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sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Liberdade e Limites.



 

Você ainda definirá o tempo da sua liberdade... Ser livre, penso eu, é poder falar o que se pensa, viver o que deseja, desde que saibamos que os limites não ecerram a condição em ser livre; aliás, a ausência de parâmetros pode muito bem ser a causa de muitas angústias. Quantos são os que em nome do “viver tudo”, hoje estão assentados sobre o nada? Quantos são os que em nome da prepotência são vítimas de si mesmos?

Minha liberdade respira determinados limites que não encerram minha existência, tornando-me assim, um caminhante que se dá ao direito em dizer a si mesmo um grande não, sem medo ou receio em contrarair o senso comum, hoje, tão ávido a padronizações de sucesso, felicidade e um monte de outras enormes bobagens.

Não tenho nada contra quem faz o que quer, mesmo que não meça as consequências. Penso que cada um faz as escolhas que necessita, entretanto, quantos finalizam suas histórias, muitos, de forma precoce, apenas por renderem-se à crença de que ser livre é satisfazer a todos os impulsos e desejos para não frustrar-se? Me desculpe, mas, frustração é ter um pequeno momento de prazer que comprometa toda uma vida, tornando-a um inferno, onde, o sentimento de culpa assume o trono da mente, açoitando sentimentos e emoções, destruindo possibilidades muito maiores e melhores do que apenas a ilusão compulsiva que domina a muitos.

Não quero que ninguém acredite no que eu penso ou escrevo, alías, minha finalidade jamais seria essa, ao contrário, quero que duvidem, que contestem, entretanto, não desejo que as pessoas se arrebentem emocionalmente, pois, sei reconhecer o peso de uma lágrima que escapole das tormentas vividas sem sequer ter o direito a voltar e repousar tranquila no leito da existência.

As fontes de incentivo ao prazer rápido estão, com toda sutileza, assumindo o domínio de uma grande parcela de pessoas, afinal, a alegria proposta pelos comerciais de cerveja e cachaça, com muitas belas bundas de fora, sorrisos e convites sensuais, não correspondem a um grave momento vivido em nosso país, onde, são consumidos em média, segundo a organização mundial de saúde, 24, 4 % de alcool, estando tal índice, 50% acima da média mundial, atingindo a todos, principalmente, adolescentes entre 12 e 18 anos, que, movidos por diversos fatores, ingerem, cada vez mais cedo, grande quantidade de bebidas alcoolicas, sendo, tal substância, em muitos casos, a porta de entrada para outras substâncias psicoativas (drogas), de forma compulsiva e com severas consequências psicosociais. `

O que tenho visto nas ruas não é nada agradável, principalmente quando nos deparamos com crianças completamente desassistidas pelo Estado, jogadas nas calçadas, ou, então, perambulando pelas ruas, nas madrugadas, em busca de mais uma dose para entorpecer a forte sensação de invisibilidade social.

Temos em curso uma geração que, infelizmente, acarretará ao Estado, severas consequências. Expostas cada vez mais cedo aos índices de violência urbana, transtornos psicológicos, psiquiátricos e físicos. Se nada for feito, lotam nossas unidades prisionais, nossos hospitais e tribunais.

Não pensem que estamos falando apenas de um determinado grupo social. Esse grave problema está disseminado em vários grupos, espalhado por toda a sociedade e comprometendo a qualidade de vida tanto dos que consomem, em suas dependências químicas, quanto para as famílias, em suas co-dependências.

Outro dia, ao ver pessoalmente uma criança de seis anos de idade, usuária de crack e cachaça, mais uma vez compreendi o quanto temos a fazer, principalmente, quando não há politicas publicas que implantem programas preventivos nas escolas de ensino fundamental e médio, que adotem instrumentos psicológicos como avaliações de nossas crianças, não para estigmatizá-las, mas, para proporcionar às mesmas a possibilidade quanto a um suporte aos conflitos inerentes as etapas de desenvolvimento, bem como, oficinas de criatividade onde são discutidos vários temas, entre eles, o sentido da liberdade para cada um, e o dos limites, como função que resguarda a própria existência. Assim, se o fizermos, compreenderemos que, se não soubermos proteger nossa liberdade seremos escravos dos piores vícios.

Marcus Fleury é psicólogo e coordenador do Ateliê de Inteligência