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quarta-feira, 26 de novembro de 2014

As cortinas da vergonha


                           
     


                                

A obra de Michel Foucault deixou bem claro que “o poder só é poder porque é frágil”. Assim , diante da cortina de blindex levantada na câmara municipal de Goiânia, torna-se evidente a fragilidade da relação dos que não conseguem lidar com a proximidade do descontentamento existente entre um povo que está exposto ao descompromisso dos que deveriam gerar garantias que promovessem não apenas qualidade de vida, mas, acima de tudo, dignidade. No entanto, o conceito dignidade , aos olhos  míopes, revelam-se na verborragia narcisista dos que consideram algumas dezenas de votos a condição que lhes garante o direito em separar a fantasia eufórica da realidade, que de tão real gera a milhares de vidas a exclusão quanto a participação efetiva na construção de um estado democrático de direito.

Os muros da vergonha não são apenas uma triste realidade em países distantes, mas , aí estão, invadindo o parlamento goianiense, onde a legitimidade deveria pautar-se que “todo poder emana do povo e por ele deve ser exercido”.No entanto , a cortina da vergonha levantada a toque de caixa, num espasmo dos piores sentimentos, evidencia um traço de fobia social entre os que desejam se esconder por detrás dos escudos de vidros , como se os mesmos os defendessem da vergonha que nem mesmo o mais puro cristal consegue ofuscar. A “Cortina da vergonha”, essa que torna os senhores parlamentares  goianienses partícipes de um reality Show, faz o povo assistir , diante das manipulações perpetradas por sombrios interesses, a farsa, onde a democracia e o voto são usados para conduzir a dignidade à mais intensa indiferença, afinal, num parlamento onde as professores são “chamados de vagabundos e marginais” por quem deveria ser o primeiro a acolhe-los, fica bem evidente que o poder está a serviço de pequenos grupos que fazem da verdade a construção semântica que encobre verdade e sufoca a realidade de uma cidade que geme em meio ao lixo e a extorsão de impostos.

Há aqueles que se esforçam como se contorcessem suas vísceras ao verbalizar diarreicamente suas convicções, mas, nada mais evidente que as mesmas nada convencem , ao contrário, apenas evidenciam o tolo, o arrogante, o pretenso prepotente que se esconde por detrás da pele de um ser humano que talvez se considere humano, demasiadamente humano , mas que contorce-se em mecanismos de defesa para tentar justificar as péssimas condutas e suas infelizes decisões.

Seria uma coincidência que a cortina de vidro fosse levantada dias antes da votação do IPTU e ITU? Seria uma coincidência que fosse levantada num momento onde a administração goianiense esteja em meio ao caos e precise ser blindada pela bancada que defende os interesses do prefeito de Goiânia? Em meio às coincidências evidenciam-se as realidades incautas na fragilidade das estruturas do poder.



Marcus Fleury é psicólogo