As cortinas da vergonha
A
obra de Michel Foucault deixou bem claro que “o poder só é poder porque é
frágil”. Assim , diante da cortina de blindex levantada na câmara municipal de
Goiânia, torna-se evidente a fragilidade da relação dos que não conseguem lidar
com a proximidade do descontentamento existente entre um povo que está exposto ao descompromisso dos que deveriam gerar garantias que promovessem não apenas
qualidade de vida, mas, acima de tudo, dignidade. No entanto, o conceito
dignidade , aos olhos míopes, revelam-se
na verborragia narcisista dos que consideram algumas dezenas de votos a
condição que lhes garante o direito em separar a fantasia eufórica da
realidade, que de tão real gera a milhares de vidas a exclusão quanto a
participação efetiva na construção de um estado democrático de direito.
Os
muros da vergonha não são apenas uma triste realidade em países distantes, mas
, aí estão, invadindo o parlamento goianiense, onde a legitimidade deveria
pautar-se que “todo poder emana do povo e por ele deve ser exercido”.No entanto
, a cortina da vergonha levantada a toque de caixa, num espasmo dos piores
sentimentos, evidencia um traço de fobia social entre os que desejam se
esconder por detrás dos escudos de vidros , como se os mesmos os defendessem da
vergonha que nem mesmo o mais puro cristal consegue ofuscar. A “Cortina da
vergonha”, essa que torna os senhores parlamentares goianienses partícipes de um reality Show, faz
o povo assistir , diante das manipulações perpetradas por sombrios interesses,
a farsa, onde a democracia e o voto são usados para conduzir a dignidade à mais
intensa indiferença, afinal, num parlamento onde as professores são “chamados
de vagabundos e marginais” por quem deveria ser o primeiro a acolhe-los, fica
bem evidente que o poder está a serviço de pequenos grupos que fazem da verdade
a construção semântica que encobre verdade e sufoca a realidade de uma cidade
que geme em meio ao lixo e a extorsão de impostos.
Há
aqueles que se esforçam como se contorcessem suas vísceras ao verbalizar
diarreicamente suas convicções, mas, nada mais evidente que as mesmas nada
convencem , ao contrário, apenas evidenciam o tolo, o arrogante, o pretenso
prepotente que se esconde por detrás da pele de um ser humano que talvez se
considere humano, demasiadamente humano , mas que contorce-se em mecanismos de
defesa para tentar justificar as péssimas condutas e suas infelizes decisões.
Seria
uma coincidência que a cortina de vidro fosse levantada dias antes da votação
do IPTU e ITU? Seria uma coincidência que fosse levantada num momento onde a
administração goianiense esteja em meio ao caos e precise ser blindada pela
bancada que defende os interesses do prefeito de Goiânia? Em meio às coincidências
evidenciam-se as realidades incautas na fragilidade das estruturas do poder.
Marcus Fleury é psicólogo