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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

O adoecer da relação, abarca em si, uma complexidade de fatores que conduz à terapia de casais aqueles que se sentem sufocados, impossibilitados do exercício da liberdade para sentirem-se próximos daquilo que acreditam ser o melhor para suas vidas .

Nesse contexto, para o delineamento, compreensão, elaboração dos inúmeros eventos que permeiam o final de uma relação, casais recorrem aos psicólogos objetivando ampliar o que se tornou restrito, bem como , estabelecer o resgate da intersubjetividade perdida em decorrência da ausência do diálogo e da imposição implícita no contexto autoritário em que a postura reducionista, visa proteger aos interesses de uma das partes .

A “força” da fala de uma das partes , traz em si , um contexto complexo de fatores que podem ser observados e descritos como uma postura muitas em tentar manter por meio do comprometimento do processo de comunicação a estabilidade .

A quebra da intersubjetividade promove a impossibilidade da consecução das liberdades e isso, geralmente, em muitos casais desencadeia inúmeros sentimentos como o ódio , medo , rejeição, frustração , sendo os mesmos , propulsores de elevados níveis de estresse que em virtude de relações imersas a anos de conflitos encontram-se no nível de exaustão, interferindo nos processos da produção do pensamento resolutório, onde a racionalidade fica assentada na platéia da psiquê, assistindo um combate permeado por aspectos emocionais limitados quanto às possibilidades de compreensão das necessidades de uma das partes do casal.

Sartre , em “O Ser e o Nada” , diz que : “ O inferno é o outro ” . Tal afirmação , valida-se nas relações onde a prática de acusações torna-se uma forma de eximir-se de responsabilidades trazidas a relação, atribuindo a uma das partes , responsabilidades do fracasso conjugal. Parecem se esquecer que, uma relação, está constituída não apenas por uma parte, mas , existem duas pessoas, cada uma com seu universo próprio, altamente significativo quanto as informações e formas.

As responsabilidades podem ser iguais e, não há, como imputar acusações a somente uma das partes , sendo apenas possível nomear o que sentem um em relação ao outro ( ódio, raiva, frustração, tristeza) afinal , as formas em sentir são individuais . Tal expressão individual constitui os limites através das diferenças, sendo que, os mesmos, perdem suas fronteiras e tornam-se vulneráveis a atacar , bem como , ao deslocamento da perversidade condensada nas repressões e frustrações .

Pode haver diante o desmerecimento dos conteúdos vivenciais através da imposição das falas , onde apenas um esta certo e, o outro, encontra-se errado . As relações tornam-se então unilaterais estando uma das partes distanciadas autoritariamente de suas opiniões massacradas em seus sentimentos , em seus desejos , em suas fantasias .

Aceitar tais diferenças nas relações onde, uma das partes, usa daimposição de suas verdades para proteger-se, torna-se árdua, então algumas pessoas temem desvencilhar de seus conteúdos e valores pois , perdê-los poderia significar a ausência de controle sobre o casamento.

No início dos relacionamentos , tais diferenças são altamente significativas , encanta os parceiros pelas descobertas que as fazem, portanto, no transcorrer do envolvimento afetivo há o reconhecimento das mesmas.

No momento em que duas pessoas decidem assumir uma união , elas trazem não apenas o enxoval , mas sim , envolvem todos os seus conteúdos internos que foram construídos ao longo de todo uma construção a partir do contato com a família em que foram educadas, o grupo social que pertenceram e características político-culturais , suas crenças doutrinárias .

Muitos casais ao constituirem uma nova família , levam paradebaixo de seus lençóis suas famílias de origem e, ao longo daconvivência, tentam impor , reproduzindo ao outro modelos deconvivência de seus pais , até mesmo, travam as mesmas lutas sendo para eles um choque muito grande poder observar que suasidentidades trazem as marcas daquilo que não queriam para si, então,desenvolvem as mesmas neuroses que tanto as incomodavam

Daí então, surge uma pergunta: Que relação é essa? Isso afeta profundamente, afinal, o que mais desejavam era a consecução de projetos de vida estavam amparados na expectativa da possibilidade da aproximação da felicidade através da união com o outro, no entanto, de repente começam transferir para seus matrimônios todos os conflitos que os pais viviam, começam a ver o amor como um naufrago e a “angústia como a “grande raínha das sombras” ( Heiddeger) trazendo sentimentos que os faz lembrar aquilo que foi um dia vivenciado, promovendo o deslocamento em direção ao outro com muito mais força e , até mesmo , fúria , pois , além de reviverem internamente toda dor que odiaram , não conseguem estabelecer a compreensão e vêem -se diante das suas maiores dúvidas em relação aos sentimentos, as crenças, aos seus projetos , aos filhos. Assim , co-responsabilizam-se pelos desacertos, pelos conflitos internos que passam a constitui uma nova relação com velhos conteúdos .

Os problemas que atribuem ao outro não estão necessariamente naquele que imagina ser seu algoz, mas , encontram-se intrínsecos nos traumas de relações disfuncionais

Há entre o casal “uma terceira pessoa” : A relação . A mesma, os descaracteriza em suas identidades e faz emergir o caos emocional tornando-os estranhos em um mesmo ambiente em virtude da incompreensão de tais aspectos que irão interferir nos processos cognitivos , afetivos , fisiológicos. Dentro de tais processos encontram-se impossibilidades de construção de novas forma de pensamento, afinal, tais características de personalidade de cada um , uma vez expostas e impostas , dispara o que podemos chamar de gatilho de memória fazendo imediatamente a leitura de milhões de informações armazenadas à partir das impressões sobre o que estão vivenciando.

Trazem as vivências conflituosas de seus pais e as vivem em suas vidas como se fossem eles próprios.Atribuem ao parceiro responsabilidades por suas frustrações, medos e inseguranças , e derrotas

Os conflitos conjugais baseados nessas circunstâncias, desencadeiam um fenômeno que gera, em alguns casos, a manutenção instalada na própria relação . Assim, uma das partes, para manter o relacionamento torna-se ou o algoz , ou então , o dependente emocional construindo para suas vidas relações “indesejadas”, mas necessárias para poderem viver o hades emocional em suas existências , afinal, o mesmo as faz Ter contato com suas próprias Histórias , aproximando-as da angústia como forma de sentirem-se vivos .

A retirada , ou mesmo, a resolução de tais conflitos representa o perigo iminente de viverem o que mais desejam e o que menos aceitam em suas vidas : A liberdade.

Haverá um momento em que a falência da relação imputará aos que a vivem um preço tão elevado que tomar decisões torna-se o encontro da liberdade em meio à dor da dissolução. Tal temor sobressairá em relação ao insustentável, afinal, as conseqüências da falência de uma relação adoece cada dia mais uma das partes.

A impossibilidade de ouvir e ser escutado, as palavras que se tornam armas constantemente usadas para atingir,as acusações respondidas com acusações, a força frágil do discurso autoritário que impele o outro sempre à opressão o faz refém de seus próprios sentimentos.

Marcus Antonio Britto de Fleury Junior

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