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sexta-feira, 15 de julho de 2011


Infâncias seqüestradas. Parte I

Soluções mágicas não existem, aliás, as mesmas, resultaram nos índices que hoje fazem nossa sociedade declarar sua derrota perante os desafios da existência. Então, diante das propostas de mudanças velozes, junto, veio, por outro lado, ofertas cada vez mais nocivas a nossa sociedade, afinal, a ausência de comprometimento com as transformações sociais promoveram o crescimento vertiginoso da violência, do uso e consumo de drogas, da desagregação familiar, do sofrimento e dos elevados casos de suicídio infantil (que são ocultos), da pandemia dos transtornos de humor, principalmente, a depressão.
Aumentou o acesso aos prazeres rápidos e fugazes. Tornaram as crianças, os adolescentes, os pais e a sociedade reféns da tecnologia, pois assim, são mantidos contidos, isoladamente, em suas estações tecnológicas, em seus notebooks, seus Ipods, seus tablets, sem que olhem, vislumbrem e interpretem a realidade existencial, afastando-os, cada vez mais, da proximidade com o real e doutrinando-os a virtualidade, afinal, doutrinas, independente de quais sejam, sempre levaram o homem a um ilusório conforto social, acomodando-o e alienando-o em relação aos interesses de um sistema, cujas pessoas são apenas peças mobilizadas em favor das elites dominadoras.
É inadequada, inútil e completamente demagógica a intenção do Estado em distribuir computadores a seus alunos, sem que esteja definido um projeto pedagógico. Tecnologizar-se sem critérios e objetivos bem definidos, satisfaz apenas as necessidades de um sistema onde, cada qual, é apenas mais um na escala de consumo, e isso, aos olhos da comodidade que o Estado espera, é extremamente confortável aos múltiplos interesses que correspondem as expectativas dos que controlam os meios de produção, pois, quanto mais afastado o homem estiver de suas potencialidades intelectuais, desprovido da capacidade em não apenas pensar, mas, interpretar e analisar os fenômenos sociais, muito mais vulnerável estará em relação a manipulação política, econômica e religiosa.
Então, tais estratégias de adoecimento social começam na escola, tornando nossas crianças, pequenas peças de sórdidos interesses ao serem classificadas como o futuro de uma nação.
Não, elas não são o futuro, mas sim, o presente mais real que existe, pois, se as analisarmos não nos depararemos com dissimulações, mas, infelizmente, com manifestações que expõem a miséria existencial, próprias aos adultos, refletidas em suas falas, olhares, gestos e emoções expressas através de mecanismos transferenciais, onde elas conseguem expor o mundo que são dentro do mundo que vivem.
Nossas crianças estão gritando por socorro em um mundo que não as vê em suas infâncias, mas, que tenta impor contextos que as afastem das expressões próprias das etapas inerentes a essa fase que tanto necessita de suporte para que elas próprias possam estruturar níveis de sustentação interna, cujo sentido será torná-las capazes em enfrentar as vicissitudes da existência.
Crianças apresentam o que são, sem que se preocupem se estão agradando ou não, e é justamente assim que deveriam ser estimuladas em suas vivências, transformando cada evento da vida nas possibilidades quanto à compreensão das adversidades que, no atual contexto, as afligem, as ferem e as tornam elevadamente ansiosas, agressivas, violentas, entristecidas em etapas posteriores, desprovidas de capacidades para poderem transpor os traumas provenientes de um Estado omisso em relação a necessidade de implantação de programas de prevenção a depressão e outros transtornos, desde a mais tenra idade.
Nossas crianças estão gritando por socorro, estão clamando por infâncias que delas são seqüestradas desde o ambiente escolar, até mesmo, nas relações familiares, afinal, hoje exigem que comportem-se como adultos, que tenham capacidade em compreender situações impróprias ao universo infantil, sendo então, subtraídas no tempo para serem crianças e arremessadas e cobradas em relação as responsabilidades próprias a adultos.

Marcus Antonio Britto de Fleury Junior é psicólogo, Coordenador do Programa de Prevenção a Depressão do Ateliê de Inteligência. ateliedeinteligencia@gmail.com

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