenuidade além da bondade sacro-santa que pode despertar e deflagrar o carrasco adormecido, sempre pronto a usufruir das fragilidades dos filhos, fazendo-os o suporte daquilo que vai muito mal em uma relação.
É necessário compreender que, diante do “inexplicável”, muitas vezes, pronunciado por nós pais, há por detrás dos comportamentos de nossos filhos, situações muito graves que podem levá-los as mais severas reações decorrentes de episódios depressivos, sendo os mesmos, desencadeados devido ao contexto dos ambientes educacionais e sua forma em tratar a criança ou adolescente, fazendo-os apenas parte dos constructos teóricos de discursos tecnicamente prefeitos, entretanto, desconhecendo suas histórias, suas singularidades e a maneira como cada um lida com seus conflitos, diante da forma como desenvolvem-se psicologicamente, socialmente, neurologicamente e endocrinamente.
Quantas vezes fomos fazer matrícula dos filhos e nos deparamos com coordenadores que mais pareciam mestrandos diante da banca de avaliação de mestrado, ou qualquer outra porcaria dessas, cujos títulos não garantem sabedoria; estavam mais para “papagaios” que para mestres; encontravam-se muito distantes daquilo que realmente buscávamos, pois, o que eles vociferavam não me era muito estranho, entretanto, cada uma de suas frases decoradas e treinadas revelavam o caráter autoritário, dissimulado e completamente distante do verdadeiro propósito da educação. Em alguns, detectava apenas o seus próprios interesses financeiros, completamente na contra-mão do desenvolvimento de bases que possibilitem a criança ou adolescente, a construção de conceitos humanistas e responsáveis quanto a formação de pensadores. As bases do conhecimento sem a definição do ser como HUMANO, afasta cada um de nós do ser humano, produzindo variadas formas de definições, sendo tais, cada vez mais distantes do melhor que se pode ser feito ou recriado, desencadeando comportamentos elevadamente agressivos ou perturbados, em virtude da ausência das sustentações e, principalmente, das variadas formas de agressões sofridas nas instituições educacionais por aqueles que deveriam ser mediadores entre as pequenas células denominadas de família, e, a universalidade infinita, que é nossa sociedade e suas intrínsecas relações que se apresentam com intensos sinais de uma profunda falência em suas estruturas.
Tenho catalogado diversos casos de Bullying, entre eles, um que me causou profunda indignação, afinal, um professor, em pleno colégio que homenageia um dos maiores físicos da história da humanidade, vitimizou tiranamente um aluno, em plena sala de aula, na frente dos colegas, lendo seu resultado em uma prova e tecendo comentários depreciativos quanto a capacidade desse adolescente. As conseqüências foram péssimas, pois, após o fato, o adolescente vitimizado, mesmo depois de ter seu agressor pedido desculpas publicamente perante a sala, teve uma intensa queda quanto ao interesse, sendo altamente prejudicado. O professor, onde continua? Em sala de aula. E ao colégio, o que aconteceu? Nada! Continua com sua aparência de gigante, caminhando tropegamente na formação de repetidores.
As conseqüências dessas pobres relações baseadas no Bullying, tem feito de nossas crianças e adolescentes, reféns do medo e partícipes, cada vez mais, da elevação do processo de agressividade contra si, bem como, em relação ao outro, em decorrência do ódio, das fobias, da angústia e da raiva reprimida. “Assim, estarão comprometidos em suas auto-percepções e auto-estimas, comprometendo-os em sua capacidade de auto-superação. (Cleo Fante) Quero deixar bem claro, pois, sabemos muito bem que, existem escolas altamente comprometidas com o combate ao Bullying, estabelecendo campanhas que buscam a participação, não apenas do quadro pedagógico, mas, da família e de toda sociedade. Não seria ético cita-las aqui, entretanto, ainda há muito a percorrer na prevenção e combate ao Bullyng. Diante desse comportamento que tanto nos preocupa, o Ateliê de Inteligência estabelecerá uma pesquisa que estude e proponha medidas preventivas ao Bullying nas escolas de Goiânia, portanto, contamos com os senhores pais e a sociedade em geral para nos levar a ter conhecimento de casos, bem como, com instituições de ensino que se disponham a fazer campanhas efetivas e contínuas visando transformar e reconstruir as relações

Marcus Antonio Britto de Fleury Junior é psicólogo, coordenador do programa de prevenção a depressão e do grupo de estudos Michel Foucault do Ateliê de Inteligência.ateliedeinteligencia@gmail.com

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