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sexta-feira, 8 de abril de 2011

Que educação é essa que estamos construindo? Que possibilidade é essa que estamos produzindo



Muitos são líderes sobre outras pessoas, entretanto, são escravos de suas emoções, tornando-se reféns de seus medos e cativos no cárcere de suas solidões; construindo a si mesmos, o cruel, tirano e destrutivo algoz que, lenta e silenciosamente, destrói-se num rito dilacerador.

O que adianta sorrir quando há apenas motivos para um grande pranto? O que importa ter bons carros quando se está imóvel nos desertos existenciais? O que adianta fazer grandes viagens quando se é incapaz de realizar a mais importante de todas elas, indo para dentro de si, nos territórios da psique? O que adianta ter tanto dinheiro, adquirir todos os bens desejáveis, quando emocionalmente se é miserável; um andarilho nos mais áridos territórios da emoção?

Quando a ausência quanto a qualidade de vida se faz presente, a miséria apresenta-se nos mais suntuosos palácios e a nobreza cai diante da máscara do horror que a maquiagem não mais consegue ocultar.

Estamos frente a um cenário catastrófico, encoberto pelos mais variados mecanismos de negação das dores psicológicas, desencadeadoras dos consumos compulsivos diagnosticados desde os transtornos alimentares, até workahollik que, a todo instante, tenta preencher o vazio existencial, levando o ser humano rumo ao mais profundo caos psíquico, fazendo-o arrastar-se diante de suas maiores ruínas, revelando a incapacidade em superar perdas e circunstâncias traumáticas (resiliência).

Os índices são preocupantes, afinal, segundo a Organização Mundial de Saúde(O.M.S), a depressão se tornará a doença mais comum em todo mundo. Atualmente, 20% dos nossos jovens sofrem de depressão, 50% da população mundial tem ou vai desenvolver algum tipo de transtorno psicológico durante a vida (fobias, estresse,ansiedades,anorexia nervosa,transtorno de conduta entre outros).

Conforme congresso ocorrido na California, cujo tema era: “Como preparar a juventude para o século XXI”, constatou-se, por meio de pesquisas, que, aproximadamente 30% dos jovens americanos não se tornam cidadãos produtivos porque não se sentem bem consigo mesmos, 45% dos jovens brasileiros já sofreram algum tipo de violência dentro das escolas, conforme o Centro Multidisciplinar de Estudos e orientação sobre o Bullying Escolar (CEMEOBES).

Em pesquisa feita em 24 países dos cinco continentes, os jovens brasileiros estão no topo dos mais consumistas, à frente de jovens japoneses, franceses, argentinos e americanos, mas, nem de longe são os mais felizes, conforme mostram os dados sobre a depressão.

Segundo a UNIFESP, 58% dos garotos e garotas de 12 a 14 anos fizeram uso de drogas pelo o menos uma vez na vida e o Instituto Nacional de Políticas do Álcool e Drogas a dependência química aumentou 30% entre homens e 50% entre as mulheres no Brasil em relação a dez anos atrás. O consumo de drogas anorexígenas cresceu 100%.
As doenças psíquicas são responsáveis por cinco das dez principais causas de afastamento do trabalho no Brasil, lideradas pela depressão.

Nesse exato momento, sou avisado que um jovem adentrou uma escola em Realengo, vitimando de morte dezenas de crianças e deixando outras tantas em estado crítico, explicitando assim, da pior maneira possível, a ausência de implantação de políticas preventivas em saúde mental nas escolas brasileiras, principalmente, a nível de ensino fundamental, afinal, atualmente os processos cognitivos são bombardeados por uma prática pedagógica que, nada mais é, senão, uma propaganda enganosa aos pais, que hoje, em virtude da cobrança social, priorizam a educação em relação ao afeto e ao desenvolvimento psicoemocional saudável da criança.

Se na educação forem valorizados apenas os processos cognitvos e desprezadas as bases psicoafetivas, nossas crianças serão adolescentes solitários, elevadamente vulneráveis na adolescência e, posteriormente, adultos acometidos pelos mais severos transtornos psíquicos.

Tenho sido enfático e insistente quanto a necessidade das escolas trabalharem programas que gerem crianças emocionalmente saudáveis, adolescentes seguros e adultos que saibam conhecer suas emoções diante dos focos de tensão, aprimorando as áreas nobres da inteligência para que sejam capazes em interpretar seus comportamentos, reconhecer suas fragilidades e aprender a superar suas perdas, bem como, frustrações. Assim, quando disporem de uma escola que não apenas apresente o mundo que vivem, mas, que as leve a aprimorar o mundo que são, saberão a quem recorrer, tendo a escola, não como um momento chato de suas vidas, mas como um porto seguro e um local onde poderão desenvolver habilidades que desencadearão um processo transformador das relações, não apenas consigo mesmas, mas, quanto ao contexto social e familiar.

Tal trabalho resultará numa sociedade que apresentará mudanças dos índices, hoje alarmantes, pois, incorrerá em impactos sócio-economicos-culturais, permitindo ao Estado, maiores investimentos, afinal, em relação ao mesmo, haverá grande economia, pois, hoje, milhões de reais são investidos na saúde emergencial, com baixos e elevados índices de recorrência, principalmente, em relação a dependência química e segurança pública.

Penso que esse é o momento para que os senhores gestores, bem como, proprietários de escolas não fechem os olhos, como se nada estivesse acontecendo, mas, que todos possam vislumbrar a retomada pela busca de uma sociedade que não seja fonte de especulação eleitoreira, mas sim, um espaço construído pelos cidadãos que cada um de nós gera desde os primeiros dias de suas vidas.

Marcus Antonio Brito de Fleury Junior é Psicólogo, Coordenador do grupo de estudos Michel Foucault e do Programa de Prevenção a Depressão, do Ateliê de Inteligência.
ateliedeinteligencia@gmail.com