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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Por que somos o que somos?





Por que somos o que somos? Aliás, o importante estará no que somos ou no que desejam que sejamos? Então, partindo dessa discussão, pergunto: O que define como cada um necessita ser? Para ser, é necessário estar de que forma ou em que fôrma? A configuração que desejam para você é o que o faz acreditar em si mesmo? Quais são as definições e quais o valores das mesmas, caso você nem saiba do seu próprio?

Diógenes, o filósofo, mantinha um estilo de vida que sobrepujava todos os padrões instituídos na época. Morava em um tonel, vestia-se despretensiosamente, mas estava integrado àquilo que mais era importante: Ele mesmo! Não havia nenhum compromisso maior que o fizesse sequer reverenciar Alexandre, o grande. Certa vez, deitado, tomando sol, foi interpelado pelo Imperador: "Diógenes, o que deseja que eu faça para você"? Então, Diógenes respondeu: "Quero que chegue para o lado, não tire de mim aquilo que não pode dar". Alexandre estava entre os raios solares e Diógenes.

Diante desse episódio, penso e analiso sua fala da seguinte maneira: Não seja a sua sombra o impedimento quanto ao que me causa prazer. Não seja a sua sombra um obstáculo entre a grandiosidade de minha liberdade e a pequenez que o faz acreditar ser algo tão necessário a ponto de subtrair a estrela que aquece; sua imagem, "Imperador", apenas é um espetro refletindo o nada insuportável a si mesmo.

Isso é simplesmente formidável, afinal, nem mesmo a "magnitude" de Alexandre, o grande, poderia garantir as necessidades que estavam além dos valores, onde, "as verdades", nada mais eram, senão, enunciados que preservavam os mais difusos interesses, entre eles, as exigências das normas sociais que massacram a identidade do sujeito, colocando-o no papel de objeto.

Diógenes era o que necessitava ser e não aquilo convencionado como "o caminho certo a ser seguido", que furta a subjetividade sempre criando formas de verdades que descaracterizam o ser pensante, dando-lhe apenas a condição de ser humano. Sinceramente, isso pode ser pouco em relação ao que está latente em cada um de nós. Ser humano, penso eu, apenas se limita às definições estabelecidas aos conceitos, apresentando sintomas.

Ser pensante rompe as fronteiras do pragmatismo, desconstruindo, a partir da análise descontaminada dos valores o que está instituído como formas sociais aceitáveis, observáveis, no campo dos símbolos.
Nada, em tempo algum, será mais aceitável que a sua história para você mesmo. Se em algum momento passar pela sua cabeça que o melhor a ser feito já foi ensinado ou vivido, acorde, acorde, você está num terrível pesadelo!

Recorre-me, nesse exato momento, uma das frases de Michel Foucault, que, por sinal, não se limitava às "ordens constituintes" de nada, pois sabia que se vasculhássemos essas coisas chamadas verdades, assim como um arqueólogo, encontraríamos nos subterrâneos mais profundos, a escuridão que sustenta a trôpega e oscilante noção de luz, entendimento, domínio e compreensão das coisas: "Não me pergunte quem sou e não me diga para permanecer o mesmo".

Foucault assumiu a intensidade de sua existência não se constrangendo em mudar o que acreditava ser necessário, não encerrando nada no tempo, entretanto, fazendo do tempo que vivia seu aliado para desconstruir, reconstruir, desorganizar e, em meio ao mais intenso caos percorrer livremente desvinculando-se do terrorismo academicista, das tolices doutrinárias, da inquisição pós-contemporânea que estende sua continuidade com novas formas de dominação utilizando a tirania punitiva estabelecida pela ilusória linguagem da “razão”e pelas promessas de certezas que, nada mais representam, senão, as maiores incertezas e inseguranças dos pretensos donos do mundo, esses senhores do nada.

Chega um tempo em que conseguimos não sei se compreender, mas, observar as relações onde, temperança ganha "vis aliados". Nunca pude ver nenhuma crueldade que se apresente como realmente é. Ela veste-se do discurso construído sobre a mobilização dos que precisam derramar suas lágrimas, não pelo "condenável", mas sim, pelas auto-condenações que visitam suas mentes e, nas tentativas em esconder debaixo dos artifícios do discurso que, quando desconstruído, deixam expostas as intencionalidades naquilo que definem "propósitos", novas "soluções" que apontam caminhos para serem seguidos, colocando à disposição velhas novidades com roupas novas, criando "mais formas de verdades", refutando da discussão o que são as mesmas e, para que servem, se servem ou a quem servem.

Quando Diógenes foi visto pedindo esmolas a uma estátua e perguntado sobre o que estava fazendo, ele respondeu: "Peço a ela por dois motivos: A primeira, é que ela é cega, e a segunda, é que não me acostumo receber algo de alguém e nem depender de alguém".

"O homem não é nada mais do que aquilo que faz a si próprio".
Jean Paul Sartre.

Marcus Antonio Britto de Fleury Junior é psicólogo, coordenador do programa de prevenção a depressão, do grupo de estudos Michel Foucault e do Ateliê de Inteligência.

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