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sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O falso Olimpo e as pequenas medusas.


                                                                 
      

  
A chuva que cai em Goiânia , nesse exato momento, muito me faz refletir sobre onde estão os meninos que fazem de suas marquises o lar que escolheram para que não pudessem ser mais mortos em sua infâncias. Quando uma criança opta em largar suas casas, isso já sinaliza que o desamparo interno é muito maior que possamos imaginar, afinal, as mesmas, no ímpeto de uma busca para serem vistas, estão a deriva em suas tormentas existenciais, muitas, foram geradas afogadas no próprio líquido amniótico, envoltas por uma película de rejeição, onde os nutrientes são as mais variadas formas de ódio , entre elas, muitas, não sei de heróis ou heroínas, transpuseram a tentativa de homicídio, de descaso, de descuido onde várias circunstâncias dolorosas, inclusive , o tão polêmico aborto já as atormentava em suas histórias.
Outro dia, pedi a uma criança dessas que fizesse um desenho, então, ofereci lápis de cores a ela, e a mesma me pediu um lápis e borracha, então, perguntei por  que, e fui surpreendido com a resposta:
_” Bom é para que eu possa apagar depois, assim como gostaria em fazer com toda a vida que tenho, e a pessoa que sou. Não pedi para nascer,e isso aqui, é o inferno!”

O que dizer diante de uma resposta desta ? Esconder-me em minha vergonha, justamente, por saber que temos que mudar para que essas pessoas possam mudar e  antes de terem voz, terem vida .

São corpos dilacerados, impelidos pela explosão de impulsos em busca do prazer necessário, fácil, barato, de graça, às vezes roubado em busca de uma fuga para que não se sintam humanos, mas , como Nietzsche escreveu, “ demasiadamente humanos”, completamente dotados da condição mitológica em serem um pouco filhos de Zeus e  se esqueçam do cárcere de  Hades ,onde são os escravos da exclusão imposta pela guerra de semideuses incapazes imersos na fúria de suas vaidades, principalmente, quanto a necessidade em fazerem novos súditos que geram mais renda , mais lucro, mais votos e mais dores, afinal, mais dores , nos dias de hoje, geram muito mais lucro a determinadas estruturas , que ao final fomentam o Estado e esse, suas  regalias aos corruptos que, em contrapartida, alimentam em cada unidade da federação as castas que dominam , oprimem, matam e enriquecem . Isso torna verdade a fala do garoto com quem conversei na rua, afinal, sendo o pleno e atordoante Hades.  

São crianças que nasceram do descaso, algumas, frutos do tesão por um pouco mais de prazer, outras, concebidos nas dores ampliadas dos abusos sexuais nas mais terríveis dores que assolam a alma de quem gera e, concomitantemente, dos que são gerados.

São as pequenas medusas e suas serpentes, as quais os olhares da sociedade se desviam para que não sejam petrificados em seus sentimentos ao vê-las em seus horrores sociais, em suas feridas cujo sangue esvai-se pelos poros , por onde a alma escorre numa hemorragia sem fim e sem direção. Então, todos tampam os olhos, desviam para seus smartphones para que apenas consigam ver a doçura ilusória, cujo amargo, as falsas belezas desse Olimpo contemporâneo consigam esconder.


Marcus Fleury é psicólogo.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Afogamentos em piscinas, sem dúvida, o Estado é omisso !









                                                               


                                                            
                                                               Quando temos um Estado omisso, todas outras instâncias nas relações de poder pouco se importam com a vida, principalmente, os que direcionam suas  atividades ao lucro. (Marcus Fleury)


                                         


 É assustador o índice de tragédias que acometem as crianças no Brasil, entretanto, por maiores que sejam os bolsões de pobreza , políticas públicas ineficientes em relação aos serviços de saúde e segurança, atualmente, os afogamentos são a segunda causa mortis direcionada a crianças  e adolescentes até 14 anos de idade. Por ano, segundo pesquisa realizada no ano de 2010 , segundo o Dr. David Szpilman * , ao estabelecer o índice epidemiológico de afogamentos , nos deparamos com situações  cada vez mais alarmantes. Em 2010, 6.590 brasileiros (3/4 100.000 hab) foram a óbito em virtude do afogamento.

Os ambientes são os mais diversos, entretanto, tratando-se em afogamento em piscinas os índices são de 2%, entretanto, relacionando-o a crianças de 1 a 9 anos, representam 52% de todos os casos relacionados a esse ambiente.

Em primeiro lugar, devemos resaltar o trauma psicológico que envolve as famílias vitimadas pela trágica perda de uma criança que vai a óbito por afogamento. Muitas dessas famílias, após a morte precoce de seus filhos, entram em processo de colapso por sempre considerarem dúvidas inerentes a um possível responsável pelo fato. No entanto, é necessário observar que há um conjunto de responsabilidades, mas,  diante de determinadas circunstâncias, como as que vimos em janeiro de 2014 no Brasil, e que se repete a omissão dos anos anteriores,  não nos resta a menor dúvida do papel ineficiente  do Estado como agente fiscalizador e propagador de 
políticas preventivas que visem estabelecer projetos que venham minimizar tais tragédias.

Em segundo lugar , o Brasil,nos períodos de outubro de 2010 e setembro de 2011, as internações e custos relacionados afogamentos foram de R$ 1.273.923,46 reais, segundo Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) do Ministério da Saúde.
Em terceiro, devemos considerar também , traumas cervicais , que não apresentam índices bem claros, no entanto, registros apontam em 2010, 2709 pessoas hospitalizadas, a um custo de mais de 3 milhões de reais.  Fonte: Dr. David Szpilman

O Estado quando estabelece programas preventivos permanentes, torna os ambientes não apenas mais seguros, mas também, permite-se em virtude das economias feitas, destinar a aplicação de recursos a outros setores promovendo o desenvolvimento biopsicosocial.

É necessária uma parceria entre Estado, iniciativa privada e ONGs de promoção do bem estar da criança e adolescente, para que em relação a unidades recreativas e de ensino que ofereçam a piscina como equipamento de lazer, exista uma constante fiscalização e adequação dos contextos, minimizando riscos de afogamentos e outros acidentes.




                                                                   SUGESTÕES:

1 – Exigir que as unidades recreativas ofereçam KITS de orientação e normas para o uso das piscinas entregues aos responsáveis pelas crianças.
2- Exigir a completa adequação dos ralos, colocando vários em pontos bem distribuídos das piscinas, estando todos adequados as normas da ABNT , referentes a ralos anti-sucção.
3-  Exigência de pais ou responsáveis adultos juntamente as crianças.
4- Isolamento das piscinas .
5- O filtro deve sempre estar desligado durante o uso .
6- Botão de emergência e equipamentos de primeiros socorros sempre disponíveis.
7- Exigência de profissionais devidamente formados em salvamentos aquáticos credenciados ao corpo de bombeiros nas escolas.
8 – Exigência de adequações imediatas as normas da ABNT NBR 10.339.
9- Fiscalização , controle, alvarás de funcionamento e certificados sempre atualizados.  
       

                                          Marcus Fleury é coordenador do Ateliê de inteligência e do projeto Mundo Encantado , destinado a estudos e gestão em qualidade de vida para crianças


                                              

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O Reinado Chegou ao Fim?





                             



Até uns dias atrás eu me perguntava onde chegaríamos, no entanto, não demorou muito tempo para que a resposta se revelasse na tragicidade humana, essa que se incorpora na fragilidade do outro, mesmo, sendo ele, um indivíduo condenado a ocupar o esquecido espaço onde corpos são lançados a tantos outros , e ali travem não a mais sórdida das batalhas, no entanto, mas que transfiram em forma de violência  toda a miséria social a que foram submentidos desde as suas infâncias de garotos relegados ao preconceito e a adaga dilacerante da exclusão sócio-econômica-cultural.



O presídio de São Luís, no Estado do Maranhão, não sei se é o mais violento do pais, porém, hoje, assombra-nos pelos atos de barbárie , bem como, da manifestação do ódio contido no inconsciente, que nas brechas  existentes na psique,  desconstrói toda uma instância psíquica denominada super-ego, fonte de normas e valores, dando vazão a uma outra denominada de ID, fonte de impulsos, estando a resolução dos mesmos carregadas de finalidades as mais variadas para que possam prevalecer as variadas formas de prazer , entre eles, o sadismos, que faz com que indivíduos em seus surtos de fúria, numa plena descarga de contextos biológicos, sendo os mesmos, movidos numa tênue linha pelos  elementos sociais e culturais introjetados,  onde um ódio latente,  frente a determinadas condições ,  desencadeiem todas as experiências e manifestem-se numa catarse, onde o corpo do outro, transforma-se no elemento de transferência para que nele seja registrado o mal-estar de anos relegados as piores condições possíveis, principalmente, para que possam também manifestar o descaso e a violência do estado voraz, criminoso, opressor , corrupto e doente que prevaleceu sobre a história das várias pessoas entre mortos, feridos e homicidas desde a mais tenra infância.





Não há nada mais a esperar de um estado onde a democracia é uma farsa, e a opressão das elites é a força que lança dois grupos de oprimidos; uns que geram o enriquecimento das castas lá existentes, dominados por quase um só senhor e sua família, e outros que não conseguiram servi-los, e hoje, estão atrás dos grilhões, sendo ambos, vítimas da crueldade negociada com as estruturas do poder, cuja finalidade, nada mais é, senão, garantir maior abrangência aos opressores, cedendo-lhes o domínio sobre todos os aparatos de controle social e assim, transformando-as nas peças necessárias a manutenção da “instituição opressora e assassina”, a qual é o Estado como ordem oficial da unidade federativa denominada Maranhão.



O “reinado” chegou ao fim? Se não, esperem o pior, pois intervenções veladas, focadas apenas na questão da segurança social, apenas incitarão um número maior de pessoas num curto espaço de tempo a manifestações muito mais violetas que estas que lamentavelmente assistimos hoje, entretanto, todos nós sabíamos onde tais misérias desembocariam.

  

                                           Marcus Fleury é psicólogo .