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sábado, 27 de novembro de 2010

A existência é sempre um grande recomeço

Nada poderá ser o fim, pois. a existência, em todas as situações, é sempre o grande recomeço. Portanto, nada está perdido, mesmo que, momentaneamente, diante de perdas, sintamos a proximidade com o caos ou caminhemos em meio as ruínas dos nossos investimentos afetivos. Aprendemos, com o passar dos dias, o quanto podemos ser melhores, menos convictos da necessidade do outro como complemento para o que desejo ser, e certos na estruturação de uma pessoa que saiba se completar, aquecendo a si mesma, mesmo diante dos invernos existenciais.

Somos, felizmente, indefiníveis, por esse motivo, contrariamos as doutrinas, a ciência e as convicções empíricas e sempre nos surpreendemos quando nos vemos sorrindo novamente, distantes do tormento que, por dependência emocional, chamávamos de “AMOR” e pensávamos ser um grande jardim florido, embora descubramos que, nada mais era, senão, a própria sepultura decorada que preparávamos para nossas próprias vidas.

Uma das frases de Saramago que muito me fez pensar foi a que ele dizia: “Se tens um coração de ferro, bom proveito; o meu fizeram-no de carne, e sangra todo dia”. O coração, como arquétipo da morada dos sentimentos, deve não prender-se a nada, pois, o dia que o mesmo torna-se um cárcere, os únicos aprisionados seremos nós mesmos por detrás dos ferrolhos de nossas obsessões, presos e limitados, não somente ao nosso corpo, mas, desprovidos da capacidade em, livremente, desfrutarmos dessa grande aventura que é viver.

Aprendi viver porque um dia a morte me foi mais próxima que agora é, e sua sombra limitava o horizonte que hoje consigo enxergar. Permita que seu coração sangre, pois, somente dessa forma, você poderá renovar-se, conseguindo assim, um novo significado e um novo sentido, deixando de ser apenas um espectador que assiste os seus próprios horrores, mas, tornando-se o autor de sua história e o juiz de suas próprias sentenças.

Depois que nos permitimos adentrar no universo dos sentimentos, movidos não pelo controle, mas, pelo desejo em tornarmo-nos o grande motivo de nós mesmos, assumimos o compromisso, não com valores, nem tampouco, com os padrões impostos como modelos de vida. Percebemos que o melhor lugar para eles são as vitrines e não as nossas vidas. Então, compreendemos que o elemento vital a qualidade de vida do que chamamos de amor, a liberdade, é o maior valor, porque “o amor não floresce aprisionado.” ( Osho)

Quantas pessoas estão acometidas por doenças que a “Dra. Ciência” não consegue explicar? Quantas são as dores físicas, os cânceres e demais transtornos psicossomáticos que surgem diante da avassaladora dependência emocional? O adoecer coletivo está aí explícito diante dos olhos dos que muitas vezes já não conseguem enxergar, então, requerem a visão do outro, tornando suas vidas limitadas ao que sentem que alguém pode oferecer, mesmo que isso não seja nada.

É necessário compreender que se pode ver muito mais além, que pode-se ser tão amigo de seus momentos de solidão que, qualquer pessoa, nesse instante, poderia atrapalhar o prazer que você tem em andar consigo mesmo. É preciso descobrir que se pode ser o que você necessariamente deseja, sem ter a necessidade de destitui-se de sua personalidade para agradar a quem quer que seja, afinal, o “segredo do sucesso eu não sei, mas o do fracasso, é agradar todas as pessoas” e, tal tentativa é o primeiro passo para o adoecer-se, tendo então, diante da sua auto-renúncia, que matar-se e, dessa forma, inconscientemente, a psique se articula para fazer cumprir em seu corpo o que você destina a sua existência.

Deixo aqui o convite para que os senhores (as) possam participar das reuniões semanais do Ateliê de Inteligência abertas ao público, tendo como tema o Programa de Prevenção a Depressão e outros transtornos.

Marcus Antonio Britto de Fleury Junior é psicólogo e coordenador do Programa de Prevenção a Depressão e do grupo de estudos Michel Foucault, do Ateliê de Inteligência. ateliedeinteligencia@gmail.com

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