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terça-feira, 8 de janeiro de 2008

O que é o núcleo psicopatológico?

Quando comecei estudar relações familiares quase fechei os livros, ou melhor, pensei em direcionar minhas observações para outro campo mais ameno, afinal, ter que desconstruir paradigmas e demais conceitos estabelecidos em relação à pretensa perfeição transcrita nas idealizações relativas à família era um choque.

Conviver em família remete-nos a compreensão da estrutura psicodinâmica, pois, a mesma, “ocasionalmente” eleva um de seus membros a condição de um todo adoecido e como resultado desse contexto obtemos perdas e fragilização do ser, que , conseqüentemente irá resultar em indivíduos com complexas dificuldades quanto a tomada de decisões, inseguros e completamente instáveis na relação com eles mesmo e com os outros , perpetuando assim, a sustentabilidade do grupo familiar através do adoecer de um de seus membros , mantendo assim, uma estrutura neurótica como forma de defesa aos sintomas psicóticos. Quantas vezes escutamos “FULANO É DA PÁ VIRADA”, “BELTRANO É UMA OVELHA ERRANTE DO REBANHO”, “AQUELE SUJEITO NÃO TEM SOLUÇÃO”. Pois então, você pode até ter pensado em uma pessoa em especial , ou até mesmo ter dito : “ Sou eu”, esse cara está falando de mim. Pode ser , desde que você a posição acima peculiar a sus história. Muitas pessoas se dispõem a esses lugares geradores de estabilidade e unidade ao grupo .

Pode ser um duro golpe compreender que toda família necessita de um indivíduo fragilizado ou adoecido para manter-se agregada. Necessita ter um núcleo psicopatológico para juntar-se aos demais membros, evitando assim o risco da fragmentação. Então, um une-se ao outro consolidando vínculos com os mesmos a partir da fragilidade daquele que é o tema central de toda reunião familiar. Outros assuntos até podem surgir durante tais encontros, mas o tema central redime aquilo que tanto incomoda a cada um , purificando-os, livrando-os dos temores psicóticos mascarados pelas neuroses. Cada membro estabelece uma conexão com o núcleo psicopatológico e interliga-se estabelecendo uma frágil relação que denominam de “equilíbrio” , porém, o mesmo não suporta qualquer sinal de mudança do núcleo pasicopatológico , rompendo as ligações como os outros integrantes do grupo , levando-os à fragmantação coletiva explícita de cada um .

Toda movimentação do grupo em torno desse núcleo tem por objetivo manter a unidade neurótica constituída com base no super-ego recalcando pulsões desejadas e renunciadas , sendo elas não resignificadas dentro dos processos de sublimação . Sublimar pode em muitas situações ser extremamente salutar, afinal, gera recursos de preservação . Mas todos que gravitam em torno do núcleo preferem massacrar o outro, preservando assim oq eu não admitem ter ou ser condensando suas pulsões e deslocando-as com semblante de sobriedade em nome dos bons costumes, da ética, da moral sem sequer sabem o que isso vem a ser, restando apenas o discurso, cuja racionalidade é nada mais que o “cerzir invisível” frente àquilo que tentam ocultar.

Constroem sobre o núcleo psicopatológico a imagem que necessitam para sustentar as relações com os demais membros do grupo familiar. Sentem-se muito próximos, amados, desejados e necessários uns aos outros, mas o que os une assim é o medo de se estraçalharem devido o ódio que retêm em suas vidas, constituindo assim, uma imagem de herói sobre os outros, para sentirem-se perfeitos, austeros, sentimentais sofrendo unidos para escarnecerem aquele que não suportam , mas esse , nada mais é que aquele que o vê no quisto das projeções e transferências .

O núcleo psicopatológico ao mover-se em sua dor ganha até incentivo do grupo familiar por um período, mas, ao colocar em risco o “eixo gravitacional” que mantêm o conluio dos neuróticos, perde por parte desses o apoio , afinal , seria a fragmentação e o contato que cada um teria com o insuportável contido em suas histórias repletas de perdas,frustrações,recalques e pulsões continuamente negadas , gerando questionamentos relacionados as diferenças entre cada um , fato esse não visto quando estavam tão próximos.

Qualquer movimentação do núcleo além da fronteiras destitui o controle que requer observância severa e contínua punição, afinal massacra para não sentir o contato com a liberdade que não conseguem ter.

Quantas famílias têm aquela reunião no final do dia ou em qualquer outro período onde todos se assentam à mesa para falarem de “fulano” ou “beltrano”. Ele é o tema central e sem o mesmo o café fica frio e com gosto de borra. O biscoito fica duro e quebra os dentes interrompendo a fala e a motivação que outrora negava dores pessoais.

Existem casos onde o Núcleo psicopatológico ao mover-se do centro de sustentação do grupo familiar é perseguido por todos com intuito em faze-lo retornar a hábitos que outrora fortalecia toda estrutura repressiva . Quando o grupo perde a possibilidade em reprimir , ele se aproxima de surtos psicóticos e isso torna-se insustentável .

Exemplos:

Quando um dependente químico decide abandonar o uso de substâncias psicoativas existe a grande possibilidade de seus pais separem-se, afinal, a união de ambos era nada mais que mantida pelo “filho adoecido”.

Quando um filho resolve sair de casa, sendo esse o núcleo psicopatológico, promove uma profunda desagregação em todo o grupo. Existem casos que surgem doenças abruptamente, levando àquele rompeu com o seu antigo estado sentir-se culpado e, caso se sinta, poderá retomar sua posição restabelecendo a unidade do grupo e a “cura” das pessoas pelo seu adoecer.



Marcus Antonio Britto de Fleury Junior

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