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sábado, 23 de julho de 2011

FAMÍLIA: UM TEMPO PARA REPENSAR




Quando um casal opta por uma união, independente do modelo jurídico, religioso, ou de outros valores que não sejam próprios da relação, ele estabelece entre si, pactos que vão se estruturando de acordo com as expectativas e capacidade de negociação, construindo assim, uma identidade, sem anular a singularidade, afinal, compreende-se que, para sobreviver às rotinas e ao enfado que é estar “junto” ao outro todos os dias, tornar-se-á necessário definir as finalidades da liberdade, sendo essa, parâmetro delineador do insubstituível espaço da convivência.

Assim, estabelecerá a responsabilidade em construir uma proposta de unidade, sem, contudo, exigir que o outro se desfaça de sua identidade, pois, se assim o fizer, claro, com o consentimento das partes, fundar-se-á o modelo revelador de uma relação adoecida, tornando-se essa, inevitavelmente, um local imerso no vazio daquilo que, para sobreviver, necessita sempre dos sentimentos de culpa, acusação, punição e intensas doses de tirania, projeções e transferências aos filhos, pais e amigos, tentando, dessa maneira, buscar aliados para estruturar uma ruptura e criar “condições confortáveis” para que as responsabilidades ou, os fracassos emocionais e afetivos, sejam sempre atribuídos a uma das partes do relacionamento.

Quando exigimos do outro aquilo que não somos capazes em suportar ou compreender, encerramos o campo da convivência e, muitas vezes, destituímos a identidade de uma relação, impondo a ela outras identidades, transferências de convivências desestruturadas, as quais reacendemos em nossos relacionamentos todos os conflitos vividos nos casamentos dos pais, e que, inconscientemente, por entre as fissuras da mente, associam-se a fatos vivenciados no presente e, reconstruindo, dessa forma, todo o cenário de traumas daquilo que não é nosso, entretanto, que torna-se, numa herança emocional, algo que nos faz reféns de nossos medos e de nossas culpas não reconhecidas.
Quantos são os que têm dúvidas quanto aos seus papéis no fracasso das relações de seus pais? Quantos são os que não compreendem os motivos pelo qual estão vivendo novamente tudo que o pai ou a mãe passaram? Quantos são os que transformam o campo da convivência no espaço da intolerância, destituindo a relevância das diferenças, sendo essas, um dos pilares de sustentação dos relacionamentos?
Nas famílias em que as singularidades são massacradas, revelar-se-á, com o passar dos dias, um local de extremo adoecimento, sendo esse, o território que possibilitará as depressões, o desencadear de outros tantos transtornos, e, em situações onde, o limar da dor rompe a suportabilidade, o suicídio. Hoje, lamentavelmente, a cada 35 segundos, temos um novo caso; cerca de 3000 pessoas por dia, e ainda há determinadas correntes da saúde mental que desejam ter o controle total sobre aquilo que não conseguem sustentar, criando assim, mecanismos de manipulação, elaborando diagnósticos como acreditam que devem, e, prescrevendo, de acordo com as orientações e acordos feitos a portas fechadas.

O espaço da convivência fundamenta-se e nutri-se da liberdade, consolidando a responsabilidade em fazer daquilo que somos, não os caminhos em rotas de fuga, mas, aspectos fundamentais que promovam critérios próprios para o desenvolvimento do casal, segundo o que cada um traz consigo, promovendo, dessa forma, a construção da relação, cuja identidade será resultante de acordos nutridos de trocas, bem como, da convicção que cada casal promoverá um modelo próprio para si. Aquilo que pode ser bom a uma relação, necessariamente, não garante nenhuma qualidade a outras. Cada uma tem sua dinâmica própria e, isso nos leva a compreensão que, não há receita que possa garantir êxito, ao contrário, ao tentar estabelecer modelos à história própria de cada uma das relações, será mantido, por conveniência, somente aquilo que acabou há muito tempo, onde, em nome de “uma falsa segurança”, anula-se a oportunidade em refazer-se, e aí, em algumas situações, encontra-se justamente o medo da responsabilidade, sempre delegada, não como virtude, mas, repleta de culpa e acusações a alguém que nada mais é, senão, aquele que desfere suas próprias faltas perante a inexistência derivante de seu auto-abandono.

Para consolidarmos o espaço da convivência, necessitamos compreender que, os membros das famílias estão cada dia mais sozinhos. as crianças lançadas ao mundo virtual, aos alimentos rápidos, práticos e pouco saudáveis; estão cada vez mais amedrontadas, afinal, vivem uma época onde vêem vários pais matando seus filhos. Isso é aterrorizante para elas. Certa ocasião, uma criança me disse que tinha muito medo que isso acontecesse a ela, afinal, os pais pediam que não confiasse em quem não conhecesse, porém, completou que seus pais eram seus maiores desconhecidos. Conhecia mais a babá, os professores e demais prestadores de serviços, mas seus pais apenas tinham um contrato de manutenção para com ela. Um acordo quase que social. “Eu os apresento como filhos e em troca dou roupinhas, livrinhos, internet, escola, televisão, fast-food e um bando de coisinhas.
Os adolescentes, cada vez mais imersos a relação tirana das competições e imersos nas cobranças em saírem-se melhores que os outros, pressionados e submetidos aos mais violentos atentados à personalidade, ricos em informações, mas, empobrecidos quanto à construção do conhecimento, quanto ao mundo dos sentimentos e, escravizados pelas emoções nos processos desencadeados pelo campo da conveniência. Estão, cada vez mais cedo, mergulhados em depressões, lançados no conflito solidão e angústia, sem nenhum referencial como náufragos em uma noite escura em alto mar.

Os pais, cada vez mais voltados aos seus trabalhos, mais envoltos às cobranças em apresentarem-se portadores de objetos de consumo caros, mais dados às gratificações materiais, imaginando ser possível sublimar a falta de atenção, de afeto, de interação, e, lamentavelmente, diante do fracasso, sempre buscam culpados por suas próprias ausências, criando a figura do núcleo psicopatológico.

O elo familiar torna-se cada vez mais frágil e as representações construídas são destoantes da importância da representação das figuras paterna ou materna, dos papéis dos filhos e, da compreensão quanto à significativa relevância do campo da convivência, sendo, nesse espaço, minimizados, o desamparo, tão evidente através da reconstrução da família com base no diálogo, na construção da crítica, no reconhecimento das escolhas, e, a responsabilidade pelas conseqüências, bem como, pela promoção e níveis de sustentação interna frente às intempéries e as agruras da existência.

Marcus Antonio Britto de Fleury Junior
Psicólogo e Coordenador do programa de prevenção a depressão e do grupo de estudos Michel Foucault do Ateliê de Inteligência
ateliedeinteligencia@gmail.com

Os sonhos não se rendem aos senhores do nada.



Diante do roteiro do filme “Freud Além da Alma”, escrito por Jean Paul Sartre, sendo esse, uma das maiores expressões do existencialismo, corrente essa que contrapõe a psicanálise, observamos a imensa capacidade que somente pensadores comprometidos, não com seus interesses, mas, com a humanidade, permitindo assim, que a mesma não se limite apenas a um viés doutrinário, filosófico, científico ou recheado de outras tantas “asneiras privadas”, cujas embalagens denominadas de “ética”, muitas vezes, saqueiam em suas estruturações elaboradas nos fundo de pequenos gabinetes de conselhos (coorporativos), as necessidades bio-psico-sociais, obliterando o acesso aos mais novos recursos e descobertas que, sabemos muito bem, comprometem o faturamento de grandes monopólios, tanto de medicações quanto daqueles que interferem na saúde pública mantendo a industria da doença em alta.

Freud, diante do conluio do Circulo Científico de Viena, esse, influenciado pelo todo poderoso à época, Dr. Theodor Meynert, foi completamente rechaçado ao falar da sexualidade infantil, apresentando a teoria do complexo de Édipo. Suas pesquisas sobre histeria foram completamente desprezadas pelo então Professor Meynert, sendo esse, capaz em tom de ameaças veladas falar que Freud não despertasse “o que era o mais oculto do ser humano, aquilo que vivia nas sombras.” O “todo poderoso” do Hospital Geral de Viena, apressava-se sempre em ridicularizar, excluir e perseguir, demitindo Freud, que, na época, descrevia a histeria como presente não apenas às mulheres, sendo tais comportamentos histéricos, para a psiquiatria ortodoxa, um grande absurdo, “uma leviandade”, afinal, eles viam a histeria como uma manifestação de fingimento das mulheres.

Freud, em toda sua dificuldade, assim como os grandes nomes do pensamento e das ciências, não rendeu-se aos senhores do nada, afinal, compreendia que o pouco que faziam de suas idéias e pesquisas, nada mais eram, senão, as noites que por diversos motivos, sendo esses, aparentemente descritos pelo discurso frágil da razão que se desconstruído revelaria outros tantos motivos. Então, deu continuidade aos seus estudos valorizando seus sonhos e considerando-os muito maiores que o pequeno aparente mundo dos pretensos “todos poderosos” que, aliados aos invejosos, pequenos e limitados senhores, encontram abrigo para que possam ancorar seus mais profundos motivos quanto ao desenvolvimento de novas teorias e técnicas.

Meynert, em sua fase final, quando estava para morrer, chamou Freud e disse ter um caso clínico para ele. Freud perguntou-lhe quem era e como resposta obteve: “EU”! Completando disse: “Temi que você nos traísse e fiz tudo para desacreditá-lo. Minha vida foi uma farsa e usei mal meu talento. Escondi a verdade de mim mesmo, suprimi meu Eu verdadeiro; resultado: estou morrendo num estado de orgulho e ignorância. Não sei quem sou. Fui outro produto do orgulho. Quebre o silêncio! Faça o que propôs fazer! Vá, nos traia! Precisamos de um traidor! Vá ao coração da escuridão. Expulse o Dragão, senão faço um pacto com o diabo. Quão esplendido acender sua tocha nas chamas do inferno! Adeus”. Essas foram as últimas palavras de Meynert a Freud.

A psicanálise aí está consolidada com sua teoria, com sua história e com suas contribuições a mais de 150 anos, entretanto, se Freud houvesse aberto mão de suas pesquisas, seus estudos e seus sonhos, o Professor Meynert, o “todo poderoso” do Círculo Científico de Viena, teria conseguido encerrar, juntamente com seus seguidores, pequenos senhores do nada, aquilo que internamente o fazia “encontrar-se com seus demônios, entretanto, sem recursos para acender suas tochas e contemplar sua escuridão”.

Essa semana, mais uma vez, em letras garrafais, pudemos ler a vergonha estampada nas decisões em manter Dr. Áureo Ludovico distante da técnica do Freio-neuro-endócrino; teoria que traz alívio e qualidade de vida para milhares de pessoas e um verdadeiro tormento para as indústrias que fabricam insulina. Além disso, por detrás de tão intensa perseguição, nada mais resta pensar quais os interesses dos senhores detentores da indústria da doença, afinal, assim como Meynert, mobilizam-se utilizando de todos e mais escusos recursos possíveis para interferir naquilo que não apenas não enxergam, entretanto, no que desejam manter para que não sejam descobertos nas intencionalidades encobertas pelo discurso de salvadores da existência e pretensos baluartes da ética.

Assim como Freud e tantos outros grandes nomes que lutaram contra os reacionários de plantão, cujas convicções estão mais em cifras que no contexto teórico, Dr. Áureo Ludovico cada dia mais ganha notoriedade, não apenas da comunidade científica, mas, principalmente, das pessoas que fazem da internet a plataforma para apresentar resultados expostos em qualidade de vida e novas expectativas diante da escuridão, sofrimento e dependência na qual vivem. Portanto, acredito nos sonhos, afinal, todos eles fizeram de seus ideais os grandes motivos para celebrarmos a vitória da persistência sob o tempo limitado da hipocrisia e da farsa.

Filme indicado: “Freud, além da Alma”.
Vídeos Indicados: Dr. Thomaz Szasz (youtube)
Marcus Antonio Britto de Fleury Junior
Psicólogo e coordenador do programa de prevenção a depressão e do Grupo de estudos Michel Foucault do Ateliê de Inteligência

Quem mexeu no queijo deles?




O conluio dos desgraçados forma-se numa rápida operação, visando defender seus próprios interesses, obviamente, sempre alegando estar buscando o melhor para as pessoas, para suas qualidades de vida e para o desenvolvimento científico pleno e empírico. Proferem um discurso prolixo, afinal, necessitam não esclarecer, mas, construir convicções a partir da arte que lhes é muito bem exercida: a manipulação. Então, assim, diante de suas impecáveis apresentações, suas caras de bons moços, pretensos salvadores da pátria e detentores da indústria, não da saúde, mas sim, da doença, afinal, é ela que gera lucros, promovendo a cultura do, quanto pior melhor e, deixam milionários os fabricantes de paleativos que remediam e uma grande parte “dos carimbadores malucos”. A ciência tornou-se abrigo para dissimulados, pois, utilizam-se do discurso da razão para, sobre o mesmo, fazer de suas intenções o sustentáculo da reserva de mercado, protegendo assim, a confraria dos pessimamente mal intencionados, cujos vínculos, sabemos muito bem, numa quase relação “Al caponesca”, transformam possibilidades de qualidade de vida numa eterna romaria aos balcões dos aflitos.

Existem interesses muito maiores que possamos imaginar quanto essa onda de denuncismo ao Dr. Áureo Ludovico. Imaginemos quantos pacientes bem sucedidos ficaram livres das eternas consultas e retornos e das despesas altíssimas com medicamentos.

Tenho vários relatos de pacientes que submeteram-se a técnica que incomoda os interesses de mercado. Em um deles, a paciente submetida à cirurgia dia 12/09/2007, disse que “no dia 03/10/2007, deixou de usar insulina e remédios para o diabetes, alegando também que, hoje, sua pressão é de uma pessoa jovem, encontrando-se muito bem como seu peso e sua saúde”. Segundo essa pessoa, “a descoberta mexe com o interesse dos grandões”.

Então, parece que basta mexer com os interesses econômicos para ser exposto indevidamente de uma forma primária, cruel e perversa, encobertada pelo frágil discurso de uma ética de calças curtas, sendo essa retórica, o caminho encontrado pelos que nada tem a oferecer ao desenvolvimento científico. É o verdadeiro retrocesso, movido pelas decisões das portas fechadas, onde, meia dúzia de esculápios decide o que é bom ou mal, sendo que, ambos, misturam-se aos interesses que melhor lhes convém.

Questionar e determinar a validação das técnicas é algo maravilhoso, principalmente quando observamos que algumas delas, mesmo validadas e aprovadas pelo conluio da tirania, arruinaram milhares de pessoas. Basta que assistamos ao vídeo, não digo esclarecedor, mas, estarrecedor, postado por um internauta no youtube, no endereço: http://www.youtube.com/watch?v=APBE5NJO12k

Seria muito bom e rico que determinados organismos controladores, ou manipuladores, colocassem em discussão a estrutura e reforma psiquiátrica em Goiás, mas, ao que me parece, só querem falar de Dr. Áureo Ludovico, e o fazem com um ódio velado pela farsa da ética. Por que? Quem Mexeu no queijo deles?


Marcus Antonio Britto de Fleury Junior é psicólogo e coordenador do grupoo de prevençao a depressão do ateliê de inteligência

sexta-feira, 15 de julho de 2011


Infâncias seqüestradas. Parte I

Soluções mágicas não existem, aliás, as mesmas, resultaram nos índices que hoje fazem nossa sociedade declarar sua derrota perante os desafios da existência. Então, diante das propostas de mudanças velozes, junto, veio, por outro lado, ofertas cada vez mais nocivas a nossa sociedade, afinal, a ausência de comprometimento com as transformações sociais promoveram o crescimento vertiginoso da violência, do uso e consumo de drogas, da desagregação familiar, do sofrimento e dos elevados casos de suicídio infantil (que são ocultos), da pandemia dos transtornos de humor, principalmente, a depressão.
Aumentou o acesso aos prazeres rápidos e fugazes. Tornaram as crianças, os adolescentes, os pais e a sociedade reféns da tecnologia, pois assim, são mantidos contidos, isoladamente, em suas estações tecnológicas, em seus notebooks, seus Ipods, seus tablets, sem que olhem, vislumbrem e interpretem a realidade existencial, afastando-os, cada vez mais, da proximidade com o real e doutrinando-os a virtualidade, afinal, doutrinas, independente de quais sejam, sempre levaram o homem a um ilusório conforto social, acomodando-o e alienando-o em relação aos interesses de um sistema, cujas pessoas são apenas peças mobilizadas em favor das elites dominadoras.
É inadequada, inútil e completamente demagógica a intenção do Estado em distribuir computadores a seus alunos, sem que esteja definido um projeto pedagógico. Tecnologizar-se sem critérios e objetivos bem definidos, satisfaz apenas as necessidades de um sistema onde, cada qual, é apenas mais um na escala de consumo, e isso, aos olhos da comodidade que o Estado espera, é extremamente confortável aos múltiplos interesses que correspondem as expectativas dos que controlam os meios de produção, pois, quanto mais afastado o homem estiver de suas potencialidades intelectuais, desprovido da capacidade em não apenas pensar, mas, interpretar e analisar os fenômenos sociais, muito mais vulnerável estará em relação a manipulação política, econômica e religiosa.
Então, tais estratégias de adoecimento social começam na escola, tornando nossas crianças, pequenas peças de sórdidos interesses ao serem classificadas como o futuro de uma nação.
Não, elas não são o futuro, mas sim, o presente mais real que existe, pois, se as analisarmos não nos depararemos com dissimulações, mas, infelizmente, com manifestações que expõem a miséria existencial, próprias aos adultos, refletidas em suas falas, olhares, gestos e emoções expressas através de mecanismos transferenciais, onde elas conseguem expor o mundo que são dentro do mundo que vivem.
Nossas crianças estão gritando por socorro em um mundo que não as vê em suas infâncias, mas, que tenta impor contextos que as afastem das expressões próprias das etapas inerentes a essa fase que tanto necessita de suporte para que elas próprias possam estruturar níveis de sustentação interna, cujo sentido será torná-las capazes em enfrentar as vicissitudes da existência.
Crianças apresentam o que são, sem que se preocupem se estão agradando ou não, e é justamente assim que deveriam ser estimuladas em suas vivências, transformando cada evento da vida nas possibilidades quanto à compreensão das adversidades que, no atual contexto, as afligem, as ferem e as tornam elevadamente ansiosas, agressivas, violentas, entristecidas em etapas posteriores, desprovidas de capacidades para poderem transpor os traumas provenientes de um Estado omisso em relação a necessidade de implantação de programas de prevenção a depressão e outros transtornos, desde a mais tenra idade.
Nossas crianças estão gritando por socorro, estão clamando por infâncias que delas são seqüestradas desde o ambiente escolar, até mesmo, nas relações familiares, afinal, hoje exigem que comportem-se como adultos, que tenham capacidade em compreender situações impróprias ao universo infantil, sendo então, subtraídas no tempo para serem crianças e arremessadas e cobradas em relação as responsabilidades próprias a adultos.

Marcus Antonio Britto de Fleury Junior é psicólogo, Coordenador do Programa de Prevenção a Depressão do Ateliê de Inteligência. ateliedeinteligencia@gmail.com

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Hélio Seixo de Britto: A presença que dissipa a temporalidade


Como é simples falar em meu Avô, mesmo diante a figura da mais intensa dignidade que havia estampada em cada um de seus atos, não há nenhuma dificuldade em defini-los, afinal, sua própria história já o faz por si só, não o sepultando junto ao jazigo do esquecimento, mas, a cada dia, por onde passo,ouço suas histórias, não as impressas, mas, aquelas saídas das bocas daqueles que com ele conviveram e pronunciam seu nome com satisfação, amizade e saudade. A intensidade é tanta que, muitas vezes, ao final da fala, é possível observar os olhos dessas pessoas, marejados e, em algumas vezes, contemplar uma lágrima escorrendo, saltando como bailarina que dança solitária e nostálgica num momento em que não mais terá volta.

A saudade de meu amado avô é indefinível, pois, ao manifestar-se, traz consigo lembranças que dissipam a temporalidade, dando vida ao museu das lembranças que visito todos os dias, local esse, onde me assento revivendo como outrora, cada detalhe de sua existência, estando nela, o intenso prazer em viver, afinal, ele fez daquilo que acreditava um assunto de gente grande, mas, com a suavidade de uma criança que acredita resignadamente em cada um de seus sonhos, concretizando-os até o último instante, até em seu último suspiro, tendo a família unida, não somente para si, mas preparada para poder acolher aqueles que necessitassem do mesmo apoio que ele sempre se dispunha diante do encerrar temporário da trajetória humana; sempre fundamentado na frase de Spinoza: “non ridere, non lugere, neque detestari, sed intelligere” (não rir, não lamentar, nem amaldiçoar, mas, compreender).
Quantas foram as pessoas que, naqueles dias 01 e 02 de julho, desmoronaram, requerendo de cada um de nós, familiares, o ombro e o abraço companheiro que somente ele tinha, mas, diante de tal condição, assumíamos, mesmo dilacerados em nossa dor, a postura que compreendemos com seus ensinamentos.

Vovô foi um homem cuja elegância estava acima de quaisquer formalidades, afinal, não era o homem feito pelo que tem, mas, construído pelo que podia oferecer, fazendo-o sempre sem nada pedir em troca, a não ser o esvair das agruras impostas pelos percalços, principalmente, da tirana estrutura de uma economia injusta e cruel que ele sempre condenava em nossas conversas quanto à péssima distribuição de renda.

Era fácil vê-lo observando analiticamente as estruturas constituídas nas frágeis, porém intrínsecas relações de poder, onde, a dependência se estabelece não como a história muitas vezes retrata, mas sim, da forma que está explicita. Não é o menos favorecido que necessita da economia, mas sim, ela, pois, sem as pessoas, os meios de produção seriam improdutivos. As pessoas quando observadas em sua grandiosidade, em sua excelência, possibilitam que desfaçamos da efêmera importância que as coisas tem, então, o Ser existencial torna-se prioridade, estando acima das doutrinas, dos referenciais teóricos e de tantas outras bobagens criadas pelos interesses dos grupos, diminuindo assim, a capacidade da crítica que engessa o homem pós-contemporâneo em um mundinho de cristal, espaço esse, cujo controle encontra-se a disposição de grupos cujos valores e ética apenas os protegem, lançando ao descaso, não do acaso, pois essa besteira apenas existe para os que desejam desculparem-se da falta que fazem às suas próprias histórias.
Lembro-me perfeitamente das histórias do jovem Hélio Seixo de Britto, ao passar, juntamente com Nilse da Silveira, sua colega de Faculdade Nacional de Medicina, para serem residentes no Hospital Nacional de Alienados, no Rio de Janeiro e, como assistente do Professor Henrique Roxo, durante três anos, na época, diretor dessa instituição, ter moradia para poder terminar um de seus sonhos, ser médico, pois, caso não conseguisse a aprovação no hospital acima citado, como ele mesmo contava, em decorrência da grave crise que assolava o país, possivelmente, teria de voltar ao seu estado e à guardiã, a cidade de Goiás, local esse, que guardava por entre a exuberante beleza da Serra Dourada, aquela que o impulsionava em suas buscas, sendo essa, seu maior grande sonho, a linda e jovem Célia Coutinho. Entretanto, ele fazia dos percalços, não obstáculos, mas, grandes motivos para superá-los e vencê-los, sempre estabelecendo suas metas sem nada temer, afinal, compreendia que sua resignação é que faria a grande diferença, levando-o a concretizar o sonho do menino simples da cidade de Goiás, filho do comerciante e da doceira, na história constituída em sua trajetória, cujos passos, jamais pisaram sobre quem quer que seja, mas, que possibilitaram carregar a muitos em seus braços, sempre no momento do apoio e atenção.

Eu sei que ele tranquilamente partiu, até mesmo sem se despedir, justamente pela convicção quanto ao reencontro futuro, onde nos permite o conforto da saudade temporária.

Marcus Antonio Britto de Fleury Junior.
Psicólogo e Coordenador do Ateliê de Inteligência.