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domingo, 27 de dezembro de 2009



O ATO ATA!


O discurso da razão, quanto mais contundente, levando uma legião de seguidores e defensores, encontrará nas entrelinhas de sua própria estrutura, o ruir de suas propostas, afinal, desfaz-se nos momentos em que imagina-se sobressair em relação ao mundo que defende, pois, quanto mais vestido de racionalidade, maiores são as fissuras em seu contexto. São palavras construídas, cujo intuito é persuadir uma contemporaneidade de desatentos em relação à intencionalidade existente na consolidação das teses, estando essas, lotando as academias, faculdades e outras coisas dessas, que, ao invés de desconstruir o que é existente, tenta fazer um cerzir invisível sobre a pretensa cientificidade, encobertando, em meio à questionável formação acadêmica, discípulos do maniqueísmo, cujo bem e mal, nada mais é, senão, aquilo que necessita para convencer e disfarçar o mundo em farrapos, lançado sob marquises do pensamento e dos interesses das relações de dominação, cuja sombra reflete a projeção da obscuridade e, cujo frio, disfarçado em seus sentimentos de culpa, apresenta-se no calor de sua embriaguez. O mundo é o mendigo que, se vestindo com elegância e pronunciando com eloqüência seu discurso, disfarça afugentar as misérias visíveis em sua mais intensa dor; então, torna-se a galeria, em cujas vitrines estão as “belas obras de consumo”, bem como, os discursos, cujas falas, agrupam “destacadas pessoas”, na tentativa em validar os interesses e intenções próprias ao que acreditam ser, “o certo e o errado”. Mas o que é cada um? Como se estabelece? Como age para persuadir, o desatento ser humano, completamente envolvido por um mundo que não o é e, muito menos, pelo universo que não tem, afinal, se o despirmos, encontraremos sob as suas vestes, sob seus carros e seu dinheirinho de plástico, a mais lamentável forma de adoecer contemporâneo: um intenso auto-abandono promovido pelo narcísico encantamento, sendo esse, o prenúncio da auto-renúncia.

Esses males que matam silenciosamente estão ao alcance dos pet-scans, da tecnologia ou do academicismo limítrofe e tantos outros recursos de seres em rota de fuga? Estão ao alcance da indústria da doença? Essa, a grande motriz das estratégias em fazer-se, sob a relação de poderes, a representação simbólica de Pandora, a entidade mitológica que espalhou todos os males, aprisionando em uma caixa, a esperança. Por acaso, as agruras humanas são domínio de uma só ciência, sendo que, todas as existentes, são resultantes, não de seus objetos de pesquisa, mas, entretanto, da mais intrínseca relação entre o que os seres humanos, em suas mais variadas formas de existir, oferecem para que, sobre suas finalidades, ou mesmo, a falta delas, sejam elaboradas as formas de pensamento e, sobre tais, sejam construídas as diversidades acadêmicas e profissionais. Então, nada deverá ser exclusivo a apenas uma corrente de pensamento, pois, caso assim ocorra, a análise quanto a grandiosidade do ser humano e sua história desprovida de pontos finais, será limitada pelos interesses de pequenos grupos, cujas finalidades não mensuram os meios, atropelando a dignidade humana, afinal, pretende colocá-la sob a sua titularidade e domínio, exercendo em relação à mesma, seus tratados, muitos deles, estruturados em função das amplas relações com a indústria da doença. Dr.Thomaz Szsaz, psiquiatra renomado, membro da A.P.A e cátedra, apresentou, anos atrás, a intensa relação de interesses entre determinados setores, portanto, senhores leitores, caso queiram, o endereço para que possam conhecer o pensamento desse médico está no link: http://www.youtube.com/watch?v=uE0mysIHvvg

O que mais poderá fazer uma só ciência ou doutrina em um mundo onde, a diversidade transpõe as regras e avança sobre quem tenta limitar a forma como cada um vê, sente, imagina e reage quanto ao que vive, bem como, ao que não necessita ser vivido? Portanto, delegar a supremacia totalitária a quem quer que seja, consiste em fazer ao mundo um universo de estigmas, cujas finalidades servem aos senhores que fazem de suas atribuições a prática da coerção, limitando assim, a grandiosidade existencial através da hierarquização das relações.

Saibam que, sobre o tempo, caso seja aprovado o ato médico, será construída uma das maiores derrocadas, não apenas da cientificidade, mas, principalmente, da construção e desconstrução permanente em relação a conceituação do que é compreendido como saúde, afinal, a mesma, modifica-se continuamente, não se sujeitando aos esquemas de interesses pessoais, pois, essa prática, nada mais é, senão, doença.

Enquanto há uma consistente evolução das relações multidisplinares e, um projeto em andamento no Congresso limitará as políticas de saúde, diagnósticos e outras práticas às ciências médicas e, nesse momento, cabe um questionamento: A ciência é limitável? É um campo exclusivo de quem quer que seja? Deixarei que os senhores respondam após a leitura do questionamento, encaminhado a relatora do projeto de lei que, dias atrás, foi chamada por um médico de “madrinha do ato médico”. Sinceramente, esse foi um sinal que leva-nos a constatar profunda parcialidade e envolvimento com um dos lados, portanto, o senado deveria designar um outro relator, completamente desvinculado das articulações, para que a lei que regula a atuação médica, estando a mesma sem atualização desde a década de 1930, seja avaliada por um outro viés que não limite a atuação de nenhuma da categorias e não transforme a saúde um cartel, nem mesmo limite a importância das relações multidisciplinares. Segundo o Presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, Dr. Antonio Carlos Lopes, “é inadmissível pensar em um vôo cego quando o assunto é medicina” e, ainda mais grave, são as ponderações feitas quando alega que, mais de 56% de médicos foram reprovados em uma avaliação facultativa realizada pelo Cremesp (Conselho regional de Medicina do Estado de São Paulo).

Então, diante dessas evidências, fica aqui uma dúvida: Serão esses reprovados na avaliação facultativa os senhores responsáveis pelas políticas de saúde em nosso país? Serão eles os detentores da tutela que definirá desde os diagnósticos até mesmo as mais primárias atuações no campo da saúde?

Marcus Antonio Britto de Fleury Junior é psicólogo, coordenador do programa de prevenção a depressão e do grupo de estudos Michel Foucault do Ateliê de Inteligência.
Segue abaixo o link de uma carta aberta encaminhada a relatora do Pretenso ato Médico para que os senhores leitores possam conhecer a argumentação de diversas profissões quanto ao projeto de lei 025/2.
http://www.crbm1.com.br/senadora.asp

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